Sedução telepática (Parte II)
A FORÇA DA SEDUÇÃO
Pedro Augusto saiu de casa às vinte horas em um carro de passeio que conseguira emprestado, atravessou estrada, avenidas e ruas, pois saíra dessa vez da sua casa, situada em uma cidadezinha aos arredores de Belo Horizonte, e foi ao encontro de Adriana para realizar o programa que ficou combinado após o reencontro dos dois à frente da casa dos pais da moça em uma tarde do início da semana.
– Boa noite, linda mulher! Quero que sejam momentos muito agradáveis para você!
– Muito gentil, você, Pedro! Eu desejo o mesmo para você!
Assim começou o programa, com Pedro abrindo a porta que dá entrada para o banco de passageiro do veículo, ela, maravilhosamente trajada e perfumada, entrando e sentando no local oferecido pelo galanteador com a palma da mão esquerda virada para cima e um sorriso esperançoso nos lábios e olhos. Logo eles estavam em um restaurante de luxo na zona Sul da metrópole, aguardando a volta do garçom com a garrafa e taças de vinho que pediram.
O clima estava estrategicamente romantizado. Pedro aproveitava para testar todas as lições que adquiriu em um curso de sedução para vendedores e verificava que valeram as lições. Ele lembrou dos três "sim" consecutivos que se atingidos garantem que a pessoa abordada vá compactuar com tudo que for proposto pela pessoa que emprega a hipnose. Assim ficaria mais fácil ter uma conversa e eliminaria qualquer chance de ataques de nervos ou de timidez por parte dele ou, então, cair no marasmo do silêncio por falta de assunto por parte de ambos.
A intuição de ambos estava amplamente desflorada. Um contaminou o outro a desenvolver a sua. O que contaminou foi Pedro, que bem antes de sair de casa se preparou para seduzir hipnoticamente fazendo exercícios de visualização, de configuração da própria imagem ao espelho com luz de vela, respiratórios. Até neuróbica entrou na jogada.
O negócio era não contar apenas com uma boa aparência, um bom perfume e o fato de estar a dirigir um automóvel ou a levar a moça em um lugar incrível para o acompanhar. Essas coisas são esquecidas porque são vividas minuto a minuto e vão se fixar na memória apenas para recordação do prazer proporcionado se existiu, não criam laço emocional de forma a estabelecer uma importância indispensável ou uma necessidade do outro. Qualquer homem pode agir se vestindo, se perfumando ou usando de acessórios para conquistar uma mulher e quem sabe levá-la ao delírio, mas criar uma associação a si na mente dela, criar uma dependência de si como um vício de heroína no corpo dela, para isso já é preciso mais coisas. E é isso que Pedro quer com a moça que o acompanha.
Pronunciaram juntos suas palavras quebra-gelo para começar o bate-papo, mas Adriana ganhou a vez com um gesto feito com a palma da mão em forma de condução associada a um sorriso de ternura que seu acompanhante lhe ofereceu e falou qualquer coisa que estivesse a pensar.
– O que você fez todos esses anos, Pedro?
– Bem, eu me formei analista de sistemas e fui trabalhar em Goiás. Não deu para enriquecer e agora estou prestes a ir para Ilhéus na Bahia, participei de uma espécie de concurso, um processo seletivo à distância.
– Nossa... quer dizer que já vai me deixar?
Adriana disse essas palavras automaticamente, sem raciocinar. São só quinze minutos de conversa e olhares fixos no restaurante, talvez quarenta minutos da viagem de carro ao lado do rapaz ao volante e pouco mais de uma hora de uma tarde ensolarada a duração do reencontro deles e ela fala como se já estivessem mantendo um compromisso inabalável. Sinal melhor de alma cativa não há, mas Pedro preocupou-se foi com o que ela chamara atenção: um acontecimento forte, ultramagnético entre eles na noite que degustavam poderia lhe cancelar a oportunidade imperdível de emprego ou lhe fazer agir como um cafajeste irresponsável que seduz garotas, escraviza a mente delas e depois vai embora. A escolha era dele e deveria ser decidida no momento em que o que vivia acontecia e sem ajuda de software de tomada de decisão.
– Isso está perto de acontecer!
– Você mudou seu semblante, parece confuso!
– A vida da gente não é um software que tem todos os acontecimentos escritos em si e que não podem variar. E nem o cérebro da gente tem tanta capacidade de raciocínio. Nossa memória até que armazena bastante, mas... olha como funciona...
Pedro esqueceu que não estava em uma conversa de elevador com uma equipe de desenvolvedores de sistema e o chefe.
– Eu não me importo!
– Não se importa de eu ter só me lembrado agora?
– Não me importo se isso durar só até você partir!
– Você poderia vir comigo se eu for mesmo!
– Não é tão simples, tenho um filho!
– Devemos só conversar e não viver mais do que isso?
– Não é mais possível!
E eles não se resistiram e caíram aos beijos em pleno ambiente público. Pedro e Adriana nem gostam de fazer isso aos olhos de qualquer um. Nem o ambiente, luxuoso e comportado, permite as manifestações mais bruscas de amor, embora ofereça bastante condição para que beijos entre casais aconteçam. Logo logo o garçom foi alertar e providenciar a recomposição da dupla.
E dali foram para um motel indo mais para o Sul. Irresponsabilidade mesmo seria se eles não se curtissem, ora, afinal, quando há um magnetismo impulsionando, causando comichão no corpo todo, é sobre-humano resistir e a aflição não é melhor do que o arrependimento. Pedro foi usar magia e viu que não se deve estabelecer para si com tanta disciplina o compromisso de realizar algo, pois, certamente esse algo será realizado. Para que uma coisa se materialize, principalmente eventos, só é preciso que alguém a imagine e a queira materializar.