Maleável Traição

Paris, 1969

Claire penteava seu longo cabelo em frente á penteadeira, enquanto observava como ela era bonita, seu cabelo ruivo davam um ótimo contraste a sua pele branca, feito neve que caia lá fora, seus olhos azuis davam um ótimo acabamento a seu olhar forte, seu nariz levemente empinado era uma sinfonia perfeita ao restante de seu rosto que junto combinavam com seu corpo magro, porém de seios fartos. Ela herdou essa beleza única de sua mãe, Mabelle que por vez tinha apenas trinta e nove anos.

Claire esperava seu noivo Hector que estava prestes a se casar, era sua oportunidade de salvar ela e sua mãe da pobreza, já que seu pai havia morrido quando ainda bebe de uma febre desconhecida, deixando uma razoável herança para ela e sua mãe, mas que ao longo dos anos foi se esgotando. A morte de seu pai sempre foi um mistério para ela, já que sua mãe evitava falar sobre o assunto. Mabelle ficou viúva cedo, desde então nunca mais arrumou outro homem para compartilhar sua vida. Claire estava muito satisfeita com seu casamento, embora se casasse com Hector pelo seu dinheiro, ela o amava de corpo e alma.

Claire sempre foi uma mulher sedutora, tudo o que ela desejava ela conseguia através de sua beleza. Já havia se deitado com inúmeros homens, todos da alta sociedade francesa, porém tudo era encoberto pelo sigilo de uma sociedade austera. Apesar de não ser mais moça, conseguiu seduzir Hector pela sua beleza e encanto. Com vinte e um anos, já era hora dela se firmar em um relacionamento mais sério. Embora a família de seu noivo no começo fosse contra o casamento, pelo fato de Claire não ser uma mulher de família tradicional francesa. Todos hoje estavam satisfeitos e alegres, Claire já havia seduzido todos de sua família que hoje caia o riso quando á encontrava.

Claire havia preparado um pequeno jantar para seu noivo, ela queria aproveitar aquela noite fria e densa, já que sua mãe teria partido de viagem para visitar uma tia sua que estava muito doente.

Ela vestiu seu mais belo vestido, um vestido vinho de veludo que descia até o final de seus pés, suas mangas curtas deixavam á mostra seus braços brancos e finos. Por hora pensou que o vestido era muito recatado por apenas deixar levemente seu colo amostra, mas depois de algumas taças de vinho o vestido seria apenas uma peça fácil de tirar.

A campainha toca, ela olha no espelho pela última vez, uma leve ajeitada em seus cabelos e desde ligeiramente as escadas de sua enorme casa ao qual ela e sua mãe viveram toda á vida sozinhas.

Um abraço, um pequeno beijo, Hector entra. Claire enche os olhos ao vê-lo. Sinceramente era o homem mais bonito e mais intenso que ela havia se relacionado.

Hector era um homem de físico forte, e com tantas camadas de roupas parecia dobrar de tamanho, foi tirando alguns casacos logo estava livre de tanto volume.

- Que frio que faz lá fora, mais um minuto e eu congelaria, diante de sua demora a atender a porta!

Claire não percebeu o tom de irritação que seu noivo falava, o abraçou e com um beijo e um leve aperto entre suas pernas, sussurrou em seu ouvido.

- Se você congelasse, eu o aqueceria com meu amor.

Ele deu um leve sorriso, e como Claire amava aquele sorriso, um sorriso torto sem qualquer naturalidade, mas que fazia ela se derreter.

Ele puxou de dentro de um de seu cassaco uma garrafa de vinho, estendendo para sua noiva.

- É da melhor safra. Hoje é dia de comemoração!

Claire olhou curiosa, não tinha em mente o que aquela data teria em especial para os dois.

-Comemorar? O que iremos comemorar hoje?

Ele esquivou seus lindos olhos verdes ao encontro de Claire, observando pela janela á neve cair, sua mente parecia longe, com um tom sério e um longo suspiro, ele quase cochichou.

- Vamos jantar, quando for o momento eu lhe explicarei.

Claire não entendia o mistério que seu noivo a reservava, mas não queria estragar aquela noite com perguntas que poderiam deixar- ló irritado. Ela pegou nas enormes mãos de seu noivo e o conduziu passando por um longo corredor, até chegar até a grande sala de jantar.

- Preparei seu prato favorito. Carneiro! E pelo o que percebo adivinhei, já que hoje é um dia de comemoração!

Ela se sentia uma criança, perto de Hector, nunca havia se apaixonado tão intensamente por um homem.

- Ótimo meu amor... Carneiro, um belo vinho e você! O que mais eu poderia querer nesta noite?!

Claire sorria, estava boba, mesmo sendo uma mulher experiente isso não á impedia de ficar de pernas arriadas diante dos cortejos de seu noivo.

Enquanto ela servia o jantar, percebeu a inquietação de Hector, de pé em frente a grande janela que ficava na lateral da sala, ele observava lá fora.

-O que está havendo com você? Parece-me um tanto preocupado?

Claire não queria ser inconveniente, sabia o quanto ele se irritava ao ser questionado sobre sua vida, ele era um homem que escondia alguns segredos, ela havia notado isso, mas ela não poderia o questionar, porque ela sabia que seu passado era cheio de segredos, e assim como ele não queria que alguém ficasse questionado o que se passava em sua vida.

Claire foi até a cozinha intrigada na forma estranha que seu noivo se encontrava por hoje, pegou duas taças, e se espantou ao ver o óculo de sua mãe sobre a pia. “Que estranho! Mamãe viajar sem seus óculos”.

Claire servia o jantar, enquanto Hector calado permaneceu, ficou apenas á observar um quadro de sua mãe no alto da parede da sala de jantar. Olhando fixamente para o quadro, com um leve sorriso no rosto ele mal piscava os olhos.

-Ela se parece muito com você, Claire!

Ela por um instante olhou para o quadro de sua mãe. Observava como ela era bonita, apesar de ser mãe tinha a beleza de uma moça, seus cabelos ruivos caídos sobre seus ombros deixava seu rosto leve, seu olhar forte e sua boca rosada tornava seu rosto uma pintura hipnotizante.

Claire serviu o jantar, e ainda continuava inquieta pelo modo que seu ele se encontrava, sempre muito falante, essa noite ele continuava calado.

Hector serviu o vinho. Sua noiva estava faminta, enquanto comia o carneiro, dava pequenos goles no vinho, um vinho seco, sem nenhuma doçura, mal descia por sua garganta.

O frio lá fora, teria congelado o coração de seu noivo? Claire o observava enquanto comia, ele revirando a comida com o garfo, mal tinha comido e não havia bebido nem uma gota daquele vinho.

- Claire. Existe algo que preciso lhe contar.

O carneiro desceu rasgando pela garganta, Claire olhou preocupada, deu um gole no vinho.

- O que houve Hector? Desde sua chegada percebo o seu inquietamento.

Ele olhava friamente para ela, seu olhar atravessava o dela.

- Claire por muito tempo eu lhe amei, mesmo com alguns boatos sobre sua reputação, mesmo com meus pais no começo de nosso noivado sendo contra, mesmo assim eu lhe amei! Sempre lutei pela nossa felicidade, e para que ficássemos juntos!

Claire não entendia onde seu noivo queria chegar, o interrompeu atropelando as palavras.

- Hector... Eu.. Eu... Não entendo aonde você quer chegar? O que está havendo?

Ele colocou as suas mãos sobre a sua cabeça e em um suspiro vomitou todo seu segredo.

- Eu amo outra mulher! E não poderei me casar com você!

Claire pulou da cadeira, aquelas palavras esbofetearam seu rosto. Seus olhos cheios de lágrimas revelaram uma mulher furiosa.

- AMA OUTRA MULHER? COMO PODE SER TÃO CAFAJESTE! ESSA ERA A SURPRESA QUE TANTO ME GUARDAVA?

Hector sentado ainda á mesa, não esboçou qualquer reação.

- Claire, eu me apaixonei por essa mulher, assim como me apaixonei por você! Sem motivos, sem interesses, simplesmente aconteceu. Não foi uma ESCOLHA, simplesmente aconteceu!

Claire sentia uma leve tontura, cada palavra que seu noivo cuspia, lhe atingia ferozmente.

A discussão foi interrompida pela á porta da sala que se abria lentamente.

Entre as lágrimas e a leve tontura que Claire sentia, ela fixou o olhar diante á porta, começou a ver nitidamente uma silhueta. Aquele rosto era familiar, aqueles cabelos...

- Mamãe? – Claire tentou ir de encontro a sua mãe, e chorar em seus braços, mas estava muito tonta para se quer dar algum passo á frente.

Mabelle foi caminhando lentamente em direção a Hector. Claire ainda atordoada não entendia o que estava se passando.

Mabelle chegou por trás de Hector, entrelaçou suas mãos sobre ele, e levemente beijou sua testa.

Claire segurava-se em uma cadeira, sua cabeça estava rodando, cada vez mais aquela sala ia se estreitando.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO POR AQUI? MAMÃE VOCÊ NÃO HAVIA VIAJADO?

Mabelle caminhou até sua filha, sem dar uma palavra ajeitou seus cabelos como de costume, se inclinou levemente e beijou sua testa.

- Calma, minha filha. Tudo ficará bem, não se preocupe. Mamãe está aqui.

Claire estava atordoada, sua tontura aumentava a cada instante, sentia uma falta de ar em seu peito, seu coração estava acelerado, há qualquer momento saltaria de sua boca.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

Levando a mão a sua boca para não vomitar, ela se apoiou sobre a mesa deixando algumas louças caírem.

Hector se levantou da mesa, caminhou em direção a sua sogra, passou um braço entre seu pescoço e á trouxe para perto de si.

- Claire, eu estou apaixonado... Por sua MÃE!

Por um instante Claire pensou que estava em um pesadelo, mas sua ânsia de vomito deixou bem claro que aquela cena que presenciava era uma dura realidade.

Sua mãe não esbanjava qualquer emoção, apenas observava o desespero de sua filha.

-Minha princesa, eu e Hector estamos apaixonados, ele não lhe ama mais, a vida é assim! Algumas vezes ganhamos, outras perdemos!

Claire não segurava suas lágrimas, não conseguia imaginar seu noivo e sua mãe juntos, compartilhando o mesmo amor.

- COMO VOCÊ PODE FAZER ISTO COMIGO MAMÃE? COMO PODE SE APAIXONAR PELO MEU NOIVO?

Mabelle abraçou sua filha, enquanto sua respiração ficava cada vez mais difícil.

- Minha princesa. Não escolhemos a quem amamos... Simplesmente amamos. Eu e Hector nos apaixonamos e ficaremos juntos para sempre. Mais para que isso aconteça você terá que sair de nosso caminho.

Ligeiramente Claire escapa dos abraços de sua mãe, só poderia ser um pesadelo. “Sair de nosso caminho”. Aquelas palavras martelavam em sua mente,” sair?”. De que maneira?!

Claire perdida olhou fixamente para o vinho que se noivo havia á presenteada. Mas é claro!

Em um gesto de desespero ela pegou a garrafa de vinho e o atirou na parede, fazendo uma enorme mancha na sala de jantar.

- VOCÊS ME ENVENENARAM? COMO PUDERAM FAZER ISSO COMIGO? MAMÃE, EU SOU SUA FILHA!

Estava ficando cada vez mais difícil para ela manter sua consciência, tudo naquela sala estava a pairar. Claire tentou correr, mas foi impedida pelo corpo de Hector que tapava toda a porta.

Mabelle aproximou-se de Claire, lhe abraçou, pode sentir os batimentos de sua filha aumentarem, alisou seus cabelos enquanto Claire ia caindo lentamente, agora mãe e filha estavam abraçadas no chão.

- Você terá apenas uma pequena febre filha, não se preocupe... Nada de dor, nada de sofrimento, assim como foi com seu pai. A voz de sua mãe ficava cada vez mais longe, cada vez mais longe...

Claire lutava fortemente para respirar, olhava para sua mãe com desespero, parecia pedir ajuda, enquanto Mabelle cantava uma canção que sempre cantava quando Claire era criança, e ficava com medo do “bicho papão”. Embora a única ameaça que a rondava era sua própria mãe.

Sua pele branca agora estava sem vitalidade, seus olhos entre abertos não expressava qualquer vestígio de vida, seu corpo estava rígido pelo veneno que em suas veias correram, Claire caída no chão, com seu melhor vestido e morta por dois amantes.

Hector se aproximou de Mabelle á levantou do chão, abraçou carinhosamente, com um beijo longo e ardente isso á convenceu da escolha certa que fez.

- Agora podemos ser livres, meu amor.

Mabelle suspirou, olhou para o corpo de sua filha caído no chão naquela sala. Ela ainda continuava tão bonita.

- Agora sim... Livres!

Dentro daquela sala dois amantes se amavam em cima de uma mesa de jantar, se entrelaçando ardentemente, um aquecendo o outro, os gemidos de prazer se misturavam com as badaladas do relógio que marcava dez horas. O corpo da bela jovem repousava sobre o chão gelado, morta por dois cúmplices. Claire provou do arriscado amor e dá maleável traição.

Aa Rodrigo Lima Vicent
Enviado por Aa Rodrigo Lima Vicent em 13/03/2014
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