Das desventuras de ser amante.
Era o último dia de verão. A última vez em que fizeram amor.
Com um sorriso indecente nos lábios, passou a mão sobre os cabelos curtos despenteando-os por completo. Calçou os sapatos e ajustou o laço do vestido. Procurava não pensar muito. Sobre o quanto foi bom ou o quanto desejava vê-lo novamente. Naquele fim de tarde ela havia decido que não se veriam mais. Contra a vontade dele ela deu fim àquele romance de quase cinco anos. Não se lamentava, tampouco achara perda de tempo ou de vida. Foram bons os momentos ao lado dele. Viveu aquele amor até seu ápice. Mas o fato dele ter voltado para a ex, passara a incomodar. Como toda amante ela sonhava com o dia em que cuidaria dele em todos os aspectos e sentidos. Ela sabia que não era falta de amor. Afinal, ele não fingiria amá-la por tanto tempo. E se ele quisesse poderia ter outras. Mas não teve.
Sua decisão ocorreu no dia anterior ao encontro. Quando só, esperava na cama o sono chegar. Quando recebeu mais um convite de casamento. Todas as suas amigas haviam se casado. E o convite que acabara de chegar era de sua irmã caçula. Pela primeira vez na vida pensara detalhadamente sobre sua velhice, sobre o quanto seria bom ter alguém ao seu lado para assistir um filme ou para esquentar sua “costela” nos dias de inverno.
Ele não entendera sua decisão. Talvez, porque não durma sozinho.
Apesar de amá-lo loucamente, ela sentia a necessidade de acordar ao lado de alguém todos os dias. De ter aquelas briguinhas de casal, tirar a toalha molhada de cima da cama, levantar cedo para passar o café, reclamações que costumava ouvir todos os dias das suas colegas de trabalho, mas que ela desejava ardentemente que fizesse parte da sua vida.
E ele não poderia lhe dar isso.
E se ela não se despedisse dele naquele momento estaria anulando todas as oportunidades de conhecer alguém que quisesse dividir seus dias.
Não poderia ir embora e sumir de uma hora pra outra. Sabia que precisava despedir-se dele e de tudo o que foi bom.
Diante do espelho, retocou a maquiagem, abriu a porta e percebeu que não era fácil abrir mão de alguém, mas a vida a esperava repleta de novas oportunidades. Aquela foi a primeira vez que ela sorriu a liberdade de desejar viver um romance de verdade.