Um Amor de Palhaço

Sem o sorriso maquiado, o nariz vermelho e a bela pintura em seu rosto o palhaço Castrinho não é tão feliz, pois ele ainda lembra de sua amada, na verdade não sua, pois esta nunca quis o amor do jovem palhaço. Olivia. Este era o nome da donzela que o novato palhaço da companhia Imortais do Riso amava, mas, ao lhe declarar seus sentimentos ouviu o que não queria, que ela não o queria, e disse mais:

"-Jamais abandonaria a cidade pra sair por aí, sem destino, não, isso não! Ninguém vive de alegria, Castrinho! Isso é uma ilusão".

Estas foram as últimas palavras de Olivia ao, desde então, amargo palhaço.

"-Castrinho, o palhaço sempre tem que sorrir", dizia seu Hélio, dono do circo, antes do número de Castrinho naquela noite gelada de inverno, em Campos Goytacazes, Rio de Janeiro. Já se passara mais de 15 anos desde que o palhaço teve que aceitar a companhia da solidão, ele nunca amou desde então.

"-Sim, seu Hélio, hoje a noite será de felicidade, meu sorriso será eternizado", disse o palhaço enquanto se maquiava para mais um espetáculo. Castrinho preparou um show diferente naquela noite, estava decidido a superar a dor do abandono fincada em seu peito, tal qual uma flecha que acerta o alvo.

Mais um show da companhia Imortais do Riso iniciou no circo. A multidão gargalhava, era possível ouvir nos bastidores, em um dos camarins, onde estava Castrinho. Estava chegando a hora do palhaço fazer o seu número, que, especialmente naquela noite, tinha uma grande surpresa reservada, pois o até ali desiludido palhaço, há mais de uma década, estava disposto a manter o seu sorriso mesmo após o show, desejava por um fim naquela angústia que lhe martirizava, e o circo, sim "-este é o melhor lugar para isso", disse Castrinho enquanto fazia o sinal da cruz enquanto era anunciado ao público.

O palhaço entrou em cena. Contou piadas, simulou quedas, brigas, desafiou valentes e subiu ao picadeiro, iniciando o seu número, balançando nas alturas para lá e para cá.Lançou-se lá do alto, e a multidão, com frio na barriga, aguardava o momento de aplaudi-lo quando este caísse na rede que aguardava o palhaço abaixo do picadeiro. Porém, especialmente naquela noite, Castrinho não montou rede alguma, o palhaço assim o quis, decidiu se chocar com chão para sentir a maciez da eternidade. E assim o fez. No dia 04 de março de 2014 deu no jornal local:

“PALHAÇO CASTRINHO TIRA A PRÓPRIA VIDA”...

Não sábia o caro jornalista que, na verdade, o palhaço sorridente por fora já havia morrido por dentro a 15 (quinze) anos atrás.

Lui Jota
Enviado por Lui Jota em 04/03/2014
Reeditado em 09/03/2014
Código do texto: T4715450
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