SEM PALAVRAS

Eles apenas decidiram deixar de se ver, afastando-se aos poucos e abrindo mão daquele sentimento. E quando perceberam já estavam longe, longe demais para voltar. O emprego de Laura ocupava-lhe demasiadamente e havia surgido uma grande oportunidade de ocupar o cargo tão sonhado, mas teria que ir para longe, para a outra filial que ficava distante dali, longe do seu amor. Mas Caio já não a procurava mais e quando se encontravam em algum lugar, comportavam-se como estranhos e desviavam o olhar. Não demorou muito e Laura foi transferida e Caio nem sequer apareceu no dia da despedida deixando Laura decepcionada.

Quinze longos anos se passaram. Quinze anos de saudades. Laura havia construído um império, era agora dona de uma conceituada rede de hotéis. Tinha um belo apartamento no centro de São Paulo. Apesar de tudo, faltava-lhe algo. O amor que sentia por Caio fora cruel principalmente à noite quando uma saudade devastadora invadia-lhe a alma e não havia nada, dinheiro algum que pudesse apagar o que ela sentia. Durante todo este tempo ela interessou-se por outros homens, mas não conseguira deixar de amar Caio.

Foi então que ela decidiu voltar. Mas ela sentiu medo de ver que ao contrário dela, ele levara a vida adiante. Teve medo de que ele a tivesse esquecido.

Durante horas de viagem, enfim Laura regressou à pequena cidade no interior do Rio de Janeiro. Que estava muito mais bela e radiante. Apesar do tempo, Laura lembrou-se do caminho. Já era noite quando estacionou a picape em frente a uma pousada, na qual já havia reservado uma suíte.

Agora só lhe restava reencontrar Caio. Olhar em seus olhos e dizer o quanto a saudade lhe castigara esse tempo todo, o quanto a saudade insistia para fazê-la ver que durante esses longos vinte anos Laura não conseguira amar ninguém, a não ser Caio.

A noite passou e a jovem senhora de trinta e cinco anos simplesmente não conseguira adormecer. Passara a noite inteira imaginando,sonhando, recitando declarações de amor, mas palavra alguma conseguia definir o que sentia. Na verdade não sabia o que dizer. E se ele estiver casado? Como ele reagiria ao vê-la. Será que Caio ainda pensava em Laura? Será que ao menos se lembrava de vez em quando dela?

Laura indagou-se tanto que, por pouco não voltou atrás da sua decisão.

O dia estava nublado. Mas Laura já estava pronta para reencontrar Caio. Ele ainda morava no mesmo local. Era o que Dália, sua amiga de infância havia dito. Durante todos esses anos Laura mantivera contato com ela. Mas a moça só ia à cidade em épocas festivas, por isso não tinha mais informações sobre Caio. Vestida de coragem Laura entrou na picape e seguiu pela pequena estrada de terra. Chegando a uma porteira a moça agora se pôs a caminhar. Tirou dos pés a sandálias que praticamente perfuravam a grama. Sentiu a grama levemente umedecida pelo sereno. Avistou ao longe uma casa. Sim era ali mesmo! Com certeza alguém lhe daria alguma informação! A densa neblina tirava um pouco da visibilidade, mas pode observar que havia iluminação no interior da casa. Um estampido fez com Laura ficasse paralisada.

- Fique onde está! – Um homem saiu da casa e começou a caminhar em sua direção com uma espingarda em punhos.

Laura tremia. Estava apavorada. “Meu Deus... será que errei o caminho?”, perguntava-se a moça. Ele se aproximava cada vez mais dela. Ela pensou em correr, mas para onde? Estava ali sozinha.

Quando percebeu que se tratava de uma mulher, abaixou a arma... Quando percebeu que era ela... Que era Laura, depositou a velha espingarda ao chão e se aproximou mais.

Era ele. Laura o reconhecera apesar dos cabelos grisalhos. E tudo o que havia planejado dizer, simplesmente desaparecera, as palavras antes soltas, encontravam-se aprisionadas na garganta. Laura tinha certeza, era Caio!

Caio aguardava ansiosamente aquele momento para ter Laura novamente em seus braços e dizer o quanto temia por não vê-la nunca mais. Que ele abrira mão daquele amor, por ela, pois sabia o quanto a promoção no emprego era importante para ela, e que ele não tinha o direito de pedir para que ficasse com ele. Mas tudo aquilo que durante anos planejara dizer a ela simplesmente desaparecera.

Não houve palavras... Não naquele momento, somente o silêncio do olhar e o pulsar dos corações. Até que Caio a pegou em seus braços e a beijou... E beijou todas as saudades que ambos sentiram, uma a uma.

Naquela noite eles somente se amaram como se pudessem apagar todos aqueles anos... E eles apagaram todos aqueles anos com aquele instante em que se entreolharam... Apagaram com aquele amor que sobreviveu à distância.

Alessandra Benete
Enviado por Alessandra Benete em 17/02/2014
Código do texto: T4695206
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