O REINO DO MANJERICÃO E O BATISMO
Existe uma Ilha chamada Amor localizada às margens de duas belas Baías: São José e São Marcos, que desembocam nos Mares do Oceano Atlântico através de uma “Grande Boca”. Na Ilha também existe uma suntuosa Igreja e uma praça, onde fica uma Mulher sentada no meio de uma Fonte oferecendo água para realização do Batismo daqueles que buscam a transformação cristã.
E foi num recente oito de dezembro que nasceram duas lindas meninas: gêmeas cariocas quase idênticas e proprietárias de uns olhos tão lindos, que nos deixam estáticos diante de tanto verde que existe naqueles olhares meigos, singelos, harmônicos e sinceros.
Uma delas é mais sapeca; a outra mais observadora. As duas formam um doce de tanta meiguice. São brincalhonas como o Avô; delicadas como a Avó; simpáticas como a Mãe; sorridentes como o Pai.
Pois bem, as meninas gêmeas um dia passeando pela praça, cada qual com sua boneca no colo, pediram água, pois queriam receber o Batismo. A Mulher, dona da Fonte então exclamou: - Entrego-lhes a água e vocês devem entrar na Igreja para marcar o Batizado. E assim procederam as belas e ariscas garotas.
Ao adentrarem na bela Catedral com ares do Barroco e uma pintura escândalo no teto, logo avistaram o Sacristão obediente e então expuseram o motivo de estarem ali. O Sacristão logo informou que as meninas dos olhos reluzentes precisariam de Padrinhos para o Batismo, sem os quais não poderiam receber o Sacramento.
As meninas então desceram correndo por uma Beira Mar, cruzaram uma Ponte e chegaram numa Lagoa, onde existe um Portal revestido das cores: amarelo, marrom, branco e preto. Entraram no Portal e lá encontraram as pessoas que gostariam que fossem seus padrinhos de Batismo: dois rapazes que há muitos anos habitam no 3º andar daquele Portal e vivem numa união que muitos gostariam de viver: em paz com suas respectivas famílias, com seus amigos, adoram a Mãe Natureza, viagem e ainda são leitores de Poesia. Tanto que as duas foram recebidas com três exclamações poéticas, num sinal de que os futuros Padrinhos já sabiam o que a lindas princesas gêmeas queriam: “ - Adentrem meninas lindas: nossas afilhadas! Nossas filhas abençoadas! Sejam bem vindas neste nosso lar!
Então expuseram o motivo de sua visita repentina e logo todos se arrumaram para o Batismo na Catedral. Os padrinhos preparam-se com vestes nas cores: branca, vermelha, azul e verde, as preferidas da mãe de Jesus.
Assim voltaram correndo pela Ponte que dá acesso à Fonte e à Igreja onde seria realizado o Batismo.
Tamanha foi a decepção quando chegaram na porta da catedral: todos estavam numa roda para começar o Batismo. Mas o Padre, de forma rude e preconceituosa, gritou: - na minha Igreja dois homens não podem ser padrinhos; é preciso um casal. E as meninas falaram em coro: - Seu padre nossos padrinhos formam um casal e há mais de uma década vivem felizes, são bons filhos, fiéis amigos e excelentes Padrinhos; nós lhes amamos e eles também nos amam. Irão cuidar da gente se um dia for preciso.
De nada adiantou! Afilhadas e Padrinhos saíram e voltaram à Fonte entristecidos, decepcionados e sem nenhuma outa alternativa. A Mulher da Fonte então, com dó das meninas e dos Padrinhos lhes ofereceu mais água, muita água! E informou que naquela Igreja existia um Padre Negro e muito bonzinho que sabia de um lugar onde o Batismo poderia acontecer.
Tudo verdade! O Padre Negro que conhecia os avós das meninas, os padrinhos e outras pessoas da família informou que naqueles dias teria sido eleito um novo Papa que permitiria batizados fora daquela Igreja: O Reino do Manjericão. O Padre Negro, o “Mestre dos Magos”, ordenou então que voltassem pela Ponte do Rio Anil de olhos fechados e que abrissem bem as narinas, pois encontrariam o Reino apenas pelo “atrativo cheiro”.
Os Padrinhos então, cada um com uma das meninas no colo, saíram numa desfilada pela Ponte e guiados pelo bom cheiro. De repente, inebriados pelo excelente aroma daquele Reino, abriram os olhos e tão grande foi a alegria com toda aquele acolhimento natural, uma Beleza...
Assim que chegaram ao Reino Cheiroso, foram recepcionados por todos: O Elefante, com seu nariz compridão, veio cheirar todo mundo e logo se agachou para que Padrinhos e Afilhadas subissem em suas costas. Todos subiram e começaram a passear e conhecer o Belo Reino num desfile em grande estilo: À meu amigo estilista, Cacau de Aquino.
O desfile seguiu ao som da cantoria dos pássaros e um canto maior diferenciava-se de todos: “- bem te vi, grande kiskadi, bem te vi, grande kiskadi”: a Orquestra Sinfônica formada por Bem-Te-Vis (brasileiros e portugueses de Lisboa) e contratada pelo Rei Manjericão para homenagear o Batismo das duas meninas meigas, brincalhonas, sonhadoras: poéticas.
No passeio, receberam cumprimentos de Dona Malva Rosa e de sua companheira Erva-Cidreira. As duas ofereceram-se na performance de Chá, pois era preciso o estômago proteger e alma aquecer.
A Rainha Helena, amiga convidada para a celebração, surgiu como nuvem numas vestes de seda branca parisiense, modelo assinado pelo grande e competente estilista do Reino: Cacau di Aquino, que num “truque” rápido ofereceu aos Padrinhos e Afilhadas “modelitos” de retalhos de “pano”; costurados por duas excelentes costureiras daquele Reino: Isabel e Benedita, que ainda perfumaram com Alfazema, Jasmim e Lavanda.
Seu Pé de Comigo Ninguém Pode, parente próximo do Padre Negro que indicou o Reino Batismal, benzeu a todos, protegeu e livrou-os de todo e qualquer mal: assumiu seu papel de Santo Anjo do Senhor e por isso Guarador.
O Elefante que possuía o nome de “Prestativo” então chegou ao pé do Grande Rei Manjericão que logo exclamou: “- Sejam bem vindos bem vindas: Filhos e Filhas. Recebam como vinho meu Cheiro e como Pão, todo este Chão. Renunciem a todo o mal. Absorvam todo o Bem. Nunca desprezem, por preconceito, ninguém. A partir de hoje, meninas dos olhos reluzentes, vocês estão batizadas sob a Proteção Divina; sob a proteção de meu Cheiro e sob a energia de todos que acreditam na união dos Homens”.
O Rei Manjericão implantou paz nos corações de Afilhadas e Padrinhos quando declarou que o Deus Todo Poderoso já havia informado do preconceito que sofreram na Igreja Barroca e logo recomendou uma Liturgia que exaltasse Amor. Então, o Rei Manjericão (sábio como Salomão) chamou seu companheiro Alecrim e pediu que fosse aberto o Antigo Baú, uma herança de família. Exalando também muito cheiro, o Alecrim assim disse: “ – Aquela Igreja que expulsou vocês não merece mais atenção, equivocaram-se e nada sabem de interpretação.
Como Athena, o Alecrim mete a mão no Baú e puxa o texto a ser lido para celebrar o Batismo. Com muito entusiasmo, começa a declamar uma Poesia ou um Poema (depende de sua preferência) do Poeta Eclesiastes (Capítulo 4, 7 a 12), que num toque divino-poético, textualizou:
"Vi ainda outra vaidade debaixo do sol: um homem sozinho, sem alguém junto de si, sem filho nem irmão; trabalha sem parar e, não obstante, seus olhos não se fartam de riquezas: ‘Para quem trabalho eu, privando-me de todo bem-estar?’ Eis uma vaidade e um trabalho ingrato. Dois homens juntos são mais felizes que um só, porque obterão um salário do seu trabalho. Se um vem a cair, o outro o levanta. Mas ai do homem só, se ele cair, não há ninguém para levantá-lo. Da mesma forma, se dormirem dois juntos, aquecem-se; mas um homem só, como se há de aquecer? Se é possível dominar o homem que está sozinho, dois podem resistir ao agressor. Uma corda tripla não se rompe facilmente".
Depois de tudo era preciso o presente de Batismo, já que a tradição exige que os Padrinhos ofereçam presentes às afilhadas. O Rei Manjericão, com dó dos Padrinhos que nada tinham para oferecer às lindas princesas batizadas, faz aparecer no Reino Encantado um carrinho chamado Smart: amarelo como um Bem-Te-Vi e no formato de uma “Joaninha”. Uma forma que o bom Rei encontrou para que não voltassem andando. Estavam distante do Portal da Lagoa onde moravam.
Chegou a hora de deixar o Reino, porque naquelas alturas a fila estava muito grande: eram muitas as crianças que desejavam o Batismo, mas que foram impedidas pela Igreja mais Arcaica que Barroca. Isto simplesmente pelo fato de não disporem de um homem e uma mulher para serem seus Padrinhos ou Madrinhas.
Assim, as meninas gêmeas lindas saíram com seus Padrinhos e amando seu lindo smart-zinho: amarelinho em forma de Joaninha. Felizes ouviam ainda a Orquestra de Compositores e Cantores Amarelos. Agradecidos, também respondiam com uma outa cantoria: “- Tudo está no seu lugar... Graças a Deus... Graças a Deus”.
E Graças a Deus mesmo que não existe apenas Igreja de Concreto. Existem outros lindos e belos Templos: O Reino do Manjericão é Um...
Cláudio Comigo Ninguém Pode