Conto em Verso, o Pirata Menestrel
Pirata menestrel na ilha da dor....
Depois de tantas luas e serenatas e um extenso vocabulário exprimido, na tentativa de dar vida ao amor, eu, poeta menestrel, tornei-me vago em inspiração, guardei no saco meu bandolim e aposentei minha pena. Caminhava perdido em dilemas, até que duas moças chamou-me atenção... Uma cantava desvairado amor, e a outra ouvia, seus olhos tornavam-se, hora sombrios, hora brilhavam em vívida paixão. Conhecia as duas, artistas inebriando corações com primazia. Pensei em entrar e por uma gota de mim em despercebido dueto, mas calei.
Aproximei-me, busquei não ser percebido e as liras de amor pude com clareza ouvir:
Vigília- O dia hoje tem o aspecto dos dias de ontem
Dias de guerra e de paz, dias e noites que se foram
junto com os amores que me encantou a vida...
O passar veloz dos dias levou - me amigos e inimigos
que, vez por outra, reencontro em minha poesia!
Anseio rememorar...
Mas por onde começar, se nas lembranças meu amor torna-se mudo?
Não há construção poética que devolva o encanto às ruinas de meu passado laborioso
Acredite meu passado é triste e infestado de fantasmas
arrastam correntes e seus semblantes são de intenso horror...
Não sei dizer, que foi e quem não me foi amor!
Já não sei se anseio rememorar...
Todavia, quando penso se houve uma centelha de alegria
Sinto o cheiro frio e metálico de uma armadura...
Lembro-me daquele de quem não posso falar
sinto o frescor da água ofertada em generosidade de amor...
E o que encontro mais próximo em amor
é uma espada de lamina fria e afiada e cravada em meu peito
e minha imagem de mais amada e uma mulher languida, caída e ensanguentada
Mas... Existe um rosto de mar, um acalanto, talvez um canto, uma silhueta que de tudo faço, mas não posso lembrar... Onde anda este que paz trás à minha guerra?
Lara- De memórias vive meu coração
Talvez longe da armadura ou sofreguidão
Por tantas vezes amada
Por outras calejada...
Ferida pelo veneno ardente da paixão.
De memórias é feito meu presente
De um passado que não se foi por um fio
Ah, se eu tivesse medo de relembrar
Talvez tudo em mim seria vazio
E jamais saberia a fonte do meu descompassado pulsar...
Se ao menos coragem houvesse,
Se ao menos enamorado estivesse...
Anseio sim, rememorar...
Conte-me mais sobre teu receio,
Pirata -Ri baixo da situação, assustada a sombria sonhadora, cujos olhos tornaram-se melosos, viu-se contra a parede, falar de seus receios não era nada fácil...”
Vigília- Por eras me neguei por capricho
E hoje me nego por motivo que desconheço...
É tanta certeza e tantos medos!
Poderia eu pegar a armadura fria
e protegida perscrutar este sentir de outro
tão dolorido quando o meu...
Mas, me deixo levar por uma insistência amiga
Queres saber meu receio na vida?
É amar o que esta perto por saudade do que se perdeu...
Assumir que sou tão frágil quanto flor estradeira...
Temo o mau do passado inglório
Tão vivo mesmo que insólito
sempre a minha espreita...
E tornou-se negro e maldoso este amor que por vezes me salva
fujo de seu contato, mas o vejo por todos os lados!
Ah! Este amor! Que me jogou no abismo e depois me salvou
que me feriu de morte, e como cão caridoso, volta para lamber minhas feridas...
Amor que na época da fome, ensinou-me honestamente a ganhar vida!
Amor que hoje jaz no impossível donde vivem fantasmas
Amor que não amei quando podia, e hoje amo sem maestria
amaldiçoando as asas que lhe foram dadas por merecimento!
Este é meu receio... Amar o que está perto por saudade do que se perdeu
No passar do tempo!
Outro amor, outra silhueta, mais visível, garbosa, não duvido que este nobre
Não esteja nos ouvindo...
Lara- Compreendo a tua sina amargurada
Estás ainda com esta espada em ti cravada?
Tantos amores, para não decidir por um
E ver-se sem poder viver o que escolheu...
Só sabe quem disso viveu...
Já tentastes perdoar
A ti e aquele que te feriu?
Já tentastes ser amiga do poeta, do sátiro que lhe instruiu?
já tentaste ouvir a canção, do teu pirata, o teu amor
Que nunca foi ilusão?
Por que durante tantas vidas estás tu ainda
Ensanguentada?
Oh, amiga amada, por que amas em segredo?
Refém, escrava és do teu próprio medo
Travado pelo temor de amar e não ser amada...
Por que a ti não libertas?
Liberta esta tua alma cansada, sofrida...
Sei que para ti, este amor é teu suspiro de vida
Se vez por outra te deixou em desalento
Hoje não deveria ser o teu tormento
Por que deixar no teu templo seja alma ressentida?
Estaria eu enganada?
Virgília- Não, não estás enganada, se bem que temo mais amar
que não ser amada... Ou temo ser escrava de quem sente paixão...
deixe te contar, que tanto me amaram que ansiaram meu ar
E o amor, que hoje por graça longe está de minha vida, foi meu malfeitor...
Pois tanto me desejou que fez com esmero minha prisão...
feitiço que morreu e tornou-se solidão...
Mentiu com a verdade...
me castigou com grilhões de liberdade
Afagou-me no mar que banhava o precipício de seu coração!
Não, não estás enganada...
Tenho sim a alma cansada e escrava sou deste ódio, deste lampejo
Pois não só me quis em eternidade de um beijo
como quis domar meu orgulho...
E por isso, por sua vaidade, este desejo me é espada no peito!
Não...Não está errada...
Lara- Se não estou errada, porque ainda estás aprisionada?
És prisioneira do teu próprio pensamento!
Será que não descansas um só momento?
Retira tu mesma a lâmina em ti cravada!
Retira da tua alma a verdade por ti criada...
Grilhões de liberdade? Mentir com a verdade?
Ora, cara minha, o que mais poderias do alheio esperar?
Toma para ti a tua liberdade! Apropria-te dela
Porque dela tens direito!
Deixa aberta a ferida em teu peito
Que nada mais a pode curar senão o tempo!
Queira pois ser libertada, sejas tu ou não amada,
Se não é este o teu maior medo!
Vigília- Medos e coragens são ilusões daqueles que querem provar-se
sentir o mel tocar os lábios e descer pela garganta...
Sem que tema ou avalie os perigos de ter a mão em uma colmeia...
dos humanos me assusta tanta ânsia... Inconsequente gana!
Ferida que se cura, deixa cicatriz, a dor de uma lembrança
da saudade é motriz...
Infelicidade é escolha do que rememora... Rememorar em alegria
é beijar meu amado senhor em uma terna e pura poesia!
Asas de liberdade?
Ele é pássaro cantor...e sorrio se penso em seu amor!
Sim... Prefiro a segurança de meu quarto... Dele sou chave e cadeado
Sou a solidão de uma noite de inverno e a quentura de um amante
Ser o sentido desencontrado do inverso de um verso
É o que me torna fascinante...
Sou quente por dento e por fora sou dura e fria como busto de aço
sou liberdade, mas também sou chave e cadeado...
O sentido dobrado, Sou quem ama e também sou o meu amado!
Narciso a margem do rio debruçado...
Sou eu, de amor por mim mesmo transbordante...
Sou eu, o que teme a paixão, pois sofreu solidão em um coração
onde por força foi trancafiado...
Sim... Narciso, aquele que morreu apaixonado!
Pirata -“Eu o que faço, pego meu bandolim, toco notas tristes
Como pode este amor se perder de mim?
somos um do outro, mas tão distantes...
quem me olha neste instante?
Vou pra paz de outros amores
E a deixo em dores...
Quando eu acordar no meu leito de gloria
Hei de lembrar-me desta triste historia?
ou sou mais um escravo da felicidade de Maia?
essa desgraça ilusória....
Minha amada...caminho longo e sem fim...
espero ao menos acordar triste ou terei vergonha de mim!”
Parte 2
Carta do Pirata Menestrel
(Queria eu, por um ligeiro instante, deixar-me flutuar no amor negado e que tão somente hoje me é ofertado...)
Durma que te velo o sono, não me machuque com tuas lagrimas
não me procures em canções
não há outra maneira e por isso silencio tua voz em meu peito...
És tu apenas a miragem lúrida de um anseio que sufocou minha esperança
Uma mentira atraente que me rouba dos dias de tristeza...
Não vejo outra maneira...
Busco encontrar-te nas canções, mas canção alguma diz-me quem és tu!
Mergulho incansavelmente neste ardor que oprime meu peito... E o que vejo é tão somente a vaga sombra de olhos tristes e perdidos em horizonte desértico!
Delego este querer à loucura e te faço projeção do impossível
Imaginação que me protege dos perigos do que se é possível ter...
Já não há forças que me anime escalar a parede grossa e materializada forjada no invisível que nos separa...
Meu espirito está exaurido nesta improfícua dança...
Já tornou-se tortura, buscar teus olhos em outros olhos e não ver-te existindo em parte alguma!
És lenda...Paginas imaginárias do livro que comecei ler e não terminei!
****
Calou-se a paixão que oprimia o espírito e flagelava o coração
Mas... Apenas silencio junto ao pássaro que espera o eco do próprio gorjear...
Tão fascinante faz-se a imensidão... O céu azul abraçando mar bravio...
A chuva trazendo a gota de suor de teu esforço, mas sem ti é escuro, e o dia mais claro
não se faz diferente de uma noite escura na fundura medonha de um foço!
Tenho cansado de inclinar meus ouvidos ao vento
Tenho me esgotado ao imaginar teu canto em outras vozes
E já não quero teus beijos por lábios de alheios...
Tenho cansado em deitar minha alma na natureza
Tenho me esforçado... Mas quais olhos podem me olhar com tanto calor
aplacando a ira do devorador e do inverno roubado a frieza?
Estou farta de contos de fada onde encanto algum há
somente assombrações malditas, magos e bruxas portando poções fedidas
amigos infiéis e amores de mentira!
Farta da vida...
Mas... Apenas silêncio de pássaro encantado...
vou ficar essa hora de dor ao teu lado...Esperando o canto apaixonado
do passarinho estrangeiro que trouxe verão ao meu solitário inverno
E quando nasce a cação, a melodia e o poema
sou alma livre carregada pelo o vento
sou folhas caídas e estrelas enaltecidas...
Sou todas as águas dos oceanos...
Sou morte e sou vida...
As batidas do coração de meu amor!
Sua simples existência é esperança
por este amor consagrado dou vida e luz ao meu legado!
Amando na inocência da criança
que esquecida do passado livre sou pra sonhar sem maculas de pecado!
-Meu amor das estrelas e quando dormes... Sonhas comigo?-
Concebe arte em seu coração e me deixa oculto nas sombras de teu esconderijo...
Sim... É no núcleo quente da “estrela” que habito...
e as notas de minhas cantigas são notas que marcam o ritmo de tua vida!
E quando dorme meu amor faz lembrar-me dos anjos
que emocionados emprestam melodia para minha poesia
tocam suas liras e assim quero dormir e não acordar
poder eternamente contemplar ao teu lado a verdadeira vida!
Mas... Triste constatação... Temos de despertar...
No mundo de salteadores, quem sou eu e que é meu amor?
Receptáculos mudos, cheios de sonhos mergulhados em dor!
Buscando o sentido na falta de sentido no tudo que há!
Mas ainda sim cantamos... Poetizamos
Cobertos com o pó das estrelas, dançamos...
Vivemos, amamos... Sorrimos e choramos!
Pois, não nascemos para o mundo
Nascemos para o deleite das almas
Dia pós dia, firmamos o reencontro com Deus
no que não é meu e não é teu...Mas do universo
Somos um verso inteiro existindo em duas partes...
Separados, mas unidos em nosso encontro com a Arte!
Pirata menestrel na ilha da dor....
Depois de tantas luas e serenatas e um extenso vocabulário exprimido, na tentativa de dar vida ao amor, eu, poeta menestrel, tornei-me vago em inspiração, guardei no saco meu bandolim e aposentei minha pena. Caminhava perdido em dilemas, até que duas moças chamou-me atenção... Uma cantava desvairado amor, e a outra ouvia, seus olhos tornavam-se, hora sombrios, hora brilhavam em vívida paixão. Conhecia as duas, artistas inebriando corações com primazia. Pensei em entrar e por uma gota de mim em despercebido dueto, mas calei.
Aproximei-me, busquei não ser percebido e as liras de amor pude com clareza ouvir:
Vigília- O dia hoje tem o aspecto dos dias de ontem
Dias de guerra e de paz, dias e noites que se foram
junto com os amores que me encantou a vida...
O passar veloz dos dias levou - me amigos e inimigos
que, vez por outra, reencontro em minha poesia!
Anseio rememorar...
Mas por onde começar, se nas lembranças meu amor torna-se mudo?
Não há construção poética que devolva o encanto às ruinas de meu passado laborioso
Acredite meu passado é triste e infestado de fantasmas
arrastam correntes e seus semblantes são de intenso horror...
Não sei dizer, que foi e quem não me foi amor!
Já não sei se anseio rememorar...
Todavia, quando penso se houve uma centelha de alegria
Sinto o cheiro frio e metálico de uma armadura...
Lembro-me daquele de quem não posso falar
sinto o frescor da água ofertada em generosidade de amor...
E o que encontro mais próximo em amor
é uma espada de lamina fria e afiada e cravada em meu peito
e minha imagem de mais amada e uma mulher languida, caída e ensanguentada
Mas... Existe um rosto de mar, um acalanto, talvez um canto, uma silhueta que de tudo faço, mas não posso lembrar... Onde anda este que paz trás à minha guerra?
Lara- De memórias vive meu coração
Talvez longe da armadura ou sofreguidão
Por tantas vezes amada
Por outras calejada...
Ferida pelo veneno ardente da paixão.
De memórias é feito meu presente
De um passado que não se foi por um fio
Ah, se eu tivesse medo de relembrar
Talvez tudo em mim seria vazio
E jamais saberia a fonte do meu descompassado pulsar...
Se ao menos coragem houvesse,
Se ao menos enamorado estivesse...
Anseio sim, rememorar...
Conte-me mais sobre teu receio,
Pirata -Ri baixo da situação, assustada a sombria sonhadora, cujos olhos tornaram-se melosos, viu-se contra a parede, falar de seus receios não era nada fácil...”
Vigília- Por eras me neguei por capricho
E hoje me nego por motivo que desconheço...
É tanta certeza e tantos medos!
Poderia eu pegar a armadura fria
e protegida perscrutar este sentir de outro
tão dolorido quando o meu...
Mas, me deixo levar por uma insistência amiga
Queres saber meu receio na vida?
É amar o que esta perto por saudade do que se perdeu...
Assumir que sou tão frágil quanto flor estradeira...
Temo o mau do passado inglório
Tão vivo mesmo que insólito
sempre a minha espreita...
E tornou-se negro e maldoso este amor que por vezes me salva
fujo de seu contato, mas o vejo por todos os lados!
Ah! Este amor! Que me jogou no abismo e depois me salvou
que me feriu de morte, e como cão caridoso, volta para lamber minhas feridas...
Amor que na época da fome, ensinou-me honestamente a ganhar vida!
Amor que hoje jaz no impossível donde vivem fantasmas
Amor que não amei quando podia, e hoje amo sem maestria
amaldiçoando as asas que lhe foram dadas por merecimento!
Este é meu receio... Amar o que está perto por saudade do que se perdeu
No passar do tempo!
Outro amor, outra silhueta, mais visível, garbosa, não duvido que este nobre
Não esteja nos ouvindo...
Lara- Compreendo a tua sina amargurada
Estás ainda com esta espada em ti cravada?
Tantos amores, para não decidir por um
E ver-se sem poder viver o que escolheu...
Só sabe quem disso viveu...
Já tentastes perdoar
A ti e aquele que te feriu?
Já tentastes ser amiga do poeta, do sátiro que lhe instruiu?
já tentaste ouvir a canção, do teu pirata, o teu amor
Que nunca foi ilusão?
Por que durante tantas vidas estás tu ainda
Ensanguentada?
Oh, amiga amada, por que amas em segredo?
Refém, escrava és do teu próprio medo
Travado pelo temor de amar e não ser amada...
Por que a ti não libertas?
Liberta esta tua alma cansada, sofrida...
Sei que para ti, este amor é teu suspiro de vida
Se vez por outra te deixou em desalento
Hoje não deveria ser o teu tormento
Por que deixar no teu templo seja alma ressentida?
Estaria eu enganada?
Virgília- Não, não estás enganada, se bem que temo mais amar
que não ser amada... Ou temo ser escrava de quem sente paixão...
deixe te contar, que tanto me amaram que ansiaram meu ar
E o amor, que hoje por graça longe está de minha vida, foi meu malfeitor...
Pois tanto me desejou que fez com esmero minha prisão...
feitiço que morreu e tornou-se solidão...
Mentiu com a verdade...
me castigou com grilhões de liberdade
Afagou-me no mar que banhava o precipício de seu coração!
Não, não estás enganada...
Tenho sim a alma cansada e escrava sou deste ódio, deste lampejo
Pois não só me quis em eternidade de um beijo
como quis domar meu orgulho...
E por isso, por sua vaidade, este desejo me é espada no peito!
Não...Não está errada...
Lara- Se não estou errada, porque ainda estás aprisionada?
És prisioneira do teu próprio pensamento!
Será que não descansas um só momento?
Retira tu mesma a lâmina em ti cravada!
Retira da tua alma a verdade por ti criada...
Grilhões de liberdade? Mentir com a verdade?
Ora, cara minha, o que mais poderias do alheio esperar?
Toma para ti a tua liberdade! Apropria-te dela
Porque dela tens direito!
Deixa aberta a ferida em teu peito
Que nada mais a pode curar senão o tempo!
Queira pois ser libertada, sejas tu ou não amada,
Se não é este o teu maior medo!
Vigília- Medos e coragens são ilusões daqueles que querem provar-se
sentir o mel tocar os lábios e descer pela garganta...
Sem que tema ou avalie os perigos de ter a mão em uma colmeia...
dos humanos me assusta tanta ânsia... Inconsequente gana!
Ferida que se cura, deixa cicatriz, a dor de uma lembrança
da saudade é motriz...
Infelicidade é escolha do que rememora... Rememorar em alegria
é beijar meu amado senhor em uma terna e pura poesia!
Asas de liberdade?
Ele é pássaro cantor...e sorrio se penso em seu amor!
Sim... Prefiro a segurança de meu quarto... Dele sou chave e cadeado
Sou a solidão de uma noite de inverno e a quentura de um amante
Ser o sentido desencontrado do inverso de um verso
É o que me torna fascinante...
Sou quente por dento e por fora sou dura e fria como busto de aço
sou liberdade, mas também sou chave e cadeado...
O sentido dobrado, Sou quem ama e também sou o meu amado!
Narciso a margem do rio debruçado...
Sou eu, de amor por mim mesmo transbordante...
Sou eu, o que teme a paixão, pois sofreu solidão em um coração
onde por força foi trancafiado...
Sim... Narciso, aquele que morreu apaixonado!
Pirata -“Eu o que faço, pego meu bandolim, toco notas tristes
Como pode este amor se perder de mim?
somos um do outro, mas tão distantes...
quem me olha neste instante?
Vou pra paz de outros amores
E a deixo em dores...
Quando eu acordar no meu leito de gloria
Hei de lembrar-me desta triste historia?
ou sou mais um escravo da felicidade de Maia?
essa desgraça ilusória....
Minha amada...caminho longo e sem fim...
espero ao menos acordar triste ou terei vergonha de mim!”
Parte 2
Carta do Pirata Menestrel
(Queria eu, por um ligeiro instante, deixar-me flutuar no amor negado e que tão somente hoje me é ofertado...)
Durma que te velo o sono, não me machuque com tuas lagrimas
não me procures em canções
não há outra maneira e por isso silencio tua voz em meu peito...
És tu apenas a miragem lúrida de um anseio que sufocou minha esperança
Uma mentira atraente que me rouba dos dias de tristeza...
Não vejo outra maneira...
Busco encontrar-te nas canções, mas canção alguma diz-me quem és tu!
Mergulho incansavelmente neste ardor que oprime meu peito... E o que vejo é tão somente a vaga sombra de olhos tristes e perdidos em horizonte desértico!
Delego este querer à loucura e te faço projeção do impossível
Imaginação que me protege dos perigos do que se é possível ter...
Já não há forças que me anime escalar a parede grossa e materializada forjada no invisível que nos separa...
Meu espirito está exaurido nesta improfícua dança...
Já tornou-se tortura, buscar teus olhos em outros olhos e não ver-te existindo em parte alguma!
És lenda...Paginas imaginárias do livro que comecei ler e não terminei!
****
Calou-se a paixão que oprimia o espírito e flagelava o coração
Mas... Apenas silencio junto ao pássaro que espera o eco do próprio gorjear...
Tão fascinante faz-se a imensidão... O céu azul abraçando mar bravio...
A chuva trazendo a gota de suor de teu esforço, mas sem ti é escuro, e o dia mais claro
não se faz diferente de uma noite escura na fundura medonha de um foço!
Tenho cansado de inclinar meus ouvidos ao vento
Tenho me esgotado ao imaginar teu canto em outras vozes
E já não quero teus beijos por lábios de alheios...
Tenho cansado em deitar minha alma na natureza
Tenho me esforçado... Mas quais olhos podem me olhar com tanto calor
aplacando a ira do devorador e do inverno roubado a frieza?
Estou farta de contos de fada onde encanto algum há
somente assombrações malditas, magos e bruxas portando poções fedidas
amigos infiéis e amores de mentira!
Farta da vida...
Mas... Apenas silêncio de pássaro encantado...
vou ficar essa hora de dor ao teu lado...Esperando o canto apaixonado
do passarinho estrangeiro que trouxe verão ao meu solitário inverno
e queimou suas penas com minhas penas, hoje quem pode voar?
Conceber arte é encontrar-se com a CriaçãoE quando nasce a cação, a melodia e o poema
sou alma livre carregada pelo o vento
sou folhas caídas e estrelas enaltecidas...
Sou todas as águas dos oceanos...
Sou morte e sou vida...
As batidas do coração de meu amor!
Sua simples existência é esperança
por este amor consagrado dou vida e luz ao meu legado!
Amando na inocência da criança
que esquecida do passado livre sou pra sonhar sem maculas de pecado!
-Meu amor das estrelas e quando dormes... Sonhas comigo?-
Concebe arte em seu coração e me deixa oculto nas sombras de teu esconderijo...
Sim... É no núcleo quente da “estrela” que habito...
e as notas de minhas cantigas são notas que marcam o ritmo de tua vida!
E quando dorme meu amor faz lembrar-me dos anjos
que emocionados emprestam melodia para minha poesia
tocam suas liras e assim quero dormir e não acordar
poder eternamente contemplar ao teu lado a verdadeira vida!
Mas... Triste constatação... Temos de despertar...
No mundo de salteadores, quem sou eu e que é meu amor?
Receptáculos mudos, cheios de sonhos mergulhados em dor!
Buscando o sentido na falta de sentido no tudo que há!
Mas ainda sim cantamos... Poetizamos
Cobertos com o pó das estrelas, dançamos...
Vivemos, amamos... Sorrimos e choramos!
Pois, não nascemos para o mundo
Nascemos para o deleite das almas
Dia pós dia, firmamos o reencontro com Deus
no que não é meu e não é teu...Mas do universo
Somos um verso inteiro existindo em duas partes...
Separados, mas unidos em nosso encontro com a Arte!