A ESPERA DO NAVIO
 
 
Durante alguns dias essa era minha rotina, todo fim de tarde ficava a esperar a chegada do navio vindo da Rússia. Nessa época do ano o frio intenso, mas o que de fato incomodava era a angústia da incerteza da tua chegada. A dúvida se viria ou não, se tudo não passou de mera expectativa que jamais seria realizada. O que fazer? Nada eu podia fazer apenas esperar, somente o futuro poderia dizer se o que queríamos viver poderia ser concretizado. O futuro a Deus pertence, costumo dizer que melhor é viver o presente, ainda que pela metade.
 
Recordava das nossas conversas ao telefone, das vezes que choramos juntos, das incertezas do nosso futuro, mas o amor que sentimos um pelo outro será recompensado, ainda que pouco tempo possamos ficar juntos. Foi difícil viver esses dias sem poder falar com você, Barcelona se tornou imensa, com suas ruas desertas, as Ramblas tristes, pedindo sua presença. Contava os dias, as horas, os minutos, mas de nada adiantava, eu precisava ter paciência e esperar, certamente meu sofrimento seria recompensado com um longo abraço de boas vindas.
 
Nas noites frias e solitárias os sonhos me vieram à mente, por diversas vezes senti tua presença, mas na sequência dos acontecimentos a realidade me tomava o doce prazer de ter você ao meu lado. Acordava, sentava e me questionava por que deveria passar por mais esse sofrimento, só restava a esperança de saber que em breve chegarias para suprir sua ausência. Noites longas, gélidas, o dia era esperado como meu amor que não vinha que me deixava a esperar, mas também me fazia feliz pela esperança.
 
Nosso último contato ficou tudo certo que você viria que faltavam apenas os documentos já expedidos, por que então essa demora que me corrói o peito? O que havia acontecido? O pior? O governo havia mudado de ideia? Ou você que havia mudado? Essas incertezas sem respostas me deixavam triste e sem esperança. Mas quando lembrava a sua linda face sorridente, dos olhos azuis brilhantes me falando que me ama que queria viver ao meu lado era o combustível que precisava para continuar em frente.
 
Terça feira, tarde escura, chuva fina, aponta no mar mediterrâneo aquele que poderia trazer o meu amor. O coração dispara a boca seca, a angústia maior ainda, será que hoje ela vai chegar? Será que minha agonia vai deixar de existir? Posicionei-me com minha única rosa na mão a esperar por você! Foi se aproximando e senti que meus dias de solidão chegavam ao fim. Uma vez ancorado me aproximei e pude constatar: lá estava você, sorridente, feliz, acenando, era verdade, você veio. Com os olhos cheios de lágrimas não encontrei nenhuma frase de efeito para te dizer, mas disse uma verdadeira: seja bem vinda meu amor, vamos ser felizes?