AMOR DE 1 MINUTO
Noite de sexta-feira. O trânsito carioca como sempre congestionado. Pessoas saindo da cidade, pessoas entrando para conhecê-la. Pessoas transitando por ela de uma ponta para outra. Cada uma com um destino diferente.
Ele estava dentro de um ônibus, mexendo no celular, olhando as atualizações das redes sociais das quais fazia parte. Ela estava em outro ônibus, lia um romance, daqueles que toda mulher sonha viver , com um mocinho bonito, sensível, cavalheiro, inteligente, que faz tudo para ficar com a sua amada.
É então, que acontece uma daquelas coisas inexplicáveis. Os dois levantam a cabeça ao mesmo tempo e se encontram pelo olhar. Vai dizer que nunca aconteceu algo parecido com você? Eles se encaram, disfarçam olhando para baixo, encaram-se mais uma vez. Alguma coisa estranha acontece com os dois, sentem um friozinho na barriga, sorriem por dentro. A vergonha vence, abaixam a cabeça e voltam ao que estavam fazendo antes de se entreolharem.
Enquanto mexe no celular, ele imagina diversas coisas. Como será que ela se chama? Quantos anos tem? onde mora? Ela finge que lê o livro, mas seus pensamentos estão no carinha do outro ônibus. De onde será que ele está vindo? Ou para onde está indo? Que gatinho...
Levantam a cabeça, olham-se. Encaram-se. Ele a cumprimenta com uma levantada de sobrancelha como quem diz: "Que engarrafamento é esse?". Ela dá um sorrisinho de canto de boca. O rosto queima, abaixa a cabeça e tenta se concentrar na leitura. Ele continua a olha-la. "Que garota linda..." Percebe que ela tem uma pintinha na pescoço, na verdade era um "sinal", que é como chamam aquelas pintinhas maiores. "Será que tem outras pintinhas? Adoro pintinhas" Abaixa a cabeça e começa uma conversa no chat com um amigo.
Ela levanta a cabeça. Vê que ele está distraído com alguma coisa, será que era um livro? Não, ele não tem cara de que gosta de ler. Com certeza estava mandando mensagem para outra menina. Sente ciúmes. Desapontada, volta à leitura. Ele levanta a cabeça outra vez. Vê que a menina do outro ônibus estava entretida com algo. "Não tá nem aí pra mim. Metida!" Decide esquecê-la, mas aquele sinal, um pouco maior que um grão de arroz, não saía de sua cabeça. Se fosse mais cara de pau, gritaria pedindo o número do celular dela.
O trânsito é liberado. Os dois aproveitam para se olharem mais uma vez. Ele dá uma piscadinha para ela. Ela sorri, dessa vez mostra os dentes. Os ônibus se distanciam. Nunca mais se veriam.
Por Igor Gonçalves
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