A Busca

Era uma noite de outono onde se sentia a refrescante brisa do inverno pedindo licença para o mormaço do verão. Estava bem ocupado em todos os dias que precederam este, mas em especial esse dia teria que sair tudo perfeito, para isso tinha desprendido uma atenção especial a todos os detalhes.

Cumprimentava todos os convidados, convidados estes que não os via há anos, pessoas queridas de um passado hoje distante, mas que nunca saíram de meu coração. Em determinado momento avistei meus familiares, mamãe estava ao lado de papai, sentados bem a frente, perto do altar, pois papai estava em uma cadeira de rodas, porque ele não podia mais andar por conta de um câncer no pulmão decorrente de toda uma vida de fumante.

No momento em que avistei papai toda a alegria e felicidade foram tomadas do meu ser, não o via há muito tempo e não sabia que estava em uma situação tão... visivelmente terminal. Cumprimentei mamãe e me ajoelhei para cumprimentar papai, mas ao olhar em seus distantes olhos tive um momento de clareza e iluminação, e como se arrancado de um coma induzido pela minha própria negligencia da vida e das pessoas que amo, acordei.

Acordei de um estado vegetativo “consciente”, se assim posso chamar de consciente, um estado em que tomava decisões pelos outros e não por mim mesmo, como se simplesmente estivesse boiando em um rio, e nenhum esforço fosse feito para com o rumo que a minha vida estava levando. Acordei do modo automático que estava vivendo há anos. E naquele momento que olhava no fundo dos olhos de papai, acordei.

Perplexo com a realidade que me cercava, levantei e olhei novamente para todas as pessoas que passaram pela minha vida e foram importantes para mim, mas vi faces maltratadas pelo tempo, estavam todos lá, mas ninguém como minha cabeça se lembrava, meus olhos desesperados e quase melancólicos estavam procurando a pessoa que mais tive afinidade em minha vida, e custou para que minha cabeça o reconhece-se.

Lá estava Vitor, meu melhor amigo desde datas imemoriáveis, todo pomposo, com um smoking diferente dos outros convidados, todo feliz e com seu sorriso característico de orelha a orelha, mas as marcas do tempo não perdoavam ninguém, nem mesmo Vitor, tentei puxar em minha memória mais recente como seria sua face, mas eu estava dormindo há muito tempo, e não o reconhecera com facilidade.

No momento em que Vitor percebeu que havia algo errado comigo, ele veio como um raio perguntado o que aconteceu, mas eu estava mudo, completamente paralisado de medo, não sabia onde estava e por que estava lá, depois de muita insistência dele comecei a fazer as milhares de perguntas que meu cérebro estava desesperado para saber, e digo agora para você que está lendo isso, realmente não queria saber as respostas, por que mais e mais perguntas borbulhavam de minha mente confusa e desesperada.

Vitor me explicou que está festa há qual todos meus amigos e família estavam era o meu tão esperado casamento, mas por deus como assim casamento? Com quem diabos estava casando? Qual o nome da minha noiva? Como inferno era ela?

Vitor estava meio desnorteado com todas essas perguntas desesperadas que estava fazendo, não estava entendo nada, neste momento estava em um pranto inconsolável, eu afinal não queria me casar com alguém que ao menos conheço, com alguém que nunca vi na vida, com alguém que não amo. Meti uma maldita idéia na cabeça naquele momento, queria ver quem era essa mulher a qual estava sendo acorrentado pelo destino, queria saber como era seu rosto, pois há muito tempo, quando ainda comandava minha vida tinha um amor, uma pessoa que nunca tive oportunidade de ficar junto.

Peguei meu melhor amigo pelo braço e sai do meio da festa quase à corrida, empurrando vários de meus amigos, podia ouvir comentários de espanto e indignação. Como um noivo poderia sair do próprio casamento assim? Mas a essa altura eu estava pouco me fodendo pra isso.

“Como alguém se esquece do próprio casamento?”

Essa foi à primeira pergunta de Vitor, e eu sinceramente não sabia a resposta, não sabia como havia parado naquela situação, como havia deixado minha vida seguir esse rumo. Mas agora que havia acordado, saído de meu coma, queria pelo menos fazer minhas escolhas, se fosse casar hoje teria que conhecer essa mulher primeiro.

Vitor me levou a onde minha futura mulher e esposa estava se preparando para o casamento. Quase arrombei a porta de tanto desespero, e quando entrei na sala, todas as mulheres que estavam lá me empurraram pra fora, pois afinal “ver a noiva antes do casamento dá azar”, mal sabiam elas que esse casamento não iria acontecer.

Lá dentro tinha tanta gente que mal pude reconhecer as pessoas, mas vi que a tia do Vitor estava cuidando dos preparativos, ela é uma mulher de pulso firme, mãe de um outro meu grande amigo, David primo de Vitor. Ela simplesmente me empurrou para fora da sala, mesmo eu implorando aos prantos para falar com a noiva, ela simplesmente fechou a porta na minha cara.

Estava eu lá sentado ao pé da porta, sem saber o que fazer, com Vitor de pé na minha frente. Sei que Vitor estava falando alguma coisa neste momento, mas estava tão distante nos meus próprios pensamentos que simplesmente não ouvi o que ele disse. Em algum momento dos meus devaneios me lembrei do amor que nunca pude ter, de tanto tempo atrás desse inferno que vivi, e neste momento tomei uma decisão, acho que a única decisão que tomei em toda a minha vida, iria tentar buscar a felicidade, iria começar uma cruzada por essa mulher de um passado que nem sei há quanto tempo foi, mas me casar com alguém que não conhecia eu simplesmente me recusava.

Neste momento enxuguei o rio de lagrimas que estava em meu rosto, me levantei e olhei nos olhos de Vitor, ele estava meio assustado e com medo do que eu iria dizer logo em seguida, peguei a chave do carro que estava no bolso da minha calça, e com uma calma quase celestial disse as seguintes palavras para Vitor:

- Man, eu não vou me casar hoje não importa o que você diga ou faça.

- E o que você vai fazer? – Disse Vitor com medo da resposta.

- Eu vou procurar o amor da minha vida, não sei se você lembra-se dela, mas eu vou atrás da Lucy – Eu ainda com a calma semi-divina que estava perturbando-o cada vez mais.

- Cara você nem sabe onde essa mulher está.

- Você só pode fazer uma coisa Vitor, ou você vem comigo ou fica.

Não esperei resposta de Vitor, simplesmente virei às costas, peguei as chaves e entrei na limusine que estava na frente da Igreja. Vi Vitor me olhando do portão da igreja, abri a porta do passageiro pra ele, e neste momento tinha colocado em cheque toda nossa amizade, anos estavam em jogo neste momento, liguei o carro e antes de sair em disparada ouvi a porta se fechando ao meu lado e o som da trava do sinto de segurança.

Depois de algum tempo de silêncio Vitor me perguntou onde estávamos indo, hesitei um pouco em responder, porque para ser sincero não sabia muito bem, mas depois de um alguns segundos expliquei que estávamos indo a uma antiga republica em que ela morava perto do centro da cidade. San Francisco não era uma cidade grande, mas também não era pequena, então se demorava um pouco para se locomover dentro da cidade, mas a essa hora da noite a cidade estava quase vazia.

Quanto mais nos aproximávamos da antiga casa de Lucy (ou atual, realmente não sabia) ficava mais nervoso e agitado, até o ponto de simplesmente “estacionar” o carro de luxo no meio da avenida e simplesmente descer correndo para tocar a campainha.

A ansiedade tomava conta de todo o meu corpo, e no momento em que uma mulher (linda mulher, diga-se de passagem) me atendeu simplesmente vomitei um monte de palavras sem nexo para ela, ela me olhava com um semblante confuso e desnorteado tentando compilar toda a informação que fora despejada, depois de certo tempo de conversa e ela começou a assimilar o que eu queria, ela me deu o maior golpe que poderia receber naquele momento.

- Amigo a Lucy não mora aqui há algum tempo.

Simplesmente me revoltou a idéia de terminar minha busca pela felicidade de maneira tão fracassada e prematura. E ai que a paranóia tomou conta de mim, simplesmente empurrei a mulher que estava na minha frente e invadi sua casa, devia estar com uma cara de animal enfurecido que destroçaria tudo e todos que entrassem em meu caminho, pois havia algumas meninas dentro da casa que simplesmente saíram da minha frente chocadas e sem entender o que estava acontecendo. Estava procurando em todos os quartos, a mulher da minha vida tinha que estar lá em algum lugar, cheguei ao ultimo quarto e estava vazio, não tinha ninguém na casa, só um louco paranóico que estava procurando o seu grande amor.

Ajoelhei-me perto das escadas e comecei a chorar descontroladamente, neste momento senti alguém me levantando do chão e me levando para fora da casa, ouvi também algumas desculpas e xingos por toda parte, estava descontrolado quase morrendo de tanto chorar, nesse momento uma das meninas da casa veio e me disse talvez a única coisa que pudesse me trazer de volta a vida:

- Ela esta morando em Sausalito, boa sorte.

Olhei para cima, para o rosto do anjo que me devolveu as esperanças de amor e felicidade, levantei rapidamente e a abracei, ela escreveu o endereço atual da Lucy em um pedaço de guardanapo e eu agradeci em nome de todos os deuses, mesmo para um descrente como eu.

Corri para a limusine que estava habilmente estacionada no meio de avenida movimentada de San Francisco, entrei no carro e abri a porta para Vitor entrar, mas desta vez ele não entrou, olhei para ele pedi desculpas por tudo mas precisava ir e que ele sabia disso.

Como se Vitor soubesse do destino inevitável daquela noite não entrou no carro, e sai em arrancada em direção à Golden Gate, que é a ponte de ligação entre San Francisco e Sausalito, entretanto em algum momento da travessia da ponte, não sei agora se era a fraca garoa que começará a cair naquele momento ou a velocidade insana que a limusine estava, perdi completamente o controle da direção e vi somente a água chegando mais perto do carro a uma velocidade assustadora.

Neste momento só me lembro de levantar como se faltasse ar em meus pulmões, eu estava no chão, demorou um pouco para meu cérebro processar o que estava acontecendo, estava no chão gelado do meu quarto e tinha acabado de acordar de um sonho, se posso chamar toda essa experiência de sonho.

Me levantei completamente atordoado e anestesiado, sentei na minha cama de frente para o computador e chorei, chorei igual uma criança, com uma junção de sentimentos, neste momento me sentia extremamente triste e melancólico, mas ainda estava feliz por tudo não passar de um delírio de meu cérebro, talvez um pedido de socorro para que acordasse para vida. Depois de um tempo me acalmando e me situando no tempo me lembrei de Lucy, olhei que ela estava online no chat, meu coração pulsou de alegria neste momento.

A conversa que se seguiu foi pequena, pois ainda estava completamente desnorteado, mas foi mais ou menos assim:

Eu: Oi Lucy acabei de sonha com você :(

Lucy: Nossa que legal, e o que você sonhou?

Eu: Sonhei que procurava você por todo lugar e não te encontrava.

Lucy: Igual na realidade né?

Eu: É :(

Depois de um tempo descubro que Lucy estava noiva de um outro cara, e neste momento estou eu aqui, seu narrador melancólico, pendurado em uma das extremidades da Golden Gate, escrevendo a historia mais emocionante que vivi em minha vida, e nada passou de um sonho. Agora estou começando uma nova busca, a busca pela paz, pois depois deste maldito sonho, não tive um segundo de paz, só de saber que nunca poderei ter o amor da minha vida comigo, o sentido da minha felicidade, me desespero.

Desculpe-me, mas acho que por todo o tempo não me apresentei, meu nome é Tom Smith Parker, e estou em busca de paz.

Diego Regys
Enviado por Diego Regys em 13/01/2014
Código do texto: T4647198
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