QUESTÃO DE ESCOLHA
O dia começa quente na empresa. Suzana, chega às 7 h, já com telefone tocando e as mensagens pupulando nos e-mails.
Seu patrão, do outro lado do mundo, nem pensa em parar de trabalhar e para ela o dia está apenas começando.
Suspira, pega um café e vai caminhando para o elevador. Há muitos meses essa cena se repete, sem nenhuma mudança.
Suzana não foge da luta, mas almeja algo mais em sua vida.
Sonha, realmente, não em casar, pois acha que nunca vai acontecer, mas encontrar uma pessoa que a ame do jeito que ela é, com defeitos e acertos.
No princípio, pensou que fosse acertar-se com Reinaldo, filho do patrão, mas depois, descobriu-o exatamente como ele é. Prepotente, incompetente nos negócios, além de gostar de drogas e sexo desenfreado.
Graças à Deus, saíram apenas uma vez, e ao chegarem ao apartamento do rapaz, deparou com uma inesquecível cena. Uma jovem loura, de pouco mais de 18 anos, dormindo ou quase desmaiada, na cama de Reinaldo, que ainda sorriu e disse que ela logo acordaria.
Suzana, saiu, sem ao menos dizer uma palavra e foi para casa sozinha.
Lembrando-se de tudo que passou, chegou em sua sala, com pouco tempo para saborear seu café antes de atender o patrão.
Felício Cerqueira é dono de um conglomerado de empresas, casado com Sofia, e tem Reinaldo como único filho. Cansado da atuação de Reinaldo, e ao descobrir um câncer do qual Sofia é vítima, resolveu mudar de país.
Acompanhado de perto por um amigo médico, Felício e Sofia, mudaram-se de vez para o Japão.
Reinaldo, alertado pelo pai do estado de saúde da mãe, nada fez, pouco se importando com os acontecimentos. Seu comportamento é resultado da educação permissiva dada pela sua mãe, fato sempre combatido e repudiado por Felício, mas que não encontrou campo nem na mãe nem no filho.
Uma vez lá, Felício deu continuidade aos negócios aqui e na filial fundada em seguida. Homem de visão, progressista, em pouco tempo estava estabelecido muito bem nos seus investimentos.
O casamento, abalado por conta dos desmandos da mulher e do filho, ia de mal a pior, sendo seguro apenas pelo estado de saúde de Sofia, que nada progredia, apesar do tratamento especializado em que estava sendo submetida.
Felício, homem de fé e credo, permanece ao lado da mulher, mesmo recebendo dela somente a frieza que lhe é característica.
Enquanto discutiam os detalhes dos negócios, Felício insistia em falar com Reinaldo, sendo impedido por Suzana, que se negava colocar pai em filho em choque apesar de tudo.
Felício, desconfiado que algo acontecia, gritou com a secretária que o colocasse em contato com o filho, ou ele iria pessoalmente resolver as pendências.
Nesse instante, não mais aguentando, Suzana, aos prantos, disse a ele de sua demissão, que ele procurasse imediatamente outra secretária.
Felício, silenciou e ouviu os soluços, impotente.
No dia seguinte, após tomar as providências sobre o tratamento de Sofia, deixando-a nas mãos da competente junta médica, embarcou para o Brasil.
Ao chegar, apesar do cansaço de quase 30 horas de voo, Felício tomou uma decisão e foi direto ao apartamento de Reinaldo. Pois assim saberia exatamente o que acontecia, sem interferência de ninguém.
Uma vez lá, sentiu a surpresa do porteiro que já não o via há muitos anos. Diante da reação do homem, Felício alertou que desse a chave reserva do apartamento e nada dissesse a Reinaldo, ou ele não se responsabilizaria pelos acontecimentos.
O porteiro, palidamente, entregou a chave para Felício, sem pronunciar uma palavra sequer.
Felício subiu ao apartamento do Reinaldo e inicialmente tocou a campainha. Aguardou e nada. O celular do filho nem sinal.
Felício resolveu usar a chave reserva e sem nenhuma surpresa, surpreendeu Reinaldo emborcado em sua cama, sobre o corpo de uma jovem completamente nua. A sujeira reinante era imensa. O cheiro de erva, misturada com bebida e suor era de revoltar o estômago.
Felício não conversou. Foi até a cozinha e trouxe uma grande jarra de água, despejando-a, sem medo sobre os dois.
O susto do casal foi enorme e a jovem levantou-se, apavorada e juntando as roupas, correu para a sala, onde se vestiu como pode e sumiu.
Reinaldo ainda tentou jogar-se contra o pai, mas não tinha forçar para nada, assim sendo, tombou sobre a cama ensopada.
Felício, simplesmente, disse-lhe que tomasse um banho, pois iriam direto para o escritório.
Lá chegando, encontrou uma chorosa Suzana, arrumando suas coisas em duas caixas.
Quando a moça viu o patrão, arregalou os olhos e ficou sem uma palavra. Além de muito zangado, Felício apresentava olheiras fundas e muito escuras, dando-lhe uma aparência selvagem.
Felício a cumprimentou friamente e pediu-lhe que providenciasse uma refeição e em seguida estivesse preparada para uma grande reunião.
Quando a moça tentou argumentar, Felício a impediu dizendo que conversariam sobre a situação dela depois.
Suzana prontamente, ligou para o restaurante da empresa, fazendo os pedidos de Felício. Em seguida aprontou-se e foi para o escritório do patrão.
Ao entrar, a cena seria risível, se não fosse trágica. Reinaldo soluçava como um bebê, de joelhos no meio da sala, enquanto Felício digitava fervilhantemente em seu computador, e perguntava para ele sobre a movimentação das empresas. Como responder, se ele não sabia de nada???
A situação chegou no seu limite e Felício perguntou mais uma vez pelos negócios e Suzana não teve outra alternativa a não se dizer a ele que ela estava gerenciando tudo há mais de seis meses, desde que Reinaldo caíra de vez da gandaia da vida.
Felício respirou fundo, deixando o rosto demonstrar todo cansaço. Nesse momento o restaurante da empresa trouxe a refeição de Felício, dando a todos o momento exato para respirarem mais calmamente.
Suzana encaminhou-se para a saleta anexa, e dispensando os funcionários resolveu ela mesma arrumar tudo, dando um tempo na tensa situação do escritório.
Em sua mesa Felício analisava os relatórios financeiros, os quais para a sua surpresa mostravam um desempenho muito bom naquele período.
Reinaldo, aproveitando a movimentação da chegada da refeição, ganhou a rua imediatamente, sumindo da vista de todos.
De volta ao escritório, Suzana chamou Felício para a refeição para evitar que esfriasse.
Felício a encarou por um longo momento, como se titubeasse, mas acompanhou a moça em silêncio.
Ao entrar, Suzana apenas destampou os recipientes, deixando que Felício se servisse à vontade. Quando ia sair, Felício olhou-a fixamente e convidou-a a partilhar a refeição.
Suzana quase recusou, mas o olhar recebido fez com que aceitasse o convite.
Comeram, em silêncio, de cabeça baixa, até o final.
Após o café, Felício mostrava-se mais descansado, com uma melhor aparência e disse para Suzana que estava pronto para a reunião.
Encaminharam-se para a grande sala onde normalmente a diretoria se reunia e Suzana procedeu com as apresentações de todos os projetos desenvolvidos desde que Felício partira para o Japão. Demonstrou o tempo em que Reinaldo esteve dirigindo tudo e quando começou a se afastar para as baladas.
Felício percebeu que a atuação desgovernada de Reinaldo afetou os negócios por pouco tempo, pois a pronta intervenção de Suzana foi providencial.
Percebeu também o total apoio recebido por ela de toda diretoria.
Intimamente Felício sentiu-se orgulhoso pois fora ele quem a contratara no meio de 30 candidatas, há quase 10 anos atrás, quando ainda era recém-formada.
Felício, de tudo tinha informação, mesmo fora, pois em tempos de tecnologia avançada, nada escapa ao grande empresário. Mas quis acompanhar tudo novamente ao som da voz de Suzana, que ao se integrar no trabalho deixou de se uma assustada ratinha para transformar-se numa tigresa empresária. Felícia acompanhava, embevecido, até mesmo a terminologia empresarial rica e bem colocada usada por Suzana.
Ao terminar a exposição, a moça olhou para o empresário e sentiu uma sutil mudança na sua expressão. Totalmente indecifrável, o semblante do homem nada dizia, e por dentro Suzana suava de nervoso e tensão.
Fechando o notebook, Felício continuou calado, dizendo apenas que por hoje tudo estava terminado, pois o cansaço o impedia até mesmo de dizer algo.
Convidou Suzana para acompanhá-lo, pois iria levá-la para casa e no caminho poderiam conversar um pouco. Deixou o carro na empresa e seguiram de táxi até a residência dela.
(parte I)
Regina Madeira
"imagem do Google"
Bom dia, amigos Recantistas
Fiquemos com Deus, nosso Pai
Graças damos pela vida.
Abraços carinhosos