Uma xícara vazia de café

Como era boba! Tremia quando você chegava perto, inventava histórias, mentiras, o que fosse para ficar do seu lado. Arrumava-me toda quando sabia que iria cruzar com você, na verdade me arrumava todos os dias na espera que isso acontecesse. Não sei se ainda lembra como nos conhecemos, foi muito engraçado, te convidei para tomar um café... Frequentávamos os mesmos lugares, éramos vizinhos, fiz questão de entrar na mesma academia que você, como também fiz na locadora, na padaria, seguia todos teus passos a espera de um beijo seu. Então enviei uma correspondência endereçada a mim na sua porta, esperando que fosse corrigir o engano. Deu certo, era muito esperta e ao mesmo tempo muito boba. Convidei-te para entrar e tomarmos café, eu odiava, mas sabia que você gostava, fiz o seu preferido, ao menos era o que sempre via você comprar na padaria. Você adorou, e eu passei a amar. Porque era uma boba e amava tudo que lembrava você. Passamos a tomar café mais vezes, até ficarmos bem íntimos assim como planejei, do café a cama, o desejo só aumentava, o fulgor nos consumia, nos beijos, nos toques que tanto planejei. Saiu melhor que a encomenda, bendito café, mais as coisas mudaram, viver com você não foi tão divertido quanto te seguir, talvez o erro tenha sido meu quando decidi encerrar meus planos, achei que era sua vez de planejar, era tudo igual, eu enjoei. Eu te amava de verdade, não era apenas mimo, mas era muito boba, achei que tínhamos tudo para darmos certo, você era o vizinho perfeito, mas como namorado, companheiro, deixou a desejar. No começo estava empolgada, esperançosa, mas não demorou muito para você me parecer monótono. Era sempre a mesma conversa inútil. Eu era o seu descanso, seu brinquedo, era o que você queria e não o que eu precisava. Procurava-me apenas por desejo, ora por mim ora por café, e eu, boba, apaixonei-me, até perceber que você não era muito mais do que um vizinho bonito, talvez até fosse um bom companheiro, apenas não quisesse que fosse sua companhia. Acontece, entendo, não reclamo, aliás, você quem está reclamando sem parar, dizendo que me ama, pedindo outra chance, um pouco de atenção, mas se não lembra dei-te muito mais que ‘um pouco de atenção’. Ainda estou procurando um companheiro, mas dando tempo ao tempo, cansei de fazer planos, quem sabe não tem alguém me seguindo e eu não sei. Não se preocupe sempre que quiser pode aparecer para tomar um café, mas vou logo avisando, troquei a marca, aquela era muito ruim, troquei outras coisas que tinham a ver com você também, não tinham mais a mesma graça, mas não guardo magoa, tristeza nem nada. Perceberá se algum dia bater a minha porta a espera de um copo de café. Apenas café. Meu coração agora vale mais, meus carinhos e desenhos já não te seguem também, cansei de ser seu passatempo, as coisas mudaram, grande parte por causa de você, te faltou irreverência, planos, inteligência, para perceber que eu valia muito mais que um copo de café.

Luís Moreira
Enviado por Luís Moreira em 10/01/2014
Código do texto: T4644575
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