Ilusões de Bárbara

‘Mais um copo!’ –Repetia a menina pela quinta vez, entre a desistência e a desilusão, entre o sim e o não, naquela altura, estava mais para o não. Perdia a compostura, a classe, a razão, a felicidade, o cenário não o condizia com ela, mas isso não muito a importava, naquela altura, queria esquecer tudo inclusive ela mesma. A poucos goles de um desmaio, já havia passado do surto, e nada de esquecer, nada de lembrar. Era muita bebedeira para mais um pequeno capricho, mas para ela era o fim, dos romances, das tentativas, da paciência de boa menina, estava farta, dos cuidados, dos carinhos, das dores, dos telefonemas, das ausências deles, de todas as ausências, era muito descaso pra pouco caso, era pouco amor pra muita menina. Outra vez fazendo tudo certo, mais uma vez dando tudo errado, dessa vez decidiu que seria diferente, ela terminaria, seria superior. Então levantou decidida, com passos firmes, apesar de tortos, embriagada, insana, infeliz. Partiu em direção ao carro que não lembrara mais onde deixara, repetindo em seu consciente, momentaneamente inconsciente: ‘são todos iguais’, ‘nenhum presta’. Dessa vez o crime era grave, ele havia esquecido o aniversário de uma semana juntos, na mesma semana que não atendia as ligações, erros graves sem satisfações, nos romances todos os erros são graves, porém mais ainda são a falta de satisfações. Sem muitas condições de dirigir - sem condições de nada - caminhou tortamente para casa enquanto ligava para o namorado que na verdade não existia. Quando o rapaz atendeu, disse poucas e boas, não chorou suas decepções, o que menos queria depois de tantos copos, era mostrar como era frágil, e como se sentia insegura sozinha, então apenas falou de suas canalhices e imperfeições, e disse que estava tudo acabado. Chegando a casa, caiu em prantos, ligou novamente para reatar a separação. O rapaz já sabendo que era engano não atendeu, e após algumas lágrimas, a doce e triste menina pegou no sono. Pobre Bárbara, amanhã uma forte dor de cabeça lhe espera, assim como a vida que ela deixa de viver por todas as decepções criadas, por tantos goles sem sentido, pelo abandono que deu a si, pela tristeza de não amar. Quantos caprichos, dores, desmaios, ilusões ainda serão necessárias para que ela resolva ser feliz. Pobre Barbara, a bebida, a solidão e o desanimo só a faziam esquecer do quão precioso era seu sorriso, sua autoestima, sua felicidade.

Luís Moreira
Enviado por Luís Moreira em 09/01/2014
Código do texto: T4642775
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.