TOM E MARIA

Este conto, caro leitor, pode parecer no inicio, mais uma simples estória de Amor.

Mas asseguro-te que, embora já tenha escrito o final, o objetivo foi escrever algo que realmente aconteceu, e fazer você pensar...

Maria tinha apenas nove anos quando perdera sua mãe, durante o parto de seu terceiro irmão. Naquele instante herdara a responsabilidade de zelar pelos seus três irmãos, e ainda cuidar de seu pai e também de seu avô. A avó jamais conhecera, assim como os avós paternos, pois, antes de nascer, seus pais optaram por cultivar o solo naquela terra tão distante.

A cidade mais próxima estava a dias de carroça. Sua casa, embora feita de barro, tinha os caprichos de um pai preocupado com conforto. Não havia eletricidade, nem gás, mas Maria logo cedo aprendera a lidar com fogão a lenha e com as lamparinas a querosene.

Uma vez, a cada quinze ou vinte dias, “Seo” Tião, o mercador, ia visitar a roça levando sua mercadoria. E fazia trocas com o pai de Maria, levando principalmente arroz, batatas, querosene e pilhas. Em troca levava milho, hortaliças e um pouco do leite tirado no dia. Tom, filho de “Seo” Tião, o mais novo, fazia questão de descer da carroça e separar com “Seo” Quinho, pai de Maria, o escambo, enquanto seu pai seguia para outras roças.

Era tempo suficiente para Tom trocar as pilhas do rádio de Maria e ainda limpar a fuligem do fogão. Tom, bom rapaz, bons dentes, era 6 anos mais velho que Maria, alto e esguio, um belo moço. Maria ainda criança, cuidava dos irmãos, e do bebê como se mãe fosse. Enquanto seu pai e seu avô saiam bem cedinho para a roça, Maria, apenas nove anos, já havia preparado as marmitas e cuidado da casa, e..., obviamente..., encantara-se com Tom.

Três anos se passaram nesta rotina. Não havia relógio na casa, mas é certo que Maria despertava por volta das 04:30, caso contrário não conseguia deixar tudo bem preparado. O fogão deveria permanecer aquecido, pois ainda cedo preparava o almoço de seus irmãos. A propósito, Maria agora tinha quase 13 anos e seus irmãos tinham 8, 6 e 3 anos.

Antes do por do Sol, seu pai e seu avô viriam, e então o caldo de legumes e a broa tinham de estar a espera. Era a própria Maria quem trazia a lenha, sempre, menos quando Tom aparecia.

Tom era uma das poucas pessoas que Maria conhecia. Além dele, um tio r a família faziam algumas visitas. Também um velho, muito esquisito ia ao sítio de vez em quando e examinava-lhe os dentes e a barriga. Dona Ana também ia visitar-lhe, e sempre levava algumas compotas.

Mas Maria, doce menina, criança, adulta, estava sempre esperando a visita de Tom. Toda vez que Maria ligava seu rádio imaginava Tom vindo e trocando as pilhas. Sonhava, ingenuamente.

Agora Maria completa 15 anos, e como todo sacrifício “Seo” Quinho preparou-lhe uma linda surpresa. O rancho transformara-se em um grande arraial, e tantas pessoas, tanta gente reunida, gente desconhecida, como nunca houvera visto. ‘”Seria isto a cidade?” – Pensava ingênua Maria. – Desarrumada, despreparada, mas também pouco importava, pois naquele momento custava sua mente poder entender... Até que avistou “Seo” Tião e sua carroça. Ali deveria estar Tom.

Maria então correu para dentro de casa, e como ouvira no rádio, instintivamente preparou-se e saiu, e apresentou-se, menina, mulher. Maria tornou-se bela, seus pequenos seios realçavam-se no modelo que copiara de uma boneca com o tecido de um antigo lençol. Puxara seu cabelo para trás e prendera com uma fita. Sem maquiagem suas sardas exaltavam as rosadas maçãs de seu rosto, e andava descalça, porém deslizava sobre a terra como se desfilasse em uma passarela.

Neste instante, Tom deparou-se com uma mulher. Neste momento, Tom se esqueceu da criança sardenta que sempre ajudara. Foi num segundo que Tom se apaixonou. Talvez ele já fosse apaixonado por Maria, mas somente agora descobrira. Maria olhou dentro dos verdes olhos do rapaz e escravizou seu pensamento.

Como poderia uma inocente criança fazer tamanho balburdia com os instintos de Tom. Um rapaz até certo ponto experiente, mais de 20 anos, e o pior, depois de tanto tempo. A noite foi longa, foi uma festa inesquecível. Pela manha, após seu pai e seu avô saírem, Maria foi até o local da fogueira. A brasa ainda ardia e..., sonhando acordada viu Tom sair de lá do meio ao seu encontro. Algo estava para acontecer.

Poucos dias depois da festa, Maria estava cuidando das hortaliças quando de longe viu a carroça do “Seo” Tião. Porém só havia um ocupante. Tom, calmamente aproximou-se, tomou Maria nos braços e a beijou. Maria abria e fechava os olhos compulsivamente, e apertou Tom contra seu corpo com a mesma força que levara a vida até agora. O rapaz, mais experiente, logo percebeu que a menina estava entregue. Tom então se mostrou homem, e uma longa conversa se seguiu no encontro. Maria, embora pura, mostrou conhecer alguma coisa, teoria adquirida pelo rádio, mas, mostrou muito mais e logo se declarou para o rapaz, confessando o Amor já tão antigo.

Tom, delicadamente, tirou a blusa da moça e depois a própria camiseta. Abraçou Maria e pela primeira vez Maria sentia seu corpo nu. Maria comprimiu o semblante e num gesto abrupto empurrou Tom, e mesmo de peito nu correu para dentro de casa.

Passaram-se dias, semanas, e Maria não conseguia pensar em outra coisa a não ser sentir o peito de Tom junto ao seu. “Seo” Tião fora duas vezes ao rancho sem levar Tom. (Será que ele está chateado comigo?) – pensava Maria.

- Tom está estranho – dizia “Seo” Tião – Meu filho não come direito, não quer mais estudar, acho que tenho que levar o menino para a capital.

-- Dois meses depois –

- Pai – diz Maria – Quero lhe pedir uma coisa.

- Então peça minha filha.

- Quero conhecer a vila, o senhor me leva?

“Seo” Quinho, com toda a vivencia logo percebeu:

- Minha filha, se é Tom que desejas ver, levo-te amanhã bem cedo.

De manhã, bem cedinho, Maria estava pronta. “Seo“ Quinho deixou os afazeres e levou a moça ao encontro do rapaz. Era a primeira vez que Maria saia do rancho. Maria embebedou-se com a longa viagem de mais de 4 horas até chegar a vila onde Tom morava. Lindas paisagens só a fizeram alimentar a euforia de encontrar o seu amado. Mal “Seo” Quinho para a carroça e Maria desceu e correu. Enquanto Maria ia ao encontro de Tom, “Seo” Quinho conversava com Tião.

- Acho que vamos casar nossos filhos.

- Fico muito satisfeito – disse “Seo “ Tião – sua filha é realmente uma linda moça.

Enquanto conversavam, Maria encontrou Tom, e sem dizer uma palavra o abraçou e começou a chorar. Tom mais uma vez tomou a menina nos braços. E em seus fortes braços a beijou.

Maria tremia e não podia conter suas lágrimas. Os braços de Tom percorriam toda a cintura de Maria, onde cada mão quase que encontravam seu próprio corpo. “Seo” Quinho consentiu o namoro, porém exigiu que logo se realizasse o casamento. “Seo” Tião concordou e daí partiu os preparativos. Tom e Maria, Maria e Tom, com certeza o casal mais bonito que houvera naquele vilarejo.

- Um mês depois –

A felicidade era o retrato de Maria. Uma vez por semana Tom ia até o rancho para visitá-la, e hoje era o dia. Já estava combinado. Tom deveria chegar logo após a hora do almoço, pois assim poderiam ficar mais tempo juntos. Pouco depois das 11:00 Tom chegou, Maria estava linda, mais bela que naquele dia da festa. Seus irmãos já tinham almoçado. Joaquim, seu irmão mais velho, com 10 anos, deveria zelar pelos mais novos, enquanto Maria ia andar a cavalo com Tom.

Assim foi, Maria montou a garupa de Tom e seguiram pela estrada vicinal. Próximo a uma linda lagoa, Tom apeou e tomou Maria em seu colo. Novamente, com muita sutileza, tirou a blusa de Maria e a beijou. Maria, desta vez, não correu. Retribuiu o gesto de Tom tirando a camiseta do rapaz. Maria, quase 16, Tom 21, o rapaz deslizou a boca até o pescoço de Maria e prosseguiu até seus perfeitos seios. E continuou até que mordiscou sua barriga.

Maria, inerte, entregou-se a avidez do jovem, que a deitou a margem de um braço da lagoa. Despida, completamente, pode sentir os carinhos de Tom, que soube amá-la plenamente, fazendo daquele momento alguma coisa realmente especial. Por horas o casal ali permaneceu, sob uma imagem paradisíaca, pelo menos para os dois.

Tom amou Maria, uma, duas, três vezes, até a hora de retornar.

E novamente na garupa de Tom, Maria pôs-se a “caminhar”. Maria se sentia mulher. Talvez nem fosse esta sua certeza, mas certamente era este o verdadeiro sentimento. Sentia ainda Tom dentro de si, com todo carinho que somente ele podia lhe oferecer. Seus braços, seu corpo, seu cheiro, nunca iriam desprender-se da sua mente.

Tom cavalgava como um guerreiro que acabara de vencer uma batalha. Transformara-se novamente em um menino e até então este foi o fato mais marcante em sua vida. Seguiram o caminho sem trocar uma só palavra, até que, as vistas do rancho perceberam uma fumaça.

Tom então tocou a galope e Maria agarrava-se a ele ainda sem conseguir entender o que estava acontecendo. Quanto mais se aproximavam do rancho, mais densa era a fumaça, e, quase junto com seu pai e seu avô, Maria chegou ao rancho.

Observando o fogo que consumia a casa de pau a pique, duas crianças abraçadas choravam. Maria então logo percebeu que “Arturzinho”, seu irmão caçula havia ficado do lado de dentro, e daí não resistido. O avô de Maria, muito apegado ao menino também não resistiu a tragédia e faleceu alguns dias depois.

Pobre Maria, a doce menina, agora mulher, culpava-se pelo ocorrido e ao mesmo tempo ajudava ao pai a reconstruir sua casa. A perspectiva da menina, que durante seis anos fora mãe e mulher, mudava da felicidade pela culpa. Lá estava a menina sardenta, cabisbaixa perante ao pai, e agora impura aos olhos de Deus. Não podia mais esconder tamanha tristeza.

Tom tentava consolá-la de todo jeito, mas a menina estava irredutível, seus olhos caíram, sua boca amargou-se, sua voz calou e ela caiu.

Desesperados, “Seo” Quinho, “Seo” Tião e Tom levaram a menina até a capital. Com um pouco mais de recursos Maria foi examinada e veio a constatação: Maria está esperando um bebê.

Sentimentos de alegria e aflição misturaram-se ao “Seo” Quinho e Tom, que prometera casar-se imediatamente. Pobre rapaz que tanto amou. Tom sempre fora um bom rapaz, e ainda o é.

- Muito tempo depois –

Tom agora é quem toca a roça, seu pai, “Seo” Tião, já se foi faz algum tempo. Todo o povoado admira Tom pelo verdadeiro amor que ele cultua a Maria, e o tomam como exemplo de verdade e dedicação. Quem dera se no mundo todos fossem “Toms”, de puro coração. O amor, ainda que tardio, desperta a vida.

O amor é único e é uma só vez na vida. Pelo menos para Tom.

Tom jamais se casou ou se envolveu com outra mulher novamente, e até hoje dedica sua visa a adorar Maria. Pobre moça, linda menina, morreu no sexto mês de gravidez, não suportou a depressão da tragédia em sua casa.

Certamente levou no coração a maior riqueza de uma vida, o amor simplesmente por amar.

O povo da vila resolveu prestar uma homenagem ao amor mais puro que por lá acontecera, e então, num pedaço rasgado de papel escreveram.... (o final previamente anunciado):

POBRE MARIA,

LINDA MENINA,

CHEIA DE VIDA, ALEGRIA REPLETA

LINDA MARIA,

POBRE MENINA,

TERIA ELA SUA SINA COMPLETA?

CUIDOU DOS IRMÃOS, DO PAI, DO AVÔ,

AINDA CRIANÇA FOI MÃE E MULHER

A VIZINHANÇA AINDA COMENTA

EMBORA PASSADO TANTO TEMPO

SUA TRISTE HISTÓRIA ALIMENTA,

E TRÁZ A TONA O SENTIMENTO

DA INCREDIBILIDADE.

DA DÚVIDA...

DA DÚVIDA DA JUSTIÇA DIVINA.

FERIU SUAS MÃOS, SUA PAZ, SEU AMOR,

NA ESPERANÇA DE TER... APENAS POR ACREDITAR

QUE PODEMOS TER TUDO O QUE SE QUER.

SERÁ PIOR PARA TOM?

POBRE RAPAZ QUE TANTO AMOU?

ALGUNS DIZEM QUE É LOUCURA,

MAS AINDA TEM QUEM AFIRME

QUE JAMAIS TESTEMUNHOU

TAMANHO SOFRIMENTO

OUTROS DIZEM QUE SUA AMARGURA

É PELA CULPA QUE CARREGA.

SOBRE ISTO HÁ QUEM CONFIRME

QUE O SONHO QUE SE SONHOU

FOI AMOR EM JURAMENTO

E É POR ISTO QUE O RAPAZ

ENTÃO JAMAIS SE CASOU E PERAMBULA PELAS RUAS

MURMURANDO BEM BAIXINHO:

DEUS ME LEVE POR FAVOR, PARA PODER ENCONTRAR.

MARIA MEU AMOR, MINHA VIDA,

MINHA DOR E MEU CASTIGO.