Paixão Instantânea
Muita gente que conhece esta história garante que é porque tinha que acontecer. Outras pessoas, já apostam que foi obra do destino que fez a sua parte para que tudo desse certo. Os mais científicos, contudo, acreditam em coincidências ou obra do acaso.Tudo aconteceu quando Moacir, logo que terminou seus estudos, foi passar uns dias com sua família em sua cidade natal. Logo que chegou, acompanhou seu pai, numa viagem de negócios, a uma cidade vizinha. Não queria ir, mas o pai insistiu tanto, que ele acabou indo.
Ao chegarem à cidade foram convidados para uma festa de casamento na casa de um velho amigo da família. Ao entrar na sala, Moacir viu Irene, uma bela jovem, morena de olhos pretos, cabelos longos, em uma mesa. Algo inesperado aconteceu. Entreolharam-se durante uma fração de vida. Irene vagou pelas feições gentis, amáveis de Moacir e sentiu seus olhos penetrantes despir seu coração. Moacir se encantou com a imagem delicada e ao mesmo tempo decidida de Irene.
Os donos da festa os convidaram a se sentar em uma mesa próxima a de Irene e seus pais. Sendo eles também amigos da sua família, Moacir foi apresentado a eles. Seus olhos se entrelaçaram novamente numa reação química de trocas de confidências profundas. Sentado em sua mesa, Moacir extasiado não conseguia deixa de olhá-la. Encantado, observava todos os seus movimentos, o jeito de falar, de mexer nos cabelos, de sorrir.
O sanfoneiro começou a tocar e as pessoas se levantaram para dançar. Moacir se encheu de coragem e convidou Irene. Ela disse que não podia, era noiva. O noivo estava ausente, mas, iam se casar em breve. Tudo já estava preparado. O enxoval e o vestido já estavam prontos. A festa de casamento aconteceria na sua casa a menos de três meses. Mesmo sabendo que ela era noiva, ele insistiu. Pediu permissão aos pais. Eles não vendo nenhum mal, consentiram que ela dançasse. Começaram a dançar com timidez. Depois, a conversa fluiu e se estenderam por mais tempo do que previam. Continuaram dançando, conversaram, gastaram o tempo. Foi aí que ele se deu conta de que tinha encontrado a mulher de sua vida. E revelando sua paixão instantânea, com voz trêmula e emocionada a pediu em namoro. Ela recusou, apresentando, novamente, o argumento de que era noiva. Mesmo assim, continuaram a dançar. Só pararam de dançar quando os pais dela a chamaram para ir embora. Despediram-se com um sorriso.
No outro dia, o pai voltou sozinho para casa por que Moacir decidiu ficar na cidade mais alguns dias. Queria conquistar a moça. Mesmo sem entender sua decisão de permanecer ali, seu pai o deixou sem perguntas. O reencontro com Irene foi precedida de reflexão e sobressaltos. Moacir calculou o pretexto mais adequado – demonstraria interesse pelos amigos do seu pai visitando-os.
Ficou por algumas horas, inquieto, fantasiando enredos para o seu encontro; além de se municiar de muita coragem para dizer o que pretendia, depois, saiu sem pressa, mas com muito animo para chegar a casa dela. Passos firmes, cantarolando baixinho, chegou. Apesar da angústia de não saber como seria sua reação, quando o visse, estava contente. Por fim chegara a hora de mudar o seu destino. Dentro de alguns minutos, pediria a mão de uma moça que conhecera numa festa sem saber se ela aceitaria, pois era noiva de outro. Há algumas horas a viu pela primeira vez. Conversaram pouco, mas tivera a impressão de que ela não ficara indiferente a seu olhar. Conversa rápida, despedida polida quando se separaram. Nada mais. Com este pouco se moldou os contornos de um romance platônico, e agora, que-ria se casar com ela.
A porta se abriu. Ergueu a cabeça. Ali, a poucos metros, um sorriso. Era ela. Ele entrou. Os pais convidaram-no a se sentar. Sem rodeios, fez o pedido de casamento. Foi uma surpresa para todos. Ela surpreendeu mais ainda, aceitando-o. Ele não esperava que a resposta fosse tão rápida e satisfatória. Sorrindo perguntou: “Que tal casarmos em três dias”? E Irene firme, respondeu positivamente. Moacir ficou feliz da vida. O mais inesperado foi o fato de Moacir ter tomado essa decisão há apenas dez horas depois de conhecer Irene. E após cortejá-la platonicamente, durante três horas no baile.
Três dias depois, o casal subiu ao altar da igreja de São Domingos. Três dias depois, voltou para sua cidade levando a moça. Ao chegar, disse aos pais e irmãos:
- Esta é Irene, minha esposa.
E assim, começou uma nova etapa de suas vidas, cheia de alegrias, amor, dificuldades e muito trabalho. E se passaram os anos. Moacir e Irene viveram juntos trinta e cinco anos e tiveram sete filhos. Ele morreu em março de 1983 e ela seis meses depois.