ANDANÇAS - A HISTÓRIA DE MALENA (Vida e Superação de Vida) PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULO 11

Para me desligar definitivamente de Pedro eu teria que sair de Búzios. Por mais que eu desejasse continuar próximo a minha prima estava sendo difícil. Isto seria bom para mim, pois sua companhia ajudava-me a esquecer um pouco as minhas dificuldades. Por outro lado precisava me expandir, conhecer lugares novos e pessoas diferentes. A rotina de estudo e trabalho dos últimos anos privara-me de viver, fazer amigos; era disso que eu vinha sentindo falta. Talvez por isso a insistência em requisitar do meu ex-marido que me colocasse um pouco mais em contato com a sociedade, que me apresentasse a pessoas do seu círculo. À medida que o tempo ia passando eu percebia mais claramente que era o ciúme o grande responsável por quase todas as suas recusas, o que acabou por me desgastar completamente. Creio que o encontro da carta e a descoberta de sua traição não passaram de uma gota d’água sobre o que já vinha acontecendo entre nós. Meus contatos com minha família seguiam regulares, por carta e por telefone e eu prometera a mamãe que lhe faria, muito em breve, uma visita. Tinha, portanto de cumprir minha palavra; a saudade dela e de meus irmãos era maior a cada dia. Porém, só o faria após decidir-me sobre o locar onde deveria fixar residência.

Uma amiga de minha prima que nos visitara em certa ocasião demonstrou por mim grande simpatia e em nossas conversas falei da insatisfação com o meu casamento. Mostrou-se disposta a me ajudar no que eu precisasse e ofereceu-me pousada em sua casa pelo tempo que eu achasse necessário. Já não era tão jovem, havia ficado viúva poucos anos atrás e morava com um casal de filhos. Segundo fiquei sabendo depois por minha prima, sua condição social era excelente em função da fortuna que lhe deixara o marido. Morava na região nobre de Cabo Frio. Caso eu aceitasse a sua oferta, teria que deixar meu filho com minha prima até que eu me estabilizasse por lá. Embora ela tenha permitido que eu levasse a criança eu acharia por bem não levá-la, pois minha intenção era continuar trabalhando e estudando e não sobrecarregar ninguém de trabalho por minha causa. Sendo assim, depois de pesar prós e contras decidi aceitar aquela oferta. Fiz um contato por telefone com essa senhora e, dias depois estava de malas prontas para uma nova etapa de minha vida. O que me esperava por lá eu não tinha a menor ideia, mas fui, mesmo assim, carregando confiança e muita expectativa.

Antes, porém fui com meu filho ao Rio de Janeiro visitar minha mãe e meus irmãos. Passei com eles um domingo bastante agradável. Era a terceira ou quarta visita que eu fazia a minha velha casa. Por não haver outro jeito e sabendo que a atitude que eu tomara de deixar a família e tocar sozinha a minha vida foi para o meu próprio desenvolvimento como pessoa, ela já havia há muito se conformado. Quanto ao meu padrasto, tive que esforçar-me ao máximo para não demonstrar que ainda havia um pouco de ressentimento em meu coração pelo que houvera entre nós, mesmo depois daqueles anos já transcorridos. Nunca mais consegui dirigir-lhe normalmente a palavra e todas as vezes em que com ele falava era em resposta a uma ou outra pergunta que me fazia. Tudo havia ficado em um passado em que imperava a inocência e o medo. Eu não passava de uma adolescente sem qualquer maldade ou experiência da vida. Agora ele via em sua frente uma mulher determinada e dona de si, mas que não conseguia esconder totalmente o resquício de decepção pelo que havia passado. Não podia avaliar ali até que ponto aquilo influenciaria o meu futuro. O certo é que não conseguira ainda esquecer nem perdoar. Mamãe seguia inocente, sem qualquer conhecimento da verdade e em prol de sua felicidade, exclusivamente por isso, eu deixaria que continuasse assim.

Ao mesmo tempo em que me divertia e matava a saudade dos meus entes queridos procurava aproveitar ao máximo as últimas horas que passaria ao lado do meu filho; isto porque no dia seguinte deixá-lo-ia em casa de minha prima a fim de seguir viagem para Cabo Frio. Mesmo não sendo tão distante de Búzios eu não o veria por umas duas semanas até que estivesse totalmente fixada por lá, profissionalmente inclusive.

Nunca antes havia tido contato tão próximo com a riqueza. Conhecia-a por ouvir falar e através de leituras ou pesquisas sobre personalidades aquinhoadas com a abundância. Portanto, percebi que começaria ali uma etapa completamente nova em minha vida; eu precisava aprender a lidar com ela. O mundo dos ricos parece um mundo à parte, em muitos aspectos seu comportamento difere das pessoas comuns. O dinheiro deixa de representar problema e seus interesses acabam se voltando para outras finalidades.

Quando a senhora que me havia aceitado como hóspede soube que eu procurava trabalho dispôs-se prontamente a me ajudar. Ao tomar conhecimento da minha aptidão para idiomas estrangeiros descartou imediatamente os empregos que eu tinha em vista pesquisar na cidade, segundo lhe relatei. Em sua opinião eu poderia crescer muito mais rapidamente montando minha própria empresa ao invés de trabalhar para terceiros. Sempre que falávamos sobre negócios e como ganhar dinheiro ela não perdia a oportunidade de elogiar-me, falando de minha ótima aparência e minha forma espontânea de se comunicar. Como ganhar dinheiro era sua especialidade eu estaria muito bem e subiria às alturas se confiasse nela e em seus conselhos.

Os filhos eram pessoas simpáticas e muito bonitas. A menina não trabalhava, mas passava a maior parte do tempo fora de casa. O rapaz fazia um trabalho de meio expediente na própria escola em que estudava como instrutor de educação física; o restante de seu tempo era empregado em constantes idas à praia, acompanhado de sua prancha de surfe. O auge da juventude e o porte atlético certamente chamavam a atenção de qualquer menina e não foi diferente comigo. Mas logo descartei essa possibilidade; ele era mais novo que eu e, por suas palavras, preferências e atitudes não devia ter a metade da experiência que eu já tinha do mundo. É provável que o passado tenha deixado em mim marcas que me levaram a ter predileção por homens mais velhos. A atração que sentira por Pedro foi uma prova real desta faceta de minha personalidade. Não posso afirmar com certeza o que levava o filho de minha amiga a ser tão cuidadoso e reticente ao lidar comigo; não sei se por alguma espécie de medo ou cuidado excessivo.

Era respeitoso ao extremo, pouco se soltava. Segundo a irmã, com quem eu conversava com mais frequência, este não era em absoluto o seu jeito de ser; apenas comigo agia daquela maneira. Por mais que eu tentasse extrair do garoto um sorriso ou frases mais longas e informais, mais o sentia retrair-se, quando não inventar uma desculpa e se ausentar.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 02/01/2014
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