ANDANÇAS - A HISTÓRIA DE MALENA (Vida e Superação de Vida) PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULO 10

Essa situação desagradável perdurou durante mais dois anos e eu comecei a pressentir que isto determinaria a nossa separação; não propriamente pelo fato em si, mas pelo comportamento de Pedro que começou a mudar a partir do terceiro ano da nossa união. Comecei a ficar insegura quanto ao meu futuro caso nos separássemos. O que alegrava os meus dias e afastava por vezes as preocupações era o filho que Pedro havia me dado. Já não era tão frequente sairmos juntos e nossas viagens a passeio diminuíram bastante. A ociosidade de Pedro já estava me causando agonia e fazendo com que esfriasse o amor que sentia por ele. Meus poucos passeios, fazia-os com minha prima. Eu me afastara do hotel em que trabalhara para ganhar meu bebê e acabei prolongando por mais dois meses a minha licença maternidade por conta de uma enfermidade que adquiri. Ao retornar encontrei outra pessoa em meu lugar e perdi minha vaga. Não me importei muito com isso e, em parte, agradeci, pois, além de não estar precisando muito de dinheiro por pouco gastá-lo e ter todas as despesas assumidas por meu marido, receberia uma ótima indenização por ter sido mandada embora. Logo, o que eu mais precisava, que era tempo para organizar minha vida e programar meu futuro é o que acabei conseguindo.

Pedro passou a gastar mais dias fora de casa do que ao meu lado e ao lado do filho e eu passei a levar dias seguidos em casa de minha prima; pouco nos víamos. Apenas sabia que ele tinha aparecido pelos sinais deixados por sua presença: louça na pia, uma peça de roupa atirada a um canto ou algo do gênero. Foi meramente o acaso que me fez descobrir a verdadeira razão das viagens de meu marido ao sul e porque nunca quisera que o acompanhasse. Numa de minhas idas à casa, ao recolher umas peças de roupas suas para lavar encontrei, em um dos bolsos de sua calça uma carta do sul. Era exatamente do que eu estava precisando para desvendar a verdade; por isso abri-a avidamente para a leitura. Nem bem chegara à metade do texto, já sabia exatamente do que se tratava. Pedro possuía uma amante, esta sim, herdeira e riquíssima que, ao manter com ele, já de longa data um conluio amoroso sustentava-o de forma abastada e regular.

Por suas palavras era tremendamente apaixonada e louca de medo de perdê-lo, pois, de idade avançada, achava-se velha demais para ele e por isso mantinha-o ainda ao seu lado a troco de quantias altas e regulares. Não precisei ir adiante na leitura para entender o que já estava claro. O resto da escrita não passava de promessas de amor eterno e de muito mais dinheiro, o tanto quanto precisasse. Senti-me enojada em saber que estava casada com um homem interesseiro, um gigolô barato e vazio. Se pelo menos utilizasse o dinheiro fácil que conseguia em ações mais louváveis, isso talvez compensasse a vida nababesca que vinha levando. Imagino o que não estaria fazendo em suas longas e constantes ausências de casa.

Foi naquele momento que tomei, definitivamente, a decisão de me separar de Pedro. Vivíamos mais como amigos ultimamente, já quase não havia intimidade entre nós, pouco nos víamos; então não havia momento mais propício do que aquele. Sendo alugada a casa em que eu estava morando com meu filho, não me restaria nada além de devolvê-la ao proprietário. Minha atitude imediata em relação a Pedro foi escrever-lhe um bilhete exatamente atrás da carta proveniente de sua amante pedindo-lhe que não mais me procurasse, pois estava encerrado, a partir daquela data, o nosso relacionamento. Se quisesse ver o filho poderia encontrá-lo e visitá-lo à vontade em casa de minha prima e seria, ali, muito bem vindo como sempre o fora. Parece que estava delineando-se, a partir daquele momento, em minha vida uma nova etapa que, todavia era para mim totalmente desconhecida. Sentia-me sem chão e sem perspectivas. Passei uma temporada em casa de minha prima, mas num estado de espírito deprimente e arrasador porque não queria em hipótese alguma voltar a me encontrar com meu ex-marido. O tipo de vida que escolhera para si era, em minha opinião, medíocre e desbotado. Como alguém conseguia viver, embora com dinheiro, uma vida sem um objetivo elevado, sem um plano futuro dependente de um esforço ou projeto? Passei a compreender como era vazia e insignificante a vida de Pedro; não foi atoa que esfriara completamente o meu amor por aquele homem.

Por maiores que fossem as minhas precauções no sentido de evitá-lo e por mais articuladas que fossem as mentiras de minha prima para esconder dele que era aquele o meu paradeiro nada disso adiantou. Ele passou a vir, não com a mesma frequência que antes vinha quando nos conhecemos e iniciamos o nosso namoro, mas pelo menos duas vezes por semana aparecia e depois de conversar um pouco com ela indagava de mim, querendo me ver, mas dificilmente eu aparecia. As poucas vezes em que surgi em sua presença foi por causa de meu filho que estava brincando na sala e aí não consegui evitá-lo. Cheguei a sentir pena de Pedro, mas meu coração me pedia que eu não voltasse mais para ele. Eu mesma não compreendia essa minha determinação em não querer voltar atrás depois de uma decisão tomada. Era como se meu destino me estivesse preparando uma espécie de vida que não tinha nada a ver com aquela de mulher casada ou pelo menos mulher para viver eternamente ao lado de um marido. Não sabia dizer se era isto ou não o que estava sentindo, mas no caso de Pedro não havia espaço para outro tipo de sentimento. Talvez não visse nele a personalidade forte de um homem que sabe conduzir ou dominar uma mulher. Só o tempo e o meu futuro iriam me mostrar o que realmente eu estava querendo da vida.

Aos vinte e um anos incompletos, portanto, saía eu de um casamento fracassado para dar em minha vida um novo passo que nem eu mesma tinha certeza de qual seria. Por mais que eu desejasse fazer a vontade de minha prima que era morar um tempo em sua casa até que eu decidisse o que fazer do meu futuro eu não consegui; e a razão desse impedimento não era outra senão as insistências de Pedro em reatar comigo. Eu já estava convicta de que a separação tinha sido o melhor para nós dois. Ele, definitivamente não nascera para o casamento. Sua única intenção era se aproveitar das mulheres e viver uma vida e puro parasitismo. Portanto, que fosse feliz lá a sua maneira. Tornou-se insustentável minha convivência naquela casa. Nas poucas vezes em que com ele conversava, já que era praticamente impossível evitá-lo, por mais que eu falasse de nossas diferenças, de como decepcionada eu me encontrava, dizendo que procurasse me esquecer, que não mais o amava era como isso aguçasse ainda mais a sua persistência. Então não tive alternativa a não ser me afastar de fato a fim de não dar a ele nenhuma espécie de esperança.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 02/01/2014
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