O Choro da Amante
A dor era dilacerante e minha! Chorei mais do que a viúva? Nem percebi. Se a Dona Tereza se incomodou com o fato, nada me disse, pois as condolências foram todas dirigidas a ela, como legítima esposa do homem que naquela hora recebia as homenagens finalizantes de sua existência.
Fui morar com eles quando seus dois filhos eram adolescentes e eu, oito anos mais velha que o garoto, o Hobson. Eu, moça de família muito pobre, fui convidada - e, obrigada por minha mãe, que via a oportunidade de ver um de seus nove filhos, bem vestido e alimentado -, a morar com eles e ajudar nas tarefas da casa. Não chorei por muito tempo a falta de mãe e irmãos. Realmente, saciar a fome é uma das coisas mais importantes da vida. O padre João que me desculpe, mas rezar com fé requer algum sinal de que seremos atendidos. Tudo bem, eu alcancei a Graça, mas rezava, era pela minha família inteira!
Apeguei-me, ao longo desses dezoito anos, à essas pessoas. Penso que até demais. Dona Tereza tornou-se uma grande amiga, mas, o Seu Osvaldo... Ah, o Seu Osvaldo... Esse homem que enterramos, tornou-se o símbolo masculino que sempre imaginei. Eu não sei como vou prosseguir a vida sem ele. Não parece justo! Não é justo.
Quem me chamou a atenção, duramente, sobre meu choro desconsolado durante o velório, foi o Hobson. Ficou indignado com minha – segundo ele – confirmação clara do que todos comentavam há muito tempo, em cochichos e também com indiretas, de minha relação amorosa com Seu Osvaldo. A ‘traidora’, a 'amante' que se dava ao desfrute bem nas fuças da coitada da Tereza...
Ao ouvir as reprimendas enciumadas do filho do querido falecido, não me contive. A raiva juntou-se à dor e, encarando-o nos olhos, gritei-lhe essas palavras:
- Hobson, chega! Eu não aguento mais seus ciúmes. Quantas vezes preciso dizer que o Seu Osvaldo foi o pai que nunca tive? Que o carinho que sentia por ele era de filha? Por que se deixou envenenar assim?
Ao que ele, também alterado, respondeu:
- Lúcia, você sabe que eu deixaria minha mulher no momento em que você quisesse... Sabe que desde que nos tornamos amantes há dez anos atrás, é difícil para mim esconder meu amor. Você nunca quis assumir, até me empurrou para um casamento para manter minha família unida, como sempre me diz. Agora, todos estão comentando seu ‘espetáculo’ no velório e seus ares de segunda viúva. Fico louco só de pensar nisso. Eu não vivo sem você e....
Não conseguimos mais falar nada. O grito de dor que ouvimos foi um só, mas, foi emitido por duas pessoas ao mesmo tempo: Dona Tereza e sua nora.
Não há movimentos em câmera lenta na vida real. A mãe caiu rápida e duramente; sua mulher vomitou num jorro repentino, caindo de joelhos ao mesmo tempo.
Eu estou, agora, andando sem rumo. Isso tudo aconteceu há umas 12 horas, mais ou menos. Não aguentei o que vi. Deixei todos lá, cada um com sua dor. A minha, ainda é pela morte do homem que, como um pai de sangue, me ensinou, me acalmou, me deu carinho e fez-me sentir parte de sua família. O que há ou houve, entre mim e seu filho eu supero, por mais que o ame. E eu o amo de verdade. E, talvez por isso mesmo, a maior parte da dor é por nunca ter conseguido terminar esse caso e pedir perdão ao pai que Deus colocou na minha vida, por tê-lo traído dessa forma.
Amante do Seu Osvaldo? De jeito nenhum! Amante do Hobson; do adolescente que ajudei a fazer deveres de casa, para quem eu torcia, junto com seus pais, nos jogos de Futsal e, por quem me apaixonei. Eu o Seduzi quando completou dezoito anos. Ele se apaixonou. Foi por ele que dispensei os pretendentes que apareceram.
Não pretendo voltar. Fugir, como estou fazendo, é a melhor solução. O Hobson pode lidar com a situação que seu ciúme causou. Eu, só vou antecipar o que logo iria acontecer: estou envelhecendo... Ele vai me deixar, eu sei. Nunca cobrei nada dele.
Ainda não tenho destino, mas vou andando, parando quando canso. Logo vai escurecer... Minha família de sangue mora na cidade vizinha, para onde meus passos estão me levando, mas não é para eles que volto. É para o padre João que vou pedir abrigo. Foi ele quem me ensinou a rezar e sempre me dizia que “Deus escreve certo por linhas tortas”.
Eu andei por caminhos tortos, no entanto, sempre soube que estava tudo errado. Preciso pedir perdão, então, pedirei diretamente a Deus se, antes, padre joão me explicar o motivo que Ele tem para não escrever de uma maneira que eu entenda.
A dor era dilacerante e minha! Chorei mais do que a viúva? Nem percebi. Se a Dona Tereza se incomodou com o fato, nada me disse, pois as condolências foram todas dirigidas a ela, como legítima esposa do homem que naquela hora recebia as homenagens finalizantes de sua existência.
Fui morar com eles quando seus dois filhos eram adolescentes e eu, oito anos mais velha que o garoto, o Hobson. Eu, moça de família muito pobre, fui convidada - e, obrigada por minha mãe, que via a oportunidade de ver um de seus nove filhos, bem vestido e alimentado -, a morar com eles e ajudar nas tarefas da casa. Não chorei por muito tempo a falta de mãe e irmãos. Realmente, saciar a fome é uma das coisas mais importantes da vida. O padre João que me desculpe, mas rezar com fé requer algum sinal de que seremos atendidos. Tudo bem, eu alcancei a Graça, mas rezava, era pela minha família inteira!
Apeguei-me, ao longo desses dezoito anos, à essas pessoas. Penso que até demais. Dona Tereza tornou-se uma grande amiga, mas, o Seu Osvaldo... Ah, o Seu Osvaldo... Esse homem que enterramos, tornou-se o símbolo masculino que sempre imaginei. Eu não sei como vou prosseguir a vida sem ele. Não parece justo! Não é justo.
Quem me chamou a atenção, duramente, sobre meu choro desconsolado durante o velório, foi o Hobson. Ficou indignado com minha – segundo ele – confirmação clara do que todos comentavam há muito tempo, em cochichos e também com indiretas, de minha relação amorosa com Seu Osvaldo. A ‘traidora’, a 'amante' que se dava ao desfrute bem nas fuças da coitada da Tereza...
Ao ouvir as reprimendas enciumadas do filho do querido falecido, não me contive. A raiva juntou-se à dor e, encarando-o nos olhos, gritei-lhe essas palavras:
- Hobson, chega! Eu não aguento mais seus ciúmes. Quantas vezes preciso dizer que o Seu Osvaldo foi o pai que nunca tive? Que o carinho que sentia por ele era de filha? Por que se deixou envenenar assim?
Ao que ele, também alterado, respondeu:
- Lúcia, você sabe que eu deixaria minha mulher no momento em que você quisesse... Sabe que desde que nos tornamos amantes há dez anos atrás, é difícil para mim esconder meu amor. Você nunca quis assumir, até me empurrou para um casamento para manter minha família unida, como sempre me diz. Agora, todos estão comentando seu ‘espetáculo’ no velório e seus ares de segunda viúva. Fico louco só de pensar nisso. Eu não vivo sem você e....
Não conseguimos mais falar nada. O grito de dor que ouvimos foi um só, mas, foi emitido por duas pessoas ao mesmo tempo: Dona Tereza e sua nora.
Não há movimentos em câmera lenta na vida real. A mãe caiu rápida e duramente; sua mulher vomitou num jorro repentino, caindo de joelhos ao mesmo tempo.
Eu estou, agora, andando sem rumo. Isso tudo aconteceu há umas 12 horas, mais ou menos. Não aguentei o que vi. Deixei todos lá, cada um com sua dor. A minha, ainda é pela morte do homem que, como um pai de sangue, me ensinou, me acalmou, me deu carinho e fez-me sentir parte de sua família. O que há ou houve, entre mim e seu filho eu supero, por mais que o ame. E eu o amo de verdade. E, talvez por isso mesmo, a maior parte da dor é por nunca ter conseguido terminar esse caso e pedir perdão ao pai que Deus colocou na minha vida, por tê-lo traído dessa forma.
Amante do Seu Osvaldo? De jeito nenhum! Amante do Hobson; do adolescente que ajudei a fazer deveres de casa, para quem eu torcia, junto com seus pais, nos jogos de Futsal e, por quem me apaixonei. Eu o Seduzi quando completou dezoito anos. Ele se apaixonou. Foi por ele que dispensei os pretendentes que apareceram.
Não pretendo voltar. Fugir, como estou fazendo, é a melhor solução. O Hobson pode lidar com a situação que seu ciúme causou. Eu, só vou antecipar o que logo iria acontecer: estou envelhecendo... Ele vai me deixar, eu sei. Nunca cobrei nada dele.
Ainda não tenho destino, mas vou andando, parando quando canso. Logo vai escurecer... Minha família de sangue mora na cidade vizinha, para onde meus passos estão me levando, mas não é para eles que volto. É para o padre João que vou pedir abrigo. Foi ele quem me ensinou a rezar e sempre me dizia que “Deus escreve certo por linhas tortas”.
Eu andei por caminhos tortos, no entanto, sempre soube que estava tudo errado. Preciso pedir perdão, então, pedirei diretamente a Deus se, antes, padre joão me explicar o motivo que Ele tem para não escrever de uma maneira que eu entenda.