** Luzia despertou escutando o forte burburinho.
Uma tragédia ocorrera.
Pedro foi encontrado morto com uma faca cravada na testa.
Luzia começou a provar um pesadelo do qual jamais logrou escapar.
Informaram que Carlos havia desaparecido.
No dia anterior, Luzia e Carlos tiveram uma conversa bem triste, porém recheada de promessas lindas. Apesar da separação arbitrária, havia a esperança do amor o qual jamais seria anulado.
Carlos decidiu viajar após Luzia confirmar o noivado com Pedro, uma imposição que o pai da jovem definira.
Luzia amava Carlos, jovem solitário, órfão desde a infância, que vivia fazendo bicos e, nas horas vagas, brincava com a poesia.
_ Um dia vou escrever um livro dedicado a você, Luzia!
_ Será que eu mereço tanto, Carlos?
_ Sim! Você merece, você é a vida dos meus versos.
Luzia tentou algumas vezes convencer o pai, no entanto o radicalismo do genitor era gigantesco demais. Ela foi obrigada a aceitar a união conveniente com o filho de outro coronel famoso da cidade.
Agora o crime parecia criar uma barreira inviolável entre Carlos e Luzia.
O pobre poeta, que nunca expressou ser capaz de uma ação violenta, passou a ser caçado pelos dois coronéis.
Além disso, Luzia não admitia viver ao lado de um cruel e frio assassino.
A moça não aceitou a proposta de se tornar uma noviça, entretanto passou a morar no convento da cidade.
Ela optou por viver isolada, imaginando deixar a poeira do tempo apagar a ocorrência, o sentimento que nutria na alma e assim lavar toda a história de sua jornada infeliz.
Trinta anos depois, Luzia era uma das principais colaboradoras da Casa do Amor, um projeto idealizado pelo atual padre da cidade, Fernando.
O dedicado sacerdote surgiu na cidade quando Luzia, coincidentemente, voltou a morar na casa dos pais.
A carismática Luzia adorava auxiliar a atividade de doação e virou o braço direito do padre.
Levando algumas crianças ao dentista, Luzia quis visitar a livraria.
Ela sentiu uma forte emoção quando leu “A Vida dos Meus Versos”.
O título não permitia dúvidas. O autor usava um pseudônimo, no entanto certamente era ele. Quem escreveu o livro, cheio de versos cantando um amor profundo e contagiante, foi Carlos.
No prefácio havia um texto que confundiu Luzia.
“Conforme prometi a minha doce esposa, só publiquei esse livro depois de sua amarga partida. Gentil ela aceitou conviver comigo sabendo que sempre amei outra mulher.
Noutros braços decidiram pôr minha flor tão querida e amada, todavia ninguém jamais do meu coração diminuiu uma gotinha desse puro sentimento o qual parece um oceano.
Nas minhas poesias repito o quanto desejei fazê-la feliz e que eu a amo muito mais do que já amou algum apaixonado ontem, hoje e sempre.”
Noutros braços decidiram pôr minha flor tão querida e amada?
Luzia não entendeu a afirmação nem percebeu qualquer expressão de arrependimento.
Carlos falava como a grande vítima da qual furtaram o seu amor.
Luzia angustiada parou para ler o livro. As declarações de amor contidas nos poemas destacavam um gostar belo, sublime e inesgotável.
A senhora sentiu uma grande emoção, mas havia uma certa revolta e dor no seu coração.
Se Pedro não tivesse sido assassinado, talvez ela mudasse os planos traçados pelo pai ou o destino favorecesse a união com o poeta Carlos.
Luzia lastimava muito o desfecho brutal.
Sem esconder tamanha aflição, ela decidiu falar sobre o assunto com o amigo Fernando.
O sacerdote era um homem de poucas palavras, mas um ótimo ouvinte.
Ela precisava tirar o peso do peito e talvez obter um sábio conselho.
Luzia narrou o primeiro amor quando adentrava somente dezesseis primaveras, os encontros românticos com Carlos, Pedro insistindo, o pai severo obrigando a filha a aceitar o esposo indesejado, o último diálogo, a notícia do assassinado e a separação definitiva.
A senhora percebeu o padre, com as mãos tapando o rosto, chorando sem parar.
De repente Fernando deu um grito e falou:
_ Perdão, Luzia! Perdão!
Na noite do crime, Pedro estava passeando perto da praia conforme gostava de fazer.
Um movimento brusco fez surgir um homem segurando uma faca.
O bandido vestia uma roupa velha e apresentava uma grande barba.
_ Me dá todo seu dinheiro.
Pedro reagiu imaginando poder conter o marginal.
Os dois lutaram bastante até Fernando feri-lo com um golpe fatal.
Vendo a faca na testa de Pedro, Fernando desesperado saiu correndo sem levar nada.
Alcançando outra cidade, ele perambulou até conseguir um emprego e uma pensão, contando com a ajuda caridosa de uma família religiosa.
Um dia ele cismou que seria um padre.
Nove anos depois, já um sacerdote, resolveu compensar o pecado do passado retornando à cidade de Pedro e dedicando todos os seus dias diminuindo a infelicidade dos mais necessitados.
Nunca quis saber nem comentou uma vírgula sobre a sorte de Pedro.
O desabafo de Luzia, que colocava a nobre mulher no terrível enredo, trazia a lembrança da ocorrência como se fosse uma sombra diabólica e suscitava a insuportável dor do remorso destruidor.
Luzia não sabia o que dizer ao padre, que agora soluçava nos seus ombros, mas sentia um forte alívio no peito. Afinal de contas, Carlos sempre foi inocente.
Ela simplesmente falou:
_ Eu te perdôo, padre! Vai ficar tudo bem.
** Numa praça movimentada, Carlos, apertando as mãos de Luzia, escutou a seguinte indagação:
_ Será que ainda há tempo, querido Carlos?
_ Luzia! Ah, doce Luzia! Eu nunca esqueci esse seu sorriso nem o brilho dos seus olhos. Se eu não estiver sonhando, podemos tentar parar o tempo para que ele permita termos todo o tempo do mundo.
_ Eu demorei, pois não aceitava a idéia de me unir a um assassino. Como eu fui boba! Jamais um verdadeiro poeta mataria alguém.
_ Eu também errei, Luzia! Nunca mais quis saber notícias suas e você estava lá, pronta para me amar. Você permaneceu sendo a vida dos meus versos distantes, mas, se eu tivesse insistido, teria sido a vida dos meus inspirados versos presentes, possibilitando desfrutar o período desperdiçado.
_ Ninguém errou, querido! A gente precisava confirmar a intensidade e força do nosso amor através desses anos de separação.
_ E eu precisava ser declarado inocente, correto?
Os dois sorriram e se beijaram.
As carícias e os muitos beijos guardados pelo casal sugeriam aproveitar bastante os anos vindouros anunciando uma enorme felicidade sem questionamentos, distâncias ou deduções equivocadas.
Um abraço!
Uma tragédia ocorrera.
Pedro foi encontrado morto com uma faca cravada na testa.
Luzia começou a provar um pesadelo do qual jamais logrou escapar.
Informaram que Carlos havia desaparecido.
No dia anterior, Luzia e Carlos tiveram uma conversa bem triste, porém recheada de promessas lindas. Apesar da separação arbitrária, havia a esperança do amor o qual jamais seria anulado.
Carlos decidiu viajar após Luzia confirmar o noivado com Pedro, uma imposição que o pai da jovem definira.
Luzia amava Carlos, jovem solitário, órfão desde a infância, que vivia fazendo bicos e, nas horas vagas, brincava com a poesia.
_ Um dia vou escrever um livro dedicado a você, Luzia!
_ Será que eu mereço tanto, Carlos?
_ Sim! Você merece, você é a vida dos meus versos.
Luzia tentou algumas vezes convencer o pai, no entanto o radicalismo do genitor era gigantesco demais. Ela foi obrigada a aceitar a união conveniente com o filho de outro coronel famoso da cidade.
Agora o crime parecia criar uma barreira inviolável entre Carlos e Luzia.
O pobre poeta, que nunca expressou ser capaz de uma ação violenta, passou a ser caçado pelos dois coronéis.
Além disso, Luzia não admitia viver ao lado de um cruel e frio assassino.
A moça não aceitou a proposta de se tornar uma noviça, entretanto passou a morar no convento da cidade.
Ela optou por viver isolada, imaginando deixar a poeira do tempo apagar a ocorrência, o sentimento que nutria na alma e assim lavar toda a história de sua jornada infeliz.
Trinta anos depois, Luzia era uma das principais colaboradoras da Casa do Amor, um projeto idealizado pelo atual padre da cidade, Fernando.
O dedicado sacerdote surgiu na cidade quando Luzia, coincidentemente, voltou a morar na casa dos pais.
A carismática Luzia adorava auxiliar a atividade de doação e virou o braço direito do padre.
Levando algumas crianças ao dentista, Luzia quis visitar a livraria.
Ela sentiu uma forte emoção quando leu “A Vida dos Meus Versos”.
O título não permitia dúvidas. O autor usava um pseudônimo, no entanto certamente era ele. Quem escreveu o livro, cheio de versos cantando um amor profundo e contagiante, foi Carlos.
No prefácio havia um texto que confundiu Luzia.
“Conforme prometi a minha doce esposa, só publiquei esse livro depois de sua amarga partida. Gentil ela aceitou conviver comigo sabendo que sempre amei outra mulher.
Noutros braços decidiram pôr minha flor tão querida e amada, todavia ninguém jamais do meu coração diminuiu uma gotinha desse puro sentimento o qual parece um oceano.
Nas minhas poesias repito o quanto desejei fazê-la feliz e que eu a amo muito mais do que já amou algum apaixonado ontem, hoje e sempre.”
Noutros braços decidiram pôr minha flor tão querida e amada?
Luzia não entendeu a afirmação nem percebeu qualquer expressão de arrependimento.
Carlos falava como a grande vítima da qual furtaram o seu amor.
Luzia angustiada parou para ler o livro. As declarações de amor contidas nos poemas destacavam um gostar belo, sublime e inesgotável.
A senhora sentiu uma grande emoção, mas havia uma certa revolta e dor no seu coração.
Se Pedro não tivesse sido assassinado, talvez ela mudasse os planos traçados pelo pai ou o destino favorecesse a união com o poeta Carlos.
Luzia lastimava muito o desfecho brutal.
Sem esconder tamanha aflição, ela decidiu falar sobre o assunto com o amigo Fernando.
O sacerdote era um homem de poucas palavras, mas um ótimo ouvinte.
Ela precisava tirar o peso do peito e talvez obter um sábio conselho.
Luzia narrou o primeiro amor quando adentrava somente dezesseis primaveras, os encontros românticos com Carlos, Pedro insistindo, o pai severo obrigando a filha a aceitar o esposo indesejado, o último diálogo, a notícia do assassinado e a separação definitiva.
A senhora percebeu o padre, com as mãos tapando o rosto, chorando sem parar.
De repente Fernando deu um grito e falou:
_ Perdão, Luzia! Perdão!
Na noite do crime, Pedro estava passeando perto da praia conforme gostava de fazer.
Um movimento brusco fez surgir um homem segurando uma faca.
O bandido vestia uma roupa velha e apresentava uma grande barba.
_ Me dá todo seu dinheiro.
Pedro reagiu imaginando poder conter o marginal.
Os dois lutaram bastante até Fernando feri-lo com um golpe fatal.
Vendo a faca na testa de Pedro, Fernando desesperado saiu correndo sem levar nada.
Alcançando outra cidade, ele perambulou até conseguir um emprego e uma pensão, contando com a ajuda caridosa de uma família religiosa.
Um dia ele cismou que seria um padre.
Nove anos depois, já um sacerdote, resolveu compensar o pecado do passado retornando à cidade de Pedro e dedicando todos os seus dias diminuindo a infelicidade dos mais necessitados.
Nunca quis saber nem comentou uma vírgula sobre a sorte de Pedro.
O desabafo de Luzia, que colocava a nobre mulher no terrível enredo, trazia a lembrança da ocorrência como se fosse uma sombra diabólica e suscitava a insuportável dor do remorso destruidor.
Luzia não sabia o que dizer ao padre, que agora soluçava nos seus ombros, mas sentia um forte alívio no peito. Afinal de contas, Carlos sempre foi inocente.
Ela simplesmente falou:
_ Eu te perdôo, padre! Vai ficar tudo bem.
** Numa praça movimentada, Carlos, apertando as mãos de Luzia, escutou a seguinte indagação:
_ Será que ainda há tempo, querido Carlos?
_ Luzia! Ah, doce Luzia! Eu nunca esqueci esse seu sorriso nem o brilho dos seus olhos. Se eu não estiver sonhando, podemos tentar parar o tempo para que ele permita termos todo o tempo do mundo.
_ Eu demorei, pois não aceitava a idéia de me unir a um assassino. Como eu fui boba! Jamais um verdadeiro poeta mataria alguém.
_ Eu também errei, Luzia! Nunca mais quis saber notícias suas e você estava lá, pronta para me amar. Você permaneceu sendo a vida dos meus versos distantes, mas, se eu tivesse insistido, teria sido a vida dos meus inspirados versos presentes, possibilitando desfrutar o período desperdiçado.
_ Ninguém errou, querido! A gente precisava confirmar a intensidade e força do nosso amor através desses anos de separação.
_ E eu precisava ser declarado inocente, correto?
Os dois sorriram e se beijaram.
As carícias e os muitos beijos guardados pelo casal sugeriam aproveitar bastante os anos vindouros anunciando uma enorme felicidade sem questionamentos, distâncias ou deduções equivocadas.
Um abraço!