Convivência amorosa

O galo cantou as cinco da manhã, e no vale, o sol já vinha se despontando por entre as montanhas e iluminava a formosa fazenda, onde havia um humilde casebre, da pequena chaminé já saia fumaça, e podia-se sentir um delicioso cheiro de café caseiro feito no fogão a lenha. Um casal de idosos habitava aquele lugar encantador. Tudo era tranquilo, transparecia um clima de imensa paz, de pessoas que construíram uma vida com simplicidade, criaram seus filhos com honestidade e fizeram deles pessoas de bem, e que agora levavam suas vidas longe dali, mas voltavam quando batia a saudade dos queridos pais.

-OOOOO Mulher!!!!!

-O café tá pronto?

-Não está sentindo o cheiro não, seu velho doido?

-Ara, pra que ser grossa assim...

-Senta ai e toma seu café, mastigue logo esse pão com essa boca murcha, e vai logo cuida dos animais!

-Eu vou mesmo, mas não se esqueça de ir cuidar da horta, sua velha preguiçosa, as verduras estão todas morrendo, porque você não joga água nelas.

- Arre... Vá embora logo homem, não precisa me dizer o que fazer não...

E então foram..., cada um cuidar dos seus afazeres, depois do café reforçado, com broas, bolos e pães, tudo feito com carinho pela Dona da casa, que era cozinheira de mão cheia. Muitos eram os serviços a serem feitos naquela pequena fazenda, e a rotina era constante na vida daqueles dois.

-Velhoooooo!!!!

-Vem almoçar.... Está pronto, não demora senão jogo tudo fora!!!!

Já estou indo... Velha escandalosa... Vê se espera... Estou com uma baita fome.

O marido entrou, deixou o chapéu pendurado na porta e olhou para aquela mesa que como sempre era farta... Tinha tudo do bom e do melhor, tudo conseguido com o esforço do trabalho na roça. Mas ele viu um bolo diferente, parecia bolo de aniversário.

-Ué!!! Que bolo é este mulher?

-Esqueceu seu velho babão?

-Hoje é nosso aniversário de casamento!

-Ixe... é mesmo... Ainda bem que você tem a cabeça boa... porque o resto...

-Olha... Que jogo o bolo na sua cabeça hein!!!!

-Hoje estamos comemorando quarenta e cinco anos de casados, não sei como aguento você...

-Eu sei .... É que eu sou muito charmoso... hehehe!

-Arre... Deixa o charme saber disso... Te processa!

-Oooo mulher... Nem nesse dia especial, você fica simpática... Credo!

-Ahhh ... Coma ai de boca fechada, que é pra não entrar mosquito.

Com uma mesa simples, porém farta, tiveram um almoço gostoso e uma sobremesa melhor ainda.

Satisfeitos do almoço, foram descansar em suas cadeiras de balanço que ficavam sempre no mesmo lugar, na varanda.

Um olhava para o outro com ternura, e ficavam horas a se observarem. Até que Dona Maria do Socorro, este era o seu nome, disse ao seu esposo querido, o senhor José, que devido o grande silêncio que se fazia e com o ar fresco do lugar, já estava cochilando...

-Zé... Nossos filhos são lindos né... A Maria Efigênia, Maria das Graças, Maria Edwirges, Maria Dores, Maurício, Pedro e o nosso caçulinha Marcos... São filhos abençoados, não é mesmo? Nunca deram trabalho para nós.

Dona Maria percebeu que estava falando sozinha... Senhor José já estava até sonhando...

-Acorda Zé!!! Estou falando com você seu dorminhoco!

E então Dona Maria deu uns solavancos no marido que acordou assustado.

-Ahhhh... Maria... Nem dormir um pouco a gente pode... AAhh agora vou embora trabalhar de uma vez.

E saiu ajeitando o chapéu de palha na cabeça e puxando um saco de ração para tratar dos animais.

Dona Maria entrou resmungando e foi cuidar de sua casa.

A tarde... Era difícil sentir aquele cheirinho de café fresco e de bolo de fubá, feito por Dona Maria sem correr pra cozinha... O marido que estava a cuidar dos cavalos, não resistiu e foi pra casa bem depressa.

_ Mulher !!! Agora estou com fome... o cheiro do café me chamou!!!

-Senta ai... já ia te chamar mesmo!

José se esbaldou com aquele café da tarde maravilhoso.

Tomaram o café juntos e sem muita conversa. Terminado, cada um foi para um lado, sempre cuidando dos afazeres.

É incrível o quanto as pessoas simples que moram na roça, costumam ter saúde e disposição para o trabalho, e o fazem com muito carinho.

Final de tarde, início da noite, o sol estava se pondo, se despedindo de mais um dia. Assim também faziam os moradores daquele pequeno pedaço do céu.

Senhor José cuidou de ver se tudo estava em ordem, e entrou para tomar um belo banho e com certeza, para forrar o estomago que já estava com saudade daquele jantar delicioso de todos os dias.

Quando entrou encontrou Dona Maria dando os últimos retoques no jantar.

Banhou-se e foi sentar-se a mesa com sua mulher.

-Nossa quanta comida boa Maria!

-Você sabe, hoje dei uma caprichada, já esqueceu de novo, que dia é hoje seu Velho doido?

-Ahhh é mesmo ... Então vamos comer, ué...

-Sabe Zé ... Tem hora que tenho vontade de lhe dar uns sopapos nessa sua cabeça oca de tanto que você esquece das coisas...

-Eu sei... eu sei que você é capaz disso mesmo... não entendo como já não fez...

- Pode dar seus sopapos... Se eu morrer... Duvido que vai conseguir viver sem mim, sua velha caduca.

-Olha... Não me chama de caduca... o caduco aqui é você!

Após o belíssimo jantar e de tantos elogios... Foram para o quarto, para finalmente ter o descanso merecido, depois de um dia de muito trabalho.

Dona Maria como sempre tinha um capricho imenso ao arrumar a cama para que os dois se deitassem, era uma cama muito simples, porém com lençóis branquinhos, impecavelmente limpos, ela era uma mulher muito cuidadosa.

Depois de arrumar a cama, Dona Maria colocou sua camisola antiga, muito conservada, devido o grande capricho que tinha com tudo naquela casa.

Deitou-se e chamou o marido.

-OOOO Zé vem dormir... Está demorando por quê?... Morreu ai no banheiro?

-Estou indo sua ingrata... Logo hoje quer que eu morra né? Não se preocupa não...Vou durar muito ainda... Viu? Não vou dar pra você este gostinho não...

-Ahhh velho bobo.. . Anda logo... Quero apagar a lamparina pra dormir.

O Senhor José se aprontou todo, e deitou-se do lado esquerdo da cama, como sempre, puxou o lençol , cobrindo a si e a esposa, depois apagou a luz da lamparina que ficava na cabeceira da cama.

Agora o silêncio pairava sobre aquele lugar, tudo repousava na mais perfeita harmonia, e a paz reinava ... Mas como todos os dias, durante aqueles quarenta e cinco anos de convivência... Antes de pegarem no sono...

-Mulher.. .Se achegue...

-Estou indo zé... Cadê seu braço?

-Está aqui... Me abraça!

-Pronto... Te abracei zé... Que braço forte você tem!!

-Você é linda e tem um corpo macio, sua pele até parece uma manga rosa, é irresistível mulher...

-Verdade meu bem?

-Sim ... Hoje me sinto o homem mais feliz do mundo, porque você é a mulher que sempre quis ter, a minha felicidade só é completa por que tenho você! Obrigado por tudo, gosto de você do jeito que você é, também por ter me dado filhos maravilhosos...Te amo!

-Ai Zé... Você sabe que eu também de te amo... Você é o homem mais lindo do mundo, sempre foi, me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi lembra? Você estava passando a cavalo, por aquela ponte, perto da fazenda de papai... E o meu amor por você só aumentou desde aquele dia... Hoje sei que minha vida é você!

-Quero um beijo gostoso, como só você sabe dar minha esposa...

- Sim meu amor...

E abraçadinhos, grudadinhos, adormeceram, como se fossem um só, um ouvindo as batidas do coração do outro como sempre.

Todas as noites, antes de dormir, o casal esquecia todas as picuinhas, os problemas daquele dia, se perdoavam e faziam uma declaração de amor um para o outro e naquela noite em especial, viram o quanto ainda eram apaixonados e o quanto um era importante para o outro, com certeza esse era o segredo de um relacionamento tão longo. Nem mesmo as atribulações do dia a dia, foram capazes de por fim aquela grande convivência amorosa que se renovava a cada dia.

FIM

Byyá
Enviado por Byyá em 27/12/2013
Reeditado em 21/07/2018
Código do texto: T4626586
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