A FLOR DA HONESTIDADE
 
“No jardim das virtudes, a flor mais rara é a honestidade”
                                                                            Ditado popular
 
Houve certa vez um  reino cujo rei, ao sentir a proximidade da morte, chamou seu filho, o príncipe herdeiro e comunicou-lhe que ele, em breve seria rei. Mas segundo a lei do reino, o rei teria que ser casado. E o jovem era solteiro, pois até aquele momento não havia encontrado a mulher da sua vida. E o príncipe era muito exigente, principalmente em termos de virtudes e qualidades de caráter.
Mas, como a morte do rei era iminente e o trono não podia ficar vago um dia sequer, pois que isso suscitaria ambições que poderiam perturbar a paz no reino, os ministros aconselharam o jovem príncipe que se casasse o mais rápido possível. E foram logo apresentando a ele uma dezena de noivas, a maioria, lógico, filhas, ou parentes próximas de alguns deles.
Mas o príncipe tinha uma índole democrática e não achava justo que apenas as moças de sangue azul, nascidas na classe nobre, tivessem o direito de disputar esse posto. Então ele abriu a disputa entre todas as jovens do reino, que tivessem determinada idade, invulgar beleza e se julgassem dignas de serem rainhas daquele país.
Foram milhares as moças que se apresentaram e todas muito bonitas. Nem em um ano o príncipe conseguiria entrevistar todas e descobrir, entre elas, uma que mostrasse as qualidades que ele gostaria de encontrar em uma rainha. De sorte que o príncipe resolveu fazer, entre elas, uma espécie de concurso, para, ao menos conhecer um pouco o caráter de cada uma. Então ele chamou todas as candidatas e entregou a cada moça, uma semente de flor.
 E disse:─ Um reino é como um jardim. Deve ser bem cuidado para que se conserve sempre belo e seja um lugar agradável para se viver. As habilidades de uma rainha devem ser como as de uma competente jardineira. Essas são sementes de flores muito raras. Elas deverão florescer em uma semana. Aquela que me trouxer, dentro de oito dias, a flor mais rara, mais bela, mais bem cuidada, será escolhida como minha rainha.
Entre as moças havia uma moça, filha do palafreneiro do rei. Ela a amava o jovem príncipe desde a infância. Sendo filha do homem que cuidava dos cavalos do rei, ela fora companheira de brinquedos do príncipe quando ele era menino. Mas desde que o príncipe crescera e começara a ser educado nos negócios do reino, eles não haviam se visto mais. A jovem filha do cavalariço crescera, se tornara uma linda moça.  Mas nunca esquecera o seu companheiro de brinquedos, e de longe acompanhara a vida do príncipe, vendo-o crescer e se tornar um belo rapaz. E o que, no coração dela, era uma grande e sincera amizade se tornara verdadeiro amor.
─ Você vai se magoar ainda mais participando desse concurso─ disse a mãe da jovem. ─ Você não pode competir com tantas princesas, moças ricas, criadas no luxo e na riqueza. Você é a filha do palafreneiro. Como pode pensar que o futuro rei deste país vai notar você?
─ Minha mãe, se for verdade que o Amor, seja qual for a dificuldade, sempre reconhece os seus, então eu tenho alguma chance, disse ela. E foi logo plantar, num lindo vaso, a sua semente. Regou-a, adubou, e ali ficou, dia e noite, olhando para o vaso, esperando a flor nascer. Mas passado uma semana, nada nasceu. Então ela foi para o quarto e chorou, pois na manhã seguinte teria que se apresentar no palácio e não tinha sequer um botão para mostrar.
─ Mas eu vou assim mesmo ─ disse ela. ─ Senão não serei digna deste amor que eu sinto por ele.
E no dia seguinte lá estavam milhares de jovens, vestidas com suas melhores roupas, arrumadas, maquiadas, perfumadas. Nunca se vira, naquele reino, uma assembleia mais bonita do que aquela. Porque além da beleza daquelas moças, cada uma portava um vaso onde sobressaiam as mais lindas e perfumadas flores que jamais se vira até então. Eram tão bonitas as flores que nem o mais arguto jardineiro seria capaz de apontar a mais rara, bela e bem cuidada.
Só a filha do palafreneiro apresentou-se com um vaso completamente vazio. Todas as moças olhavam para ela com desprezo, sarcasmo e desdém. Enfileiradas lá estavam elas para o exame do príncipe. E ele passou em frente de todas, olhou para as flores, sentiu o perfume delas, tocou-as e retirou-se para a plataforma onde estava o seu trono. Fez-se um silêncio sepulcral. Ele iria anunciar a vencedora.
Gritos de indignação e suspiros de decepção foram ouvidos em toda a assembleia. Ninguém entendeu porque o príncipe escolhera a filha do palafreneiro. Além de bronca, plebeia e não tão bem vestida e arrumada como as demais, ela não tinha flor nenhuma no vaso. E quando os ministros interpelaram o príncipe a respeito da sua escolha (pois até as filhas deles haviam sido preteridas), o príncipe explicou.
─ A honestidade é a mãe de todas as virtudes─ disse ele. Somente a pessoa honesta pode amar de verdade; pois não há amor que resista á mentira. Essa jovem é a única que provou ter essa virtude de caráter.E com isso mostrou que é a única que me ama de verdade. Ela não está aqui por que deseja ser rainha. Veio por que me ama de verdade. As outras só querem o trono. Pois as sementes que eu entreguei a elas eram estéreis.  Entre todas, essa moça foi a única que conseguiu fazer desabrochar a flor da honestidade. Ela será, pois, a minha rainha.
Eles se casaram e foram felizes para sempre. E aquele foi o período mais próspero e feliz que aquele reino teve em toda sua história.