Um Café e Um Amor

Essa minha mania compulsiva de escrever-te ainda vai acabar por me meter em problemas, o faço em qualquer lugar, nos momentos mais inapropriados, nas horas mais erradas do meu dia. Agora, o faço em uma padaria do centro da cidade, na mesa mais afastada do caixa, onde a luz faz um desvio e minha cadeira fica na penumbra e eu, camuflado. Finjo que os outros clientes não podem me ver e os observo como se fosse eu um deus sentado defronte a TV da vida.

Ouço desatentamente as conversas paralelas das mesas ao redor, vejo um jovem casal trocar carícias nada discretas e penso em como seria bom te comprar um café, um suco de laranja com cenoura, quem sabe, aquele refrigerante de uva que te faz questionar: “Que cor tá minha língua?” ou ainda, poderia eu te comprar uma aliança.

Eu não teria medo se a aliança fosse para ser posta em teu dedo, não por posse, não me entenda mal, jamais poderia eu te engaiolar, te prender, meu pássaro azul, mas só de pensar que as nossas mãos carregariam as mesmas juras, ai, ai, sinto o ar fazer um desvio de meus pulmões.

Meus olhos tremem devido às luzes de Natal do recinto, uma garotinha de cabelos cacheados, com no máximo, dois anos de idade, atende a mãe que a repreende: “Maria Flor, não faz isso”, sim, Maria Flor, como a filha que a gente jurou ter. Logo agora eu ouço esse nome, logo agora enquanto te escrevo mais um texto, seria esse um sinal? Seria essa Maria Flor de cabelos cacheadinhos a Maria Flor que sonhávamos?

Quero que a nossa tenha os teus olhos de ressaca e meu gênio ruim, que tenha tua paciência e a minha boca, quero que a nossa Maria Flor escreva poesias e jogue futebol, que ela continue a sua coleção de carrinhos da hot wheels e, principalmente, que sinta seu coração transbordar de amor todos os dias.

Mas de que eu falava?

Ah, de como pensar em você me ocupa os sonhos, o presente, o futuro, as vontades, os desejos e os medos de não te ter me calam a voz.

Já nos imagino como clientes fieis desta padaria, porém, não escondidos sob a escuridão deste canto, você tomando o seu suco de uva, reclamando da dieta que te faz se manter longe de teu vício gasificado, de cara amarrada, porque diferente do refrigerante de uva, o suco não te faz sentir a boca borbulhar e eu sorrindo, mas não te dando muita atenção, porque observo a nossa Maria Flor que cismou em incomodar o velhote barbudo da mesa ao lado, jurando que ele é o papai Noel.

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