Dois Amigos e um Segredo - Parte 6
- Doeu muito?
- Um pouco... no começo. Mas depois...
- Depois você começou a gritar...
- Não era de dor.
-Você me saiu um puto de responsa, hein, cara? Onde você aprendeu a fazer boquete daquele jeito?
- Ah... a gente nasce sabendo, sei lá... ou o amor nos ensina.
- Caralho! Estou passado com tudo isso isso, cara. Olha, juro por tudo que você quiser, até você entrar por aquela porta hoje, a última coisa que eu pensava era que um dia a gente iria terminar na cama...
- Está arrependido?
- Não sou homem de me arrepender. Você sabe.
Andrei e Leon estavam deitados, debaixo das cobertas, porque o arzinho da madrugada estava um pouco gelado. Faltava pouco para amanhecer. Andrei, recostado nos travesseiros, olhava para o teto, pensativo. Leon estava deitado em seu peito, de olhos fechados, sentindo os dedos do amigo entre seus cabelos.
De repente ele começou a rir, rir sem parar.
- Do que você está rindo? - quis saber Andrei.
- Nada não... é que eu me lembrei de uma coisa agora... ah, mas faz tanto tempo, duvido que você ainda se lembre.
- Fala!
- Você lembra daquela vez, que a gente tinha ido na pista de skate e na volta viu dois caras transando num matinho?
- Ah, lembro, sim... Você ficou encanado com aquilo. Mas por que você lembrou disso agora?
- É que... naquele tempo, claro, eu já amava você, mas era só um garoto, não sabia... mas eu custei muito pra esquecer daquela cena. E dizia pra mim mesmo, tem que ser muito puto mesmo pra deixar outro cara meter no seu rabo... e agora... - e Leon escondeu o rosto, rindo às gargalhadas.
Andrei também riu.
- É... e agora você deixou...
Leon ficou sério.
- Quando a gente ama, é diferente. - encarou o amigo com seus olhos negros. - E eu te amo, Andrei. Te amo tanto, que até dói...
O vocalista ficara pensativo. Apertou mais o outro contra o peito.
- Puta que pariu, cara, eu nunca desconfiei de nada... eu sempre fui hetero cem por cento, eu, o maior pegador das quebradas, o cara da rua, dos skate... - deu de ombros. - Ah, mas agora já era. E, como eu te disse, eu não sou homem de amarelar. Agora a gente tem um relacionamento a mais, além de amizade. É isso.
- Agora eu sou seu amante...
- É. Com mulher não está dando certo, quem se dois homens se entendem melhor?Eu só faço questão de uma coisa...
- O que?
- Cara, isso não pode sair daqui. Tem de ser um segredo só nosso. Se alguém descobre, a gente está fodido, nossa carreira e tudo mais...
- Claro, querido. Nem precisava ter dito isso. É um segredo nosso. Só nosso.
- A gente vai ter de tomar cuidado, não pode dar bandeira...
Leon conservava-se ternamente abraçado ao companheiro.
- Eu queria morrer assim...
- Pára de falar em morte, cara! A gente ainda tem uma vida toda pela frente...
- Só tenho vida se for ao seu lado.
- E você acha que vai ser ao lado de quem?
- Você brinca, Andrei... mas estou falando sério. Se você um dia me abandonasse... isso me mataria.
O vocalista pigarreou, disfarçando. Tamanha paixão o assustava um pouco.
- Acho melhor a gente ir tomar banho. A gente está fedendo...
- Vamos...
Debaixo do chuveiro, os dois amigos brincaram muito, um ensaboando o outro, um jogando água no outro, como nos tempos de infância, quando brincavam com a mangueira no quintal. Depois começaram a se beijar de novo, e Leon pediu para ser possuído outra vez. Ao sentir o membro de Andrei invadindo suas pregas anais, sentiu um gozo desconhecido, como se estrelas caíssem do teto do banheiro sobre ele... de novo atingiram o êxtase ao mesmo tempo.
Depois foram catar alguma coisa de comer na geladeira, mas só havia presunto, pão de forma e Coca- Cola. Comeram e foram dormir, e só acordaram muitas horas depois.
Agora tinham um segredo que precisavam esconder do mundo; que eram amantes...
Alguns dias depois, durante um show, Leon, que raramente cantava, surpreendeu o público e seus próprios companheiros de banda, ao cantar um clássico romântico dos anos 70, depois regravado por Mariah Carey : Without You.