Dois Amigos e um Segredo - Parte 1
Leon admirava os movimentos do amigo sobre a prancha de skate.Como ele era bom naquilo! Manobras precisas, parecia voar na pista, por entre os outros garotos. A pista estava cheia naquele sábado de sol e calor, mas Leon só tinha olhos para Andrei. O vento fazia ondular sua camiseta preta, enquanto ele fazia outra manobra radical.
Os dois se conheciam desde pequenos, foram criados no mesmo bairro de periferia. Andrei era um pouco mais velho que Leon. Cuidava dele como se fosse um irmão, e tudo que Leon sabia, era ele que havia lhe ensinado... Leon continuava a mastigar a pipoca e assistir as proezas de seu amigo, que parecia formar uma coisa só com a prancha de skate. Ao olhar para o outro sentia algo confuso, que não sabia definir o que fosse. Um misto de orgulho, ternura, uma vontade de estar sempre sob as asas dele... era complicado.
Alguns conhecidos passaram por ele, com seus skates nas costas, e o saudaram revirando seu boné. Andrei dividia seu skate com Leon, porque seus pais não haviam tido condições de comprar um ainda. Leon estava longe de ter a mesma habilidade de Andrei sobre a prancha. Um dia eu chego lá, pensou, sonhando acordado com um vago futuro, que lhe parecia ser luminoso...
Andrei vinha ao seu encontro, o skate nas costas, os cabelos molhados, a camiseta grudada de suor no corpo.
- Vamos nessa, cara! - falou. - Depois a gente tem ensaio na casa do Rick...
Estavam tentando montar uma banda com alguns outros garotos do bairro. Algo entre o rock e o reggae. Dali até o bairro onde moravam era uma caminhada um tanto longa, por ruas de areia. Os dois garotos seguiam lado a lado em silêncio. Andrei de vez em quando jogava o skate para o alto e o fazia rodopiar contra o céu muito azul. Depois o entregou a Leon, que meio desajeitado tentou reproduzir alguns movimentos que vira o amigo fazer na pista.
- Aí, garoto!
Ao passarem por um terreno baldio, os dois notaram um movimento estranho por entre o mato. Ouviam-se gemidos baixos... Andrei fez sinal de silêncio para o outro e os dois se aproximaram. E então viram... atrás da moita estavam dois caras, e um comia o outro. Leon sentiu o coração disparar; mesmo sem querer, observava fascinado as estocadas que o cara dava no companheiro, atolado dentro dele. Andrei o puxou pela mão, com ar inexpressivo. A cena não parecia tê-lo abalado.
- Vem, mano, deixa os cara aí se divertindo. - disse a Leon, e foram embora.
Ensaiaram até tarde da noite. Sonhavam em ser famosos um dia. Andrei era o vocalista da banda. Leon estava aprendendo a tocar guitarra, mas sabia que tinha um longo caminho pela frente. Ao todo eram cinco garotos pobres, que cantavam músicas da Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Cazuza e outros clássicos. Às vezes arriscavam alguma coisa do Nirvana, mas pouco sabiam de inglês. Um dia, sabiam, fariam suas próprias músicas... Andrei dizia já ter escrito algumas letras, mas nunca mostrara nada a ninguém, nem mesmo ao seu melhor amigo Leon.
Leon girou a chave da porta sem fazer barulho. Seus pais já estavam dormindo. Foi até a cozinha, apanhou uma latinha de Coca na geladeira e foi para o seu quarto. Bebeu alguns goles, jogou-se na cama e ficou olhando para o teto, pensando... pensando no que vira aquela tarde, no caminho de casa. Os dois caras transando, um comendo e o outro sendo comido. Porque aquilo não lhe saía da cabeça? Andrei nem ligara... ah, mas Andrei era o cara, era mais velho, escolado, não um babaca igual a ele. Andrei já tinha 17 anos. Ele só tinha 14...
Leon esboçou um leve sorriso ao lembrar do amigo, de seus olhos cor de mel, dos seus cabelos sempre bagunçados, seu boné sempre enterrado na cabeça, seu sorriso de dentes claros. Andrei... não conseguia imaginar sua vida sem ele. Os dois caras no matinho... tem de ser muito puto pra deixar outro cara meter no seu rabo, pensou o garoto, e adormeceu.
Acordou horas depois todo melado. Já era dia. Correu até o banheiro, e enquanto se lavava debaixo do chuveiro Leon pensou que estava na hora de ter sua primeira vez com uma garota. Pra ontem.