Último boa noite

Depois de muitos anos de espera a pedido de suas netas Dora de dezessete, e Eduarda, a "Dudinha" de cinco anos, queriam saber quem era o seu avô, e como ela havia o conhecido. Dona Ana, resolve falar sobre o seu passado, passado jamais esquecido.

- Minhas queridas netas Dora, e Eduarda sentem aqui do meu lado para eu contar sobre o meu passado, ele foi repleto de aventuras, sorrisos e mistérios. Eu morava em uma casa, aqui em Minas Gerais, tinha cabelos loiros da cor do ouro, cacheados como os seus.

Eduarda interrompe:

- A senhora tinha cabelos loirinhos também? Mas hoje são tão branquinhos da cor da nuvem vovó!

Ana sorrindo responde:

- Sim, minha querida, são branquinhos, ficaram assim, por causa do tempo meu amor.

Conheci um menininho que se chamava Paulo, mas todos os chamavam de Paulinho, menos eu que achava mais fácil chama-lo de Linho..

- Linho vovó?...Eduarda pergunta.

- Isso Dudinha, Linho...

Ana continua:

-Linho era meu vizinho, adorava brincar comigo, mas meu pai, Antonio não gostava da família dele...

- Por que vó? Dora interessada, pergunta.

- Nunca soube o porque, só sei que eles não se davam bem... Então meu pai proibiu que nós brincássemos.

Ana olha para o relógio e percebe que já passa da 01:00 da manha, e diz:

- Amanha conto mais para vocês, já está tarde... A Dudinha já dormiu coloque-a na cama está bem Dora? Boa noite durma bem minha querida, fica com Deus! Ana a beija e vai dormir.

No outro dia Dora acorda as 10 horas da manhã, ansiosa para falar com sua vó... Mas sua mãe diz a ela, que a sua vó já havia ido para casa dela. Ficou triste, mas sabia que no próximo domingo Vovó Ana estaria lá de novo, para contar mais sobre sua história. Tomaram café, foram para a escola, Eduarda não dava muita importância para a historia da sua vó, mas Dora, que era apaixonada por historias românticas ... Ficou ansiosa para saber qual o final dessa história que parecia ser tão emocionante.

A semana se passou... (com muita demora, para Dora), e como de costume sua avó iria domingo na sua casa, para almoçarem todos juntos.

Ana chegou e todos a receberam com abraços e beijos, era muito querida, ela havia trazido presentes para todos, como sempre fazia. O dia se passou, anoiteceu... e como previsto Dora pediu para sua vó contar mais sobre a sua história. Ana já havia esquecido que começara a contar sobre ele para suas netas.

Ana pergunta:

- É mesmo Dora! Aonde eu parei?

- Na parte em que seu pai a proibi de brincar com "Linho".

- Ah sim... exatamente! Ficamos sem nos falar, por causa do meu pai, mas não entendiamos, eramos apenas duas crianças!!! Então resolvemos fazer um "telefone" para conversarmos... Naquele tempo não havia celulares.Dora ri. Pegamos duas latas de óleo amarramos um fio, e deixamos uma em cada casa, para que pudéssemos conversar sempre, sem que ninguém nos vissem. Toda noite quando meu pai ia dormir, eu pegava aquela lata, e ele também, e conversávamos, o tempo foi passando e continuamos, a conversar, sempre dizendo boa noite um ao outro, e eu já com meus 16 anos, ele 17 anos, um moço bonito moreno dos olhos verdes. Resolvemos toda noite caminhar sobre o céu estrelado, para ver aquela imensidão brilhante, e aquela lua nos iluminando. Dia após dias, fazíamos isso, sem que ninguém percebesse, nunca dormíamos sem antes desejarmos uma boa noite ao outro. Em um desses encontros inocentes, sentíamos a necessidade um do outro, até que aconteceu nosso primeiro beijo, ele como eu, nunca havia beijado outra pessoa... Então ele me disse:

- Aninha, a tempos gostaria de te dizer...

Mas infelizmente ele foi interrompido, pelo meu pai Antonio e minha Mãe Estela que havia nos descoberto... Meu pai me puxou... e no outro dia, resolveu se mudar de lá. Já pensava nisso, pois a colheita não estava indo bem. Nos mudamos, para o Pará.

- Nossa vó, para o Pará? E ai o que aconteceu?Diz Dora.

- Sim para o Pará... eu o deixei... ele da janela via o nosso carro indo embora, com lagrimas nos olhos, minha vontade era de sair daquele carro e ir para os braços de Linho, mas nada pude fazer...

Ana continua:

- Se passaram os anos eu virei uma pessoa bem sucedida, viajava bastante a trabalho. Já com meus 23 anos, era uma moça alta, loira com cabelos enormes, magra, de olhos azuis. Sem jamais esquecer o Linho, e sabendo que meu pai não aceitaria nosso namoro, nunca fui vê-lo. Até que um dia, minha gerente disse que dessa vez a viagem seria mais longa, seria para Minas Gerais, na hora meu coração bateu acelerado, para Minas gerais, lugar onde deixei meu amor?

Eu sabia que não podia deixar meu pai saber disso, nunca ele aceitaria eu voltar para aquele lugar. Então resolvi dizer que era para São Paulo.

No dia meu coração batia forte, ansiosa por algo que estaria por vir, acreditava que algo iria acontecer, até mesmo porque onde meu trabalho seria feito, era muito perto de onde eu morava.

Chegando me acomodei no hotel, e resolvi antes de mais nada ir na minha antiga casa, não acreditei quando vi que Linho ainda morava ali, a casa era maior, mas ele morava sozinho. Quando o vi, logo reconheci que era ele, Linho! Estava mais alto, e mais forte do que a ultima vez, ele havia servido o exercito, estava diferente. Ele também me reconheceu largou o que estava fazendo e correu ao meu encontro me abraçando.

- Há tanto tempo te esperei minha Aninha, por onde andou? Não sabe como foi angustiante não poder te-la comigo, não mais ouvir seu boa noite! E mais ainda, não ter podido dizer o que tanto queria te dizer!!!

- Meus pais se mudaram para o Pará, agora sou representante em uma loja de roupas, faço viagens a trabalho, e dessa vez a viagem seria aqui... Sabia que iria te encontrar, não imagina o quanto foi difícil para mim também, não ouvir seu boa noite, passei dias em claro! Eu preciso de você!

- Naquela noite eu queria ter lhe dito o quanto eu te amo, o quanto eu sou apaixonado por você...queria ter lhe dito, que você é a mulher da minha vida, e que gostaria de me casar com você, ser feliz com você! Mas hoje nada mais nos impede! Eu te amo, eu sempre te esperei!

Passamos a noite juntos, e como era de costume, fomos ver o céu estrelado, isso fazia com que nos sentíssemos bem. No outro dia eu me levantei, atrasada pois teria uma apresentação a fazer, e sai logo pela manhã, deixando um bilhete, escrito: Eu direi como te amo, e boa noite, todos os dias. Eu voltarei meu amor!

Passado a apresentação eu recebi uma ligação, da minha mãe:

- Ana volte! Seu pai faleceu...

Meu pai já tinha seus 90 anos, triste, desliguei o celular, e pedi para voltar o mais rápido possível, compreenderam a minha situação, novamente fui embora sem me despedir de Linho.

Pouco tempo depois minha mãe também faleceu, acho que não aguentou ficar longe do meu pai.

Depois de alguns meses, uma surpresa:eu tinha enjoos, então descobri que estava esperando um filho, um filho do Linho, guardei dinheiro, e resolvi ir para Minas, já que nada mais me impedia, chegando lá perguntei do Linho, me disseram que ele não morava mais lá, e ninguém sabia noticias dele. Então decidi me mudar, onde moro até hoje, lugar onde ele morava para ver se algum dia ele voltaria. E o linho desde aquele dia até hoje me espera.

- Que triste vó, ele nunca conheceu a filha dele? A senhora nem imagina por que ele se mudou?

- Não querida não faço ideia... Já esta na hora de dormir boa noite, eu te amo!

- Também te amo vó!

Dora inconformada resolve ir atrás do Paulo Seixas, nascido em minas gerais que deveria ter seus 76 anos, eram as únicas coisa que sabia sobre ele, tanto procurou em listas telefônicas, até que achou 40 pessoas com o nome de Paulo seixas na lista, resolveu ligar para todos, para ver se era um deles, quase desistindo, um senhor com voz firme, ao mesmo tempo cansada atende o telefone.

- Alô Boa noite tudo bem? Com quem eu falo?

- Boa noite... tudo e com você?Meu nome é Paulo.Com que eu estou falando? O que deseja?

- Meu nome é Dora Martins.

-Martins? Ele se lembrava desse sobrenome.

- O senhor conhece alguém de anos atras chamada Ana?

- Aninha? O que sabe dela? Onde ela está?Ela está bem?

- Sou a neta dela, sim ela está muito bem graças a Deus.

Ela ouve um suspiro de alivio...

- Por que o senhor saiu do lugar onde morava?

- Aquele lugar me trazia muitas recordações dela, não queria mais sofrer, ela me abandonou mais uma vez... Disse que voltaria, mas não voltou!

- Não foi culpa dela, acredite. O senhor poderia ir até a casa dela?

- Mas onde ela está morando? Eu ainda a amo, ainda espero por ela. Me diga por favor!

- O senhor pode vir na sua antiga casa?...

- Minha antiga casa? Enquanto eu fugi das nossas lembranças, ela optou por morar na minha antiga casa? Não posso acreditar, eu quero vê-la, eu quero toca-la! Eu quero abraça-la!

Dora já podia ouvir a voz de alguém que chorava.

- Venha amanha! Ela estará lá...

- Está bem! Irei! Até breve!

- Até.

Dora não acreditava no que havia acontecido, ela havia encontrado o amor de sua vó!

Anoiteceu e Ana estava em sua casa preparando-se para deitar, quando alguém bate a sua porta, era Dora. Ela muito feliz a atendeu com um enorme abraço, sem perceber que logo atras um senhor caminhava, com lagrimas nos olhos em sua direção, era Paulo. Até que ela percebe. Ele a abraça e diz:

- Eu sempre te esperei minha Aninha eu te amo mais que tudo!

Os dois começam a chorar, e ela diz que nunca o esqueceu, e que o amava.

Então ele diz:

- Até o fim de nossas vidas, eu te direi como eu te amo. Quer se casar comigo?

Ela aceita, e se casam Paulo conhece sua filha, se emociona, e volta a morar em sua antiga casa, agora com o amor da sua vida, sentia que agora começaria a viver, que só agora seria feliz. Se tornaram uma família. Todos os domingos, iam almoçar na casa de sua filha e suas netas.

Anos se passaram, e ela já tinha 95 anos e ele 96. Ana começa a se sentir mal, num domingo na casa de sua filha. Ela a leva para o hospital, um começo de infarto, o medico disse. Ana na maca do hospital, Linho segurando sua mão. Então ela diz:

- Linho você me fez a pessoa mais feliz desse mundo, eu sempre te amarei.

- Eu te amo com todas as minhas forças Aninha! Eu sempre te amarei!

Percebendo que os olhos dela iam se fechando, sussurrou em seu ouvido:

- Boa noite meu amor, me espere!

Michele Paifer
Enviado por Michele Paifer em 02/12/2013
Reeditado em 03/12/2013
Código do texto: T4595944
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