Um encontro marcante

Era um dia comum, como o são todos os dias em que não há brilho em nosso olhar. A saudade oprimia o peito que em agonia buscava conforto apaziguador. Pequei a moto e saí sem destino, porém meu coração me levou ao alto da montanha, em uma região desabitada. Neste local havia uma rocha onde costumava me sentar com minha amada para olhar as estrelas, já havia acampado ali em outras ocasiões, porém era a primeira vez que estava sem ela. Entardecia quando percebi ao longe duas pessoas vindas em minha direção. Quando se aproximaram vi que era um casal de namorados ainda adolescentes, estranhei o fato de estarem sem mochila e me disseram que estavam perdidos. Tentei pedir socorro via celular, mas o telefone estava fora de área, como seria muito perigoso descer a montanha escurecendo, ofereci a minha barraca para os jovens passar a noite e pela manhã iríamos embora. Acendi uma fogueira e me aconcheguei em meu saco de dormir bem na entrada da barraca. Em meus pensamentos me censurava por não ter questionado o casal, mas sempre fui de poucas palavras e eles também. Durante a noite o céu estava bem iluminado e contei três estrelas cadentes que em momentos diferentes riscaram o céu. Adormeci e sonhei que o casal de adolescentes oravam por mim e me disseram que eu deveria voltar correndo, pois minha amada havia me deixado uma carta antes de morrer, atrás do quadro que eu havia jogado no lixo, eu deveria chegar antes do lixeiro passar. Acordei com o sol ofuscando meus olhos e quando olhei para a barraca a mesma estava vazia. Gritei por alguns momentos e logo em seguida desisti de achá-los, voltei para casa e avisei o corpo de bombeiros da região. Recuperei o quadro e achei a carta, não é que o sonho era real. Era uma carta de amor que ela havia escrito há muito tempo, onde ela me pedia que nunca deixasse esquecer-se de seus reais objetivos na terra, ela nunca precisou entregar, pois eu nunca a deixava esquecer. Chorei muito, um misto de saudade e tristeza. Em seguida retornei ao local para ajudar nas buscas, lá chegando um membro do corpo de bombeiros me mostrou algumas fotos onde eu reconheci o jovem casal. As buscas foram encerradas, pois os mesmos estavam mortos a mais de dois anos, em virtude de um acidente ocorrido com eles naquela região. Não assustei muito, pois não era a primeira vez que conversava com os mortos, embora aquela experiência tenha sido a mais marcante. Compreendo que deste mundo de fato nada sei.