"FEZ-SE NOITE EM MIM"
Fez-se dia em mim...
Era um dia quente, quase final da primavera, a cidade ainda estava enfeitada, por belas e perfumadas flores, por isso, marcamos nosso encontro naquele lindo jardim.
Tomei um banho demorado, escolhi caprichosamente o vestido que mais te agradava, dei um jeito nos cabelos, colocando seu perfume preferido, usei pouca maquiagem, pois, você dizia que gostava de me ver ao natural. Depois de conferir no espelho, achei que tudo estava perfeito para nosso encontro. Tínhamos muito para conversar, desculparmos pelas conversas desnecessárias e falar tudo aquilo que era realmente necessário. Então, apressadamente sai.
Cheguei ao jardim muito antes do horário combinado, quem sabe você também se adiantaria. Subi as escadas com passos largos e apressados, percebi que o local estava repleto de pessoas, cores e flores, encantadora escolha. Fui sentar-me num banco perto do orquidário, detalhe caprichoso de minha parte, por serem as orquídeas suas flores preferidas, (adorava quando você dizia que dentre todas, eu era a mais bela). Fiquei ali, esperando e deixando que as recordações tomassem conta de mim, ajudando assim a controlar a ansiedade e a euforia. Distrai-me com a algazarra das crianças, que alegremente brincavam no parquinho, ri com elas, absorvida por tanta originalidade, que as faziam encantadoras e inocentes. Depois de algum tempo, dei conta que você estava atrasado, achei que seria conveniente por a culpa no transito, justificando assim, algo que não queria, nem podia admitir. Com passar das horas comecei a ficar angustiada, foi nesse instante que ouvi passos vindos em minha direção, meu rosto iluminou-se num enorme sorriso, senti o coração disparar, as pernas amolecerem, o corpo ficar tremulo diante de tanta emoção. Estava pronta para pular em seus braços, me entrelaçar em teu abraço, inebriar-me em teu beijo e só então, aquietar-me junto de teu corpo. Não falaríamos nada, ficaríamos assim, vivendo aquele momento, desfrutando do amor, deixando a saudade sair de nós, e só depois de um tempo é que as palavras viriam, ou talvez não, pois, às vezes, ações e emoções dizem mais. Virei-me devagar, os olhos brilhavam, foi então que desencantada vi, que não era você, e os passos acharam outra direção. Naquele instante meu sorriso se desfez, e o brilho dos olhos ficou embaçado por lágrimas teimosas. Sentei-me de novo, na tentativa de acalmar os sentimentos agora frustrados. Esperei por mais um longo tempo, inútil espera. Quando percebi que sol tinha ido embora, e que luzes incandescentes, estavam substituindo seu brilho, desisti, e com um enorme esforço levantei-me, com passos lentos fui deixando o jardim, de repente, fui tomada por um choro compulsivo, reflexo do enorme vazio que de mim tomava conta. Chorei não só porque você não veio naquele dia, mas, porque sabia, que não mais haveria um dia que você viria.
Então, fez-se noite em mim.