UNS
Um e um são dois. Um nasceu em certo momento e outro noutro momento. Belos cada qual com suas belezas. Feios cada qual em seus momentos desleixados e despreocupados. Mergulhados dentro dos seus uns, cada um tem sua coloração e seus odores camuflados por essências externas – muitas vezes usadas como ferramentas para qualquer coisa e quase tudo.
Um tem olhos castanhos claros e Um tem olhos castanhos escuros. Adultos, cada qual com suas peculiaridades internas e externas. Pernas salientes, nádegas carnudas e redondas, peitos belos, pêlos excitantes, peles macias, queimadas pelo sol, brancas pela proteção das roupas. Um está lá, em um canto do cômodo enquanto Outro está em outro canto. Cantos que ninguém ouve, cantos sublimes com arranjos extasiantes em uma desafinação grosseiramente afinada.
Completamente diferentes com seus sonhos secretos, desejos inconfessáveis e células milagrosamente ajustadas que trabalham em conjunto dentro de dois corpos – cada um com suas embreagens muito bem engrenadas – em uma batalha cada qual. Começam a cantar a mesma canção.
Pele sobre pele. Mão espalmada no ar parece espelho que reflete a outra mão também na mesma posição. Um e Um é cada um com seu qual. Áureas misturam-se e se tornam em uma única áurea cobrindo dois corpos, dois um. Um e Um são dois que juntos, grosseiramente, dançam na mais bela e suave coreografia, ora sincronizados, ora sozinhos dentro de um mesmo querer que ultrapassa qualquer barreira de tijolo vermelho quente.
Odores misturam-se e dançam no ar como fagulhas que sobem de uma fogueira de São João e rodopiam entorno de Um e Um criando a mais incrível, palpável e visível sinestesia.
Um e Um agora são apenas um. Um único momento, um desejo, uns sentimentos iguais em comum. Dois seres diferentes e ao mesmo tempo idênticos. Um sonho, um mesmo sentir de modos diferentes...
Serão um enquanto durarem os próximos minutos... Minutos iguais para cada um, mas com segundos diferentes para os dois. Tudo é único e eterno enquanto há.
Samir S. Souza
contoando.blogspot.com