O Único Amor
Adivinhava-te os pensamentos e sabia o que farias a seguir. Muitas das tuas palavras acudiam primeiro ao meu espírito. Lia-te. Amava-te. Um dia baralhaste os verbos, noutro esqueceste coisas fundamentais. O teu olhar ia para lugares a que eu já não acedia e ficava, neles, muitas horas perdido entre o nada e alguma coisa que ninguém conhecia. Senti-te entrar numa penumbra cada dia mais sombria,sem saber como se diziam coisas vulgares de como se chamava a colher ou o copo. Desaprendias a vida, ganhavas indiferença pelas coisas e por mim. – Quem és tu? Perguntaste. Foi como se tivesses morrido naquele dia mas ainda estivemos algum tempo juntos depois disso. Quando foste embora achei que precisavas de ir. Não me coube decidir mas recebi a tua morte como se fosse um direito que tinhas. Agora, choro de saudade quando te recordo mas, nestas evocações, tu sabes sempre que fui o único amor da tua vida.