Lamúrias da ninfa abandonada

Minha criança buscou suas vozes.

Meus dilemas de criança, não poderia levá-los comigo.

Sacrifiquei-os em meio a floresta, à meia noite, com um caçador de raposas que andava infeliz.

E era o meu sangue que escorria por entre aquelas folhas silvestres.

Todo o meu amor pela humanidade dei àquele caçador, e sua espingarda acertou meu coração em cheio. Era eu apenas uma presa, sua raposa preferida.

Agora os peões perguntam-me o que foi feito da cunhatã revolucionária... O caçador matou!

Sua espingarda poderosa arrancou meu espírito de mudança enquanto entrava forçadamente em minha boca. Ah, mamãe querida, não poderia compartilhar minhas lamúrias convosco. Bem sei que não o perdoarias.

Nada mais pode ser feito, de nada adiantará gemer.

Pergunta-me, ó diário, se tenho raiva daquele, e prontamente respondo a ti: como teria?

Eu o esperarei por todas as primaveras que tal funesta vida conceder-me (esperaria por mais um milhão de vidas em mais de um milhão de universos).

Em meu mundo perfeito, ele voltará em breve.

Meu caçador deixou-me sangrando à meia noite. Sem saber voltar para casa, sem pureza e sem amor.

Mesmo assim, o amo. E por esse amor fingirei santidade por todos os invernos até que sua volta traga à minha existência fúnebre os primeiros raios de Sol.

Jogarei aos abutres o fruto proibido da noite forçada. Ninguém jamais desconfiará.

Doei meu sonho de revolução à um caçador. Bem sei que não sou mais a raposa preferida. Ainda sangro. " Regras precoces, mamãezinha".

Desfaleço e não se ouve nada. Eu era o símbolo da revolução e em mim está a semente amaldiçoada de um caçador. O esperarei por toda a eternidade, recusarei as riquezas mundanas para rever o meu primeiro e único. Tantas preces repetidas ainda não descrevem o meu amor.

Ah, meu lobo, estou sozinha chorando de dor. Por tua causa não consigo sentar à mesa.

Volte, querido caçador! Termines a desgraça que começastes na vida de tua presa. Veja que ainda sangro, em todos os sentidos desta vida que arde em desgraças, ainda sangro por ti.

Raysla Lopes
Enviado por Raysla Lopes em 11/11/2013
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