Que beijinho doce...

Que ela tem

Depois que beijei ela

Nunca mais amei ninguém...

Somente na última década, após ouvir uma regravação, eu soube que essa música existia. Meu pai sempre cantava quando estava distraído, e quando esquecia a letra, cantava as notas musicais. Ele possuía o que chamamos de ouvido absoluto. Escutava qualquer melodia e era capaz de reconhecer as notas. Mas nunca teve a oportunidade de estudar música.

Meu pai, filho temporão de uma família abastada, que até possuía um criado próprio, também é sobrevivente de guerra, perdeu o próprio pai, perdeu bens materiais, o amor com letra maiúscula...

Como um ateu convicto sempre nos repetiu essa frase: "O importante é ser bom com as pessoas e mais, com você mesmo, o resto a gente arranja."

Ele nunca perdeu a visão positiva sobre a vida.

Comprou uma passagem de navio de um desistente, na 3ª classe, e navegou como um Leonardo Di Caprio sem naufrágio até chegar ao Brasil. (Sim, como no filme, quando os passageiros da primeira classe se recolhiam, os "ratos" faziam a festa naqueles decks.)

Tocava na sua gaita tudo o que ouvia pelas rádios, ou então - uma que eu adorava, mas não sabia de onde vinha a música (descobri depois no YouTube - o tema do filme A viúva alegre (Marry widow waltz)com a Lana Turner!!!).

Nunca reclamou da vida, nem dos seus revezes...às vezes, somente às vezes depois que a minha mãe já havia falecido, me falava "daquele amor".

Do que recebeu da vida, ele fez uma bela e gostosa limonada.

E foi o que passou para mim e minhas irmãs -

"Nem sempre temos o que sonhamos, mas fazer o melhor com o que temos, é de nossa inteira responsabilidade."

Hoje, meio surdo, meio alheio a nós, ele assiste o filme "A Noviça Rebelde"

pelo dvd acompanhando as músicas, cantando as notas e relembrando os lugares por onde passeou.

.Beijinho doce - autoria de João Alves dos Santos, o Nhô Pai

.The marry widow waltz - originalmente da opereta The marry widow,

Franz Lehar

PS: Poderia ser considerada uma mini-crônica, mas gosto de desenhar, contornar alguns traços, sombrear outros, acrescentar um coração e transformá-lo em um belo conto...pois assim eu sou.

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