Lagrimas

O dia corria calmo e manso pela manhã adentro, o campo repleto de flores banhadas em cores intensas expeliam um perfume qual dançava pelo ar espalhando-se pelo mundo, no ar os pássaros cantarolavam uma melodia doce capaz de preencher com felicidade o coração de qualquer ouvinte.

Ali naquele pequeno pedaço do paraíso perdido e secreto que uma garota de bochechas rubras corria alegremente, com sorrisos desprendidos e cabelos soltos inundada pelo momento.

Abruptamente o movimento começou e foi aumentando, aumentando, até estar correndo cada vez mais rápida apenas para provar o sabor do vento contra si, roçando na pele a acariciando, o sentimento de liberdade qual lhe flutuava ao redor como carícias de uma tarde de verão.

Quando finalmente ela parou desfaleceu ao chão, parada, quieta, deitada contra a grama verde no campo respirou profundamente de olhos fechados, por um minuto era apenas ela e o universo, então suas pálpebras abriram-se lentamente revigoradas, o sorriso que por um instante se perdera flutuava novamente pela face.

Tudo era tão belo e grande, o mundo inteiro poderia ser feito de algodão doce, ao menos as nuvens eram.

O sol correu pelo céu indo embora, permitindo a noite chegar, a lua brilhar intensa no céu, as estrelas permearem os sentimentos, ali estava ela ainda, deitada, calma, correndo os olhos pelo infinito universo e ligando os pontos entre estrelas como se fosse capaz de desenhar em meio ao nada de sua imaginação.

Ouve-se um vagalume ao longe, sua luz é a única na imensidão, senta-se, ri e admira o pequeno inseto pousado na ponta de seu nariz, uma inocência a transbordar, os músculos a trabalharem começaram a mover-se, mas nem assim o vagalume a deixava em paz.

Sua mão ergueu-se devagar para o pegar com cuidado, e no instante anterior ao êxito o inseto levantou voo voltando a ser um brilho flutuante, não podia conter seus instintos a pequena levantou-se correndo atrás do mesmo.

Diversão, um sonho por pura diversão, um correr pela alegria simples, o sorriso estampado infinito, de repente a garota parou cansada, a sua volta juntaram-se centenas de outros vagalumes como o primeiro.

Era tão mágico, havia algo na noite que enfeitiçava tudo ao redor.

A beleza da cena não poderia ser descrita apenas por meras palavras, a menina cerrou os olhos limitando-se a escutar os sons da noite e suas belas músicas que existiam secretamente, movendo-se sem dar-se conta dançava sendo levada pela natureza e toda sua felicidade se consumia.

Seus sentimentos tornavam-se materializados, quase palpáveis, ela não precisava de nenhuma explicação das razões de estar ali, apenas estava e estando desejava apenas o momento repentino e alegre.

Porém assim como tudo se estabeleceu calmo, simples e feliz, o instante mudou e junto a ele todo o sonho feliz foi lavado desaparecendo, ao abrir os olhos não haviam vagalumes, a grama estava secando ao redor e a brisa que antes era contentamento agora era agressiva quase cortante.

Nem o céu continuava banhado por nuvens doces, os algodões tinham-se ido, o que restara era azul intenso e perigoso, um aviso silencioso, perturbada subitamente a pobre menina começou a andar a esmo, sem qualquer direção tropeçando em suas próprias pernas e canelas.

Entre o medo interior e o universo perturbado de fora, de repente, topou com um homem, o segundo parou porque ela o conhecia e acima de tudo ela o amava, o peito encheu de calmaria, então o contentamento quase a fazendo explodir.

O homem sorriu em retribuição abrindo os braços, a menina correu em sua direção lívida para abraçá-lo, nada poderia ser mais perfeito que aquilo, mas suas peles não se tocaram, nem mãos puderam se roçar, porque ao chegar onde ele estava, tinha desaparecido.

O nada apenas e a noite.

Confusa olhou para cima ao sentir as gotas frias caírem pelo corpo, uma tempestade gelada marcava o início do inverno, sozinha, triste e molhada só pode ser seguida pelo choro copioso, os olhares perdidos para todos os lados a procuro do homem...

Pena, a única coisa que encontrou foi uma lápide à sua frente, sem marcas, cinza desbotada coberta de musgo, mas ela não precisava de inscrições para saber de quem se tratava. Era ele.

Encarar aquilo tornou todo seu mundo infeliz, a vida alegre não passava agora de um sonho tolo que não podia ser trazido de volta, assim como ele também não poderia. A menina sem forças desabou sobre os joelhos em frente ao túmulo desejando ardentemente por tudo que conhecia de sagrado que aquilo fosse apenas uma ilusão.

Mas não era. E no fundo ela sabia disso.

Os lábios tremiam de frio, os olhos transbordavam lágrimas, tudo tornando preto e branco, cinza e branco, triste e branco, frio e também branco. Nada para ser feito além do choro, da prece baixa sussurrada escapando.

- Adeus. – murmurou tristonha com a garganta queimando a cada letra pronunciada.

Ela não se levantou, nem naquele dia, nem nos demais, chorou até exaurir todas as forças e desfalecer sobre o túmulo vendo o fim da linha de sua vida, afinal não havia nada mais que possuía qualquer valor após perder aquele que tinha partido.

Nem a brisa, nem a noite puderam-na impedir. Tudo acabou, se perdeu, assim como sua história pelo vento.

Kaio Akrasan
Enviado por Kaio Akrasan em 01/11/2013
Código do texto: T4551962
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