Canela e eucalipto.
Lá estava ele. Cabelos desgrenhados, pernas largadas, braços abertos, levemente pousados sobre o banco. Olhou para mim. Sorriu. O sorriso mais lindo que posso me recordar. Dentes alinhados, puro marfim. Lábios finos, porém, chamativos. Dei alguns passos em direção à ele, e sentando-me ao seu lado, pude perceber que sua beleza era singular. Um rosto que não encontro em lugar algum. Era lindo! Nele se podiam ver todas as cores. Verde, vermelho, amarelo, azul, preto...Cores primárias, cores secundárias. Cores mais vibrantes que as do arco-íris. Cores puras. Intensas. Nele eu vi toda formosura da natureza. Nele eu vi o céu e as nuvens; vi em todos os seus tons, em todas as suas nuances, em todos os tempos. Nele eu vi a vasta floresta. Verde, viva, mágica. Nele eu vi o mar. Imponente, bravio ou calmo, azul ou verde, e , em todos os tons. Imaginei-me ali naqueles braços, naquelas pernas, naqueles cabelos, naquela boca, sentindo todo aquele ser... Meu coração gelava. E ao mesmo tempo, estava queimando em brasa viva. Algo ocorreu nesse momento, que desencadeou tudo isso. Porém, não me recordo. Estava devaneando. Ele também estava. Pude ver em seus olhos.
Conversamos pouco. Passamos a maior parte do tempo nos olhando. E a cada olhar, eu lia um pensamento. E ele lia os meus. Após tantos olhares, sorrisos e leituras, o ápice: o beijo. Enrosquei-me em seu pescoço, e ele me apertou em seus braços. Uma junção de lábios, línguas, braços, cheiros...O cheiro dele! Um cheiro sem igual. Eucalipto... Acho que era isso. Uma mistura de canela e eucalipto, penso eu. Pude senti-los nele. Talvez seja porque eu adoro esses dois aromas. O cheiro de sua roupa, de sua pele, de sua boca... meu DEUS! Aquilo tudo me deixou sem fôlego. Foi mais o que queria ou podia suportar. Entreguei naquele beijo tudo o que eu acreditava. Todo meu sentimento, todo meu coração, toda minha alma estava ali. E a dele também. Eu pude sentir. Mas, tive de partir. Não porque quis, e sim, porque precisei partir. Meu coração ficou apertado de tanta dor. Ele sentiu o mesmo. Vi em seu rosto. Tive de deixá-lo. Ou não. Talvez tenha sido egoísmo meu. Mas, eu o deixei. Deixei-o lá. Deixe-o só. E num ato egoísta, voltei para mim. Voltei para meus próprios braços.
Ainda me lembro daquele cheiro...eucalipto e canela. E, esse cheiro ficou impregnado em mim. Não sai...