CORAÇÕES DE PEDRA
Eu posso te dizer que não quero, e talvez jamais vá desejar_ É o que ela dizia sem hesitações, e não havia nenhuma restrição ao dizer tais coisas. Aquele rapaz não seria nunca o seu amado. Jamais alguém como aquele jovem se tornaria o ideal para seu amor.
Uma amiga lhe indagava: _ Mas por que tanta ira por alguém tão bom? Que o fez de tão mal assim? E a resposta era sempre a mesma, apenas os pensamentos se expressavam na mente dela:
“Simplesmente não sinto alguma coisa sequer,
E em meu íntimo não existe o atrativo...
Ainda que outros insistam que haja algo entre nós,
E imaginem um amor infinito neste casal...
Assim mesmo impedirei os incentivos...
Não permitirei o calor dos sentimentos mais nobres...
Após os sonhos vêm pesadelos...
E depois da alegria despontam as agonias...
Minha poesia é puro drama...
A realidade difere muito dos devaneios;
Porque o poema real do meu viver
É verdadeiro gelo do pólo sul...
E o que há em comum entre duas pessoas...
Seres tão diferentes como nós?”
Entretanto, sua colega instava bastante com ela, e falava que algum dia as coisas iriam mudar... pois achava que não muito tempo distante tudo tinha para acontecer um perfeito amor... A paixão consumiria os genuínos sonhos mais profundos:
“Às vezes deixamos o que tem mais valor,
E por termos medo de ser felizes apenas perdemos...
O amor é o sentir mais recompensador...
E apreciarmos alguém é como um prêmio anelado...
É muito amável termos uma pessoa...
A quem possamos mostrar preocupação...
Alguém que cuidamos com o nosso carinho...
E damos o acalento do nosso coração...
Tudo depende de tão-somente querermos...
Apenas nós mesmos é que podemos acender...
E fazer a chama do amor resplandecer...
Os sonhos podem ser realizados...
Porque se houver diligência... eles se concretizarão...
Nada é impossível em matéria de sentimento...
E em apenas um instante... ele surge...
Do nada aparece um frio dentro de nós...
E já estamos completamente envolvidos...”
Ela, porém, raciocinava em seu interior de maneira diferente, e só chegava a conclusões negativas... Quando imaginava algo romântico, logo desvanecia este pensamento... Achava que nada a faria ficar enamorada. Como poderia se apaixonar por um rapaz como ele? Em sua opinião, isto nunca iria se realizar, e se tornava uma coisa muito impossível para a sua existência... Sim, longe da sua realidade.
“Quero viver em liberdade e em passeios...
Anseio viajar e conhecer novos horizontes...
Porque os alvos do meu viver usufruem verdadeira felicidade...
Meus objetivos são plenamente adolescentes...
Temo as tristezas mais deprimentes...
E evito o jugo cruel das emoções...
Corações despedaçados tenho visto...
Gente lamentando perdas tão dolorosas...
Choros tenho notado em cada canto...
E em todos os lugares há aqueles cativos...
Que esperam em toda a sua vida...
Que nutrem esperanças desesperadas...
E quantas são as mulheres espancadas,
Nem sempre com ferimentos aparentes,
Mas com quebraduras internas...
Pois palavras rudes machucaram-nas mais vezes...
De muitos momentos não guardam nem recordações...
Procuram esquecer o sofrer amargo do que foi o amor.”
Outras pessoas insistiam com ela, e explicavam-lhe que seria excelente que aceitasse um romance com ele. Pois um moço daquele não ficaria sempre à disposição, e um bom rapaz seria logo encantado por alguma mulher especial...
No entanto, o ponto de vista dela era irredutível, e nem sequer uma afeição cultivava pelo jovem. Uma personalidade forte tinha ela, e um coração de pedra.
Os anos foram se passando e o tempo vinha implacavelmente. Entrementes, ela já havia rejeitado muitos outros pretendentes. Enviavam-lhe flores, presentes, e faziam-lhe as mais belas declarações de amor. Mas os sentimentos dela eram inexistentes e eram frios, e, por fim, sentia-se obrigada a expor sua verdadeira condição emocional, decepcionando muitos homens que lhe faziam a corte.
“Nada irão adiantar tuas frases românticas...
Teus dizeres mais seletos não impressionarão...
Por que continuar assim?
Não compreenderei qualquer insistência.
Usar de sinceridade não é crime...
Pecado seria a falta de franqueza...
Pára de procurar, e dá tudo por perdido...
Não deixes a lamentação te dominar...
Porque a tristeza é sempre passageira...
Dizem: O tempo é remédio para todos os males...
Logo outra te pertencerá avidamente,
E sentirás o contentamento mais agradável...
Quando uma senhorita te surgir,
Será esta a mulher que te merecerás.”
Por fim, depois de um bom tempo, e de observar suas amigas, uma após outra, começarem a namorar; algumas já tendo se casado; outras procurando seu respectivo príncipe a todo custo... Foi a partir deste tempo que o coração dela passou a amolecer...
“Preciso encontrar alguém que me ame...
E que demonstre estar perdidamente apaixonado...
Sei realmente que deve ser muito bom o amor,
Porque muitos falam tão bem destes sentimentos...
E vejo que mudanças profundas há em mim...
Nossos parentes e amigos nos convencem...
As palavras deles têm profundos significados...
Muitos conceitos ficaram caídos ao chão...
E são outra forma de nos trazer ilusão...
Aos poucos preciso dos abraços envolventes,
Necessito dos afagos sobre os cabelos...
Não desejo permanecer sozinha...
E levarei a solidão para lugares longínquos...
Amar deve ser algo maravilhoso,
E gostar de alguém me fará feliz.”
Sim, aquele rapaz que ficara anos perto dela, nas horas alegres e nos momentos de amargura... Aquele que sempre a apoiara, e que fora paciente... Aquele que mostrara amizade despretensiosa... e que não exigia nada de volta... Era a quem ela passava a pensar de maneira bem divergente. Passara a olhá-lo como prospectivo namorado. Talvez fosse ele aquele que mereceria sua atenção. Agora seu coração estava disposto, e chegara o tempo para o amor...
“Vou demonstrar o que existe no meu íntimo;
Esconder o que sinto não valerá a pena...
Saberás que meu coração não é de pedra, não...
E que não guardo a frieza dentro de mim...
Conhecerás o afável encanto das minhas expressões...
Pois tentarei te agradar intensamente...
Apreciar-me-ás pela vida inteira?
Jamais se enjoará da minha companhia?
E quando estivermos juntos alguns nos elogiarão...
E irão rir-se da minha pessoa, que dizia “não”...
Tudo isto não importará nem um pouco...
Não haverá nada exceto a ternura para ti...”
Alguns amigos dela vieram até ele. Disseram-lhe que as coisas lhe eram favoráveis. Diziam: _ Esta senhorita te aprecia bastante, e tem reparado em tuas qualidades...
Contudo, ele já se tinha voltado para outra mulher. E suas poesias havia dado para outro amor. Suas declarações foram expressas para outros ouvidos... E a paixão já o tocara com fortíssimos grilhões... Neste instante ele estava amando outra moça...
“Nenhuma mulher seria mais amiga que tu;
Tenho presenciado uma parte do teu viver...
Conheço-te tão bem como quase ninguém...
Teus pensamentos tens desabafado comigo...
E não ocultaste os dizeres das tuas dificuldades...
Tenho te compreendido e te dei ouvido sempre...
Gosto de ti assim como és...
E admiro-te como pessoa formidável que vem sendo...
Poucos entenderiam o teu valor imenso...
Mas eu os reconheço... cada virtude tua a considero...
Se tiveres defeito... tudo se torna em qualidades...
Pois para mim és como uma mulher perfeita...
Alguém que vale mais que os diamantes... mais preciosa
Que qualquer metal caríssimo...
No entanto, tenho me encontrado com outra moça...
Uma senhorita que roubara meu coração...
Declarei o que possuo de mais verdadeiro,
E mostrei que o amor é mesmo inevitável...”
Ao ouvir as expressões dele, as lágrimas caíram sobre o seu rosto. Gotas de orvalho brilhantes despejaram na noite ... E lamentava: _ “Coração de pedra... Não se comove de ver minha tristeza?” Ao contemplar as luzes das ruas na escuridão da cidade, sentia um aperto dentro de si, uma aflição amarga, por não poder realizar um sonho... Que por sua própria culpa não tinha se concretizado... Perdera, sim, mas pronta para recomeçar novamente. Deixara de ter alguém especial, porém, ainda poderia achar outra vez...
Lord Lancelot