O Louco Encontra O Mago e o Eremita ( AndançasIII Final)

Depois de doar um pouco de seu quinhão para a roda da fortuna, continuou sua jornada pelo o mundo aquele que é o Louco do grande livro da vida. Sua busca cada vez mais clara, e cada vez mais sua alma via-se perante o Criador, mas triste via ele que mesmo assim não se supria da sua seiva de amor, os caminhos eram cada vez mais perigosos, e a terra infértil não deixava opção ao andarilho se não entregar-se para a fome; tolo poderia ter meditado nela, ter compreendido o amor, a seiva do arquiteto, mas preferia deixar-se afagar-se pelo o Diabo e debater-se em revolta, que engolia perante aos que lhe buscavam para ter um segundo de paz, e quando estes saiam felizes e reconfortados pelo louco, novamente como a torre de babel ele ruía e regurgitava revolta.
Em um dia de sol tímido clareando a terra recentemente molhada pela chuva, sorvia ele do odorífico solo a sombra dos trovões que partiam levando água para outras terras. Lembrou-se que sonhara com o Hermitão e que este lhe falava que não era pelo o Magnum Opus que ele receberia a triple coroa da iluminação
 
Quando uma voz lhe trouxe dos pensamentos:
 
- Bom dia amigo, Louco como vais?

Radiante o louco virou-se para o amigo, O Mago, e depois de abraços iniciaram uma conversa sobre os ditos caminhos, e o louco pensava por vezes que estava mais fácil conduzir-se pelos caminhos invisíveis que visíveis;  falaram da carta O enamorado que ainda brigava com o leão, e não usava de sua sabedoria, lamentaram por este que pendurado está a beira do abismo; relembraram de Lilith que se aventurava em terras conhecidas  ao lado de estrangeiros cheios de velhas novidades.
Até que o louco abriu-se sobre suas dores intimas, disse que sentia fome...Sem pestanejar o mago dividiu com ele um pedaço de pão e um naco de carne seca, os dois recostaram-se numa pedra e enquanto comiam O Mago animava seu amigo.

-Tenho uma lista de pessoas que passam por isso, primeiro as privações e ai através destas descobrem suas tarefas espirituais e as privações passam...
 
O Louco sorrio e pensou nos anos das farturas e sentiu-se grato pela pobreza, só assim caminhava seguro até o coração do Arquiteto. Mal sabia o Louco que O Mago trazia em sua túnica um presente.
 
-Louco, sabe que se der vasão para a revolta prolongará tuas agonias...
 
Enquanto o mago comia o pão, o louco tira de sua trouxa uma pena longa e azul, um tinteiro mal lacrado e um pergaminho manchado, pelo descuido na hora de guardar suas ferramentas de trabalho.
Vendo isso, O Mago com seu jeito característico disse:
 
-Deverias cuidar mais, pois tudo isto te serve em tua grande obra...
 
O Mago sabia que o amigo escreveria uma poesia...Astuto e velhos conhecidos, ele sabia que somente pelo exercício de seu oficio o louco entenderia o que acontecia fora do espaço de seu controle... Eis que surge lindo verso que recita O Louco para o amigo O Mago:
 
 
Subi até a estrela solitária
a mais brilhante entre todas...
Sombra do grande pai
próxima aquecendo com vida
conduzindo  homens de dia
e escondendo-se o sol nasce a noite
para nos mostrar suas distantes parentes
e a possibilidade inaudível de outros mundos
e as fabulas encantada de outros deuses...
Nestes mundos como é amado o senhor único?
 
Como ter saudade de casa, se em casa estou?
 
Do alto desta estrela vi homens corrompidos pela beleza
lutando por grandeza e amando por vaidade
Vi outros compassivos esgueirando-se pelas massas
Imperceptíveis lumes escondidos!
 
Grandes magos querendo fazer do chumbo o ouro
e extrair da pedra a vida eterna, para gozar da descoberta...
E eu desci da estrela, mergulhei na magnésia
Resvalei para o éter pesado como chumbo eu caí
 
Em noites estreladas sonhei com todas as moradas
E no dia onde a sombra de Deus reluzia como o sol
A grande obra pareceu ínfima se fosse tão somente para riqueza material
Contemplei em segredos oculto a matéria primal
E a grande obra sou eu diante o sol...chumbo que anseia ser ouro
 
Desmistificando e instigando eu sou alquimista da nova era
A grande obra sou eu caminhado para iluminação e para os confins de novas esferas
Conquistando a riqueza que não é vista pelas feras
Aquela cuja traça e ferrugem não corroem
Que não instiga inveja e ódio
Mas amor que trás seguidores...
 
E viver para sempre é viver o sempre que é determinado
Em cada momento em cada estágio...
Aqui na terra azul ou do outro lado...
Quem sabe em outro orbe onde brilha um sol azul
E a lua não é sozinha contempla a face da noite com suas irmãs fazendo grande festa
 
Eu sou o grafite esmagado pelo o peso desta atmosfera
Em milhões de anos eu que do grafite á preciosa pedra
Que em mundos chovem como água, pois não há cobiça que as esperam...
Esmagado pela rocha deste mundo azul, pelas lagrimas e dores que plantei.
pedra bruta de diamante me transformei... Submeto-me ao esmeril da vida
A lapidação divina, que vos narro em minhas obscuras poesias!
 
Quem tem ouvidos ouça o que diz este templo do Senhor!



O Mago encantou-se com o poema do amigo, e esta era a forma do Louco dizer obrigado ao Mago, pois sem O Mago, muita coisa ele não seria capaz de realizar, de fazer ou compreender.
 
- Que lindo amigo...


-Uma forma que encontrei de me apropriar dos ensinamentos que me são dados, de fixar em mim os teus ensinamentos e o ensinamento que me passou em sonho o Ermitão... Quando fui a pitonisa do Ermitão eu não soube lidar com a miséria material e assim comprometi o espiritual, hoje faço diferente...Preciso viver este momento, sem ele não verei a luz
 

- Bom, diante tão belo poema, posso dar-te um presente.
O Mago ergueu-se e jogou no chão um disco de prata que girou tão rápido que faria em dois o núcleo da mais densa estrela. Como por encanto o disco de prata tornou-se azul e uma luz marrom que não iluminava desprendeu-se dela, projetou-se para fora  uma imagem distorcida que não demorou a ter uma forma, parado a sua frente encontrava-se o Ermitão...Que logo foi dizendo:
 
- É este a abertura do brocado que  lhe servirá de agora em diante, faça dele uma obra prima usando o cinzel de seus conhecimentos e lacre-os com a cera do seu passado, mas não se esqueça de acrescenta saliva e barro para a cura dos enfermos, pois de suas letras virão as bases para o continuar desta encarnação.
Isso vem de alguém que está na torcida para que encontre o rumo e tome posse do que lhe pertence por direito, por honra e por herdade.

 
O Louco prostrou-se e deixou que lágrimas balsâmicas que lavasse a alma; terminado o seu choro quase que de órfão diante o reencontro com os pai o Ermitão continua:
 
- tudo está certo na Terra, até esse aparente sofrimento, que é fruto do estado que nos colocamos como filhos de deus não é?
 
Emocionado com voz embargada O Louco responde:
 
-Claro...É este fio que me atrai quando a revolta se aproxima...
 

- justamente filho, o mesmo fio que serve para subir serve para descer, e saber a hora para cada uma destas ações é que diminuirá o desconforto, porque muito tens tu  filho, descido na hora que deveria subir e subido na hora de descer
Só existe a melhor obra, quando a obra é capaz de também produzir sua melhor obra, e assim sucessivamente, a melhor obra de pai é sua criatura e sua criatura deve realizar sua melhor obra para oferecer ao pai.
 

- Tens Razão... Eu que tenho vagado nos confins do mundo sei que as vezes desejo por ele e não por mim, pois minha paz é chegar ao coração de Deus, contudo ainda pensando nos que não podem vir, mas agora um pouco de entendimento há, graças ao meu amigo Mago, que me explicou que estas cordas serão vistas na melhor hora quando cada um pronto estiver para vê-las.

- Filho, em todos os deuses que conhecemos... Em todos eles há a face de Deus estampada, encontrará Deus em todos que olhar profundamente com amor e com misericórdia, sentirá o olhar e saberá que ele deseja ser visto naquele ser.
 

Como que iluminado por entendimento diz O Louco:
 
- E agora compreendo porque segui sendo o Louco do Tarô e esta é a melhor hora para encontrar-te e ver em minhas mãos o livro de minha herdade. És tu o alquimista que descobriu que não há busca por ouro e sim pelo estar incorruptível de espirito e alma, a iluminação, e que por sermos composto de tudo que há não somos diferentes da densidade da Terra,
O mesmo misterioso processo que acontece nas profundezas das terras e cascalhos acontece também na profundidade de nossa alma.
vos sou grata, e mesmo que meu amigo, que chamo da carta O Mago
não entenda, eu entendo que hoje que ti Ermitão é o pai de minha moral. Obrigado
 

Ermitão e O Mago Sorriram...depois de uns minutos o  Ermitão prossegue humilde:
 
- Não há que agradecer, nem a mim nem a ninguém, pois ninguém tem poder sobre sua vontade e a iluminação que sente é por desejar que sua alma sobrepuje seus instintos e somente a alma pode ver Deus nos muitos deuses conhecidos.
 

O Louco Completa:
 
- Pois somos todos compostos da matéria primeira, lá no mais profundo da alma, é onde habita a paz que buscamos, pois então usarei do barro e da saliva serei, voz em escrita e usarei o lacre de meu passado...E que um só homem ouça esta voz e eu saberei que ela ecoou por toda a criação.
 
-Exatamente. Muitos são os olhos que assistem sua peregrinação, e muitas são as mãos que louvam cada dia que se finda, segue pelas ultimas linhas desta pagina da vida para que breve outra surja branca e pronta para ser escrita...


-Assim será pai...


-Assim é Filha...
 
Nesta hora O Louco mostrou sua face de Sacerdotisa, o disco de prata parou de girar e a imagem do Ermitão empalideceu até que sumisse, ao olhar para seu amigo O Mago este também já não era mais O Mago, mas sim o Sacerdote, ele se ergueu tomou do disco de prata e guardou em suas vestes.
 
- Sabe amigo, quando iniciei esta jornada pensei que  no fim dela seguiria com o Ermitão na luz do grande Sol, como gêmeos que somos, mas é de braços contigo que termino...
 

- Cara amiga, o termino de um caminho é o inicio de outro, e olhe – apontou o sacerdote para cima- Lá está o sol nos iluminando, e hoje seguimos forte, pois eu e tu somos A força, a carta cuja mulher abre a boca do leão e com sabedoria e amor o vence...
 
- O que podemos dizer?
 
- Madre! hahahahahahahahaha
 

Ambos seguiram novo caminho, o Louco já não era louco e sim a Sacerdotisa, e o Mago ainda era mago, mas um sábio Sacerdote.

 
Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 19/10/2013
Reeditado em 19/10/2013
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