O meu primeiro Beijo

Eu, aos 13 anos, já era apaixonada por eles ha mais de 5 anos. Era um jovem até bonito, mas o que me encantava mesmo era sua simplicidade e carisma. Todas as meninas que eu conhecia tinham uma queda por ele. Mas nunca cheguei a criar ilusões, ele era 4 anos mais velho que eu.

Todos os dias eu o via, quando ia para a escola. Pegávamos o mesmo ônibus, que passava primeiro na minha escola e depois seguia para a dele. Vou chama-lo aqui de Alê.

Minhas amigas faziam um esforço terrível para que eu me declarasse. Eu fugia sempre, claro. Quando via Alê, meu coração disparava. Apesar de gostar demais dele, sempre acabávamos brigando, discutindo por qualquer bobagem.

Assim, ao final do ano de 2003, recebi como presente, uma viagem para São Paulo, onde visitaria meus irmãos mais velhos. Data programada, minhas amigas Si e Quel puseram na cabeça que eu ia ficar com o Alê antes de viajar, e começaram a maquinar pelas minhas costas.

A dois dias de a viagem acontecer, Si me chamou para irmos à casa de Quel, jogar conversa fora como fazíamos sempre. Fomos e eu nem imaginava o que elas haviam armado. Minutos depois que estávamos lá, Alê apareceu com Jair, irmão de Quel. As meninas começaram a me provocar:

-Conta Lenne, fala com ele.

Alê quis saber do que se tratava. Eu fugi, desconversei. Acabou que as duas saíram e me deixaram a sós com ele, na sala da casa.

- Lenne, as meninas me disseram que você gosta de mim, é verdade?

Eu respirei fundo. E daí que ele soubesse? Nada ia mudar mesmo.

- É, é verdade sim.

- Porque briga tanto comigo então?

Eu ri, nervosa. As mãos estavam geladas.

- Sei lá por que. Só sei que gosto de você, desde meus 8 anos, quando vi você cantar na Igreja lá de baixo.

- E eu mereço esse amor?

Ele me encarava como se tivesse vendo um bicho raro.

- Mesmo sem você merecer...- Eu respondi.

- Você vai para São Paulo, não é?

- Sim, vou depois de amanhã.

- Tem algo que eu possa fazer?

Era demais...

- Não, e nem quero que faça nada. Vou decidida a esquecê-lo.

Eu me levantei para ir embora, as meninas invadiram a sala me pedindo para ficar. Ele ficou sentado, como que ainda em choque.

- Vocês não tinham o direito de fazer isso...- Eu disse e saí.

No dia seguinte, mesmo sabendo o quanto eu estava chateada, Si ainda apareceu em casa, levando, adivinhem? Alê. Ele parecia meio desconfiado. Meus pais estavam trabalhando e minha irmã mais velha estava viajando para a casa da minha avó. Eu estava terminado de arrumar minhas malas. Alê ficou na sala, sentado, mexendo em uns livros e Si foi até o quarto onde eu estava.

- Lenne, dá uma chance a ele. Você vai viajar. E se, quando você voltar, ele estiver namorando? Vai perder essa chance?

- E daí? Vou ficar com ele para quê? Só prá eu ir com o gosto dele e sentir mais saudade ainda? Só se eu gostasse de sofrer, Si. Pode dispensar ele, não quero.

Ela insistiu que eu fosse falar com ele. Eu acabei indo, conversamos poucos minutos e eu o dispensei.

- Olha, mainha logo está chegando, se te pega aqui, vai dar problema para nós dois.

Ele me olhou com uma expressão muito terna. Ficou meio sem saber o que fazer.

- Posso te dar um abraço de despedida?

Eu permiti, claro. Nosso abraço foi longo, apertado. Eu senti o coração dele acelerado. mas não voltei atrás. Me afastei dele, ele beijou minha testa e partiu. Si me disse um monte de coisas. Mas eu nem dei muita importância.

No dia seguinte, viajei para São Paulo onde fiquei por 3 meses. De volta à minha cidade, eu havia decidido a fingir que o havia esquecido. Minhas amigas fizeram a maior farra quando eu cheguei. Me arrastaram para todos os cantos da cidade, curiosíssimas. Ficaram meio decepcionadas quando disse que o havia esquecido. Cheguei numa segunda-feira. Evitei sair até o sábado, quando faríamos uma viagem entre os jovens da minha igreja. Ele estaria, claro. Quando cheguei ao ônibus, ele estava lá, ainda mais bonito do que eu me lembrava. Nem dei importância, cumprimentei a todos, ele virou-se e me olhou de cima a baixo. Sorriu para mim e eu apenas retribui com um aceno de cabeça. Não conversamos em toda a viagem.

Na semana seguinte, iniciaram as aulas. Eu havia trocado poucas palavras com ele desde que chegara e preferia assim. Uma das irmãs dele, Bela, ficou muito amiga minha e eu nem desconfiava o por que. Um mês, mais ou menos que eu havia chegado, ela me chamou para ir à casa da mãe dela. Assistiríamos a um filme, comeríamos pipoca e nada mais. Pois bem, topei. Já na casa dela, Alê apareceu. Óbvio, morava ali. Mas não esbocei reação alguma.

Ficamos nós três no quarto, jogados na cama assistindo. Bela deu um jeito e saiu. Parecia que todos conspiravam contra mim. Não daria ousadia de ficar no quarto sozinha com ele. Saí e fui para a sala da casa. Ele me acompanhou. Ficamos conversando futilidades. Até que ele me perguntou sobre a viagem.

Contei-lhe tudo, dos passeios, dos meus irmãos. Ele me indagou novamente:

- Lenne, porque não quis ficar comigo aquele dia?

Eu suspirei, de novo aquele assunto?

- Não teria sentido ficar só por ficar. Depois, eu viajaria, iria sentir ainda mais falta. Não me arrependo da escolha que fiz.

- E hoje?

- Hoje o que?

- Ficaria comigo hoje?

Eu ri, meio irônica, meio nervosa.

- Se não topei naquela época que era apaixonada por você, Porque toparia agora?

Ele fechou o semblante.

- Sabe que depois daquele dia não parei de pensar em você? Acabei me apaixonando...

Eu engoli o riso. Mas não acreditei.

- Estou sendo sincero- ele falou- Senti muito a sua falta. Só então percebi o quanto gostava de você.

- Qual é, Alê? Para cima de mim com esse papo?

- Falo sério! Quero namorar você...

- Nem comece. Sei que você gosta de todas, que quer pegar todas. Não caio mais nessa. A menina boba que era apaixonada por você morreu.

Levantei-me e chamei Bela. Ela apareceu, eu me despedi e fui embora. Mas não esqueci o que ele me disse. Pelos meses que se seguiram, ele de tudo fez para me convencer que era apaixonado. Me enviou inúmeras cartas, quando nos encontrávamos no ônibus escolar, sentava comigo, e eu estava me entregando de novo àquela sensação. Minha paixão nunca havia morrido de fato.

Ele tentou ficar comigo outras vezes, mas sempre fugi.

Em outubro, uma quarta feira, estava ensaiando uma apresentação com algumas colegas. Ele apareceu com Fabio, um amigo nosso. Ficou observando o ensaio e ao final, ficamos conversando os quatro: eu, Alê, Si e Fabio.

Em dado momento, Si e Fabio nos deixaram a sós, torcendo pelo nosso beijo. Até protagonizaram um beijão, ao passo que eu ri descontroladamente. Já a sós, ele me abraçou ternamente, falando sobre o quanto gostava de mim.

- Nunca imaginei que viesse gostar tanto de você, Lenne.

Acariciava-me o rosto e eu não queria mais fugir dele. Vi tamanha sinceridade em seu olhar que apenas sorri.

- Eu te amo- ele sussurrou abraçando-me. Nossos rostos forma se aproximando.

- Preciso te contar uma coisa.

- O que é, Lenne?

Eu ia contar a ele que era meu primeiro beijo. Mas me segurei. Ele podia acabar desistindo por me achar muito menina.

- Deixa prá lá...- Eu sorri.

Aconteceu. Nossos lábios se encontraram e no inicio foi tão estranho para mim. Meu coração parecia que ia saltar pela boca. Ele me enlaçando pela cintura com um dos braços e com a outra mão segurava-me pela nuca, acariciando meus cabelos. Rendi-me àquele beijo e sei que ficamos alguns minutos assim. Quando finalmente nos afastamos, ele sorriu e me abraçou tão forte que quase me tira o ar.

- sabe o quanto eu esperei por isso?

- O mesmo que eu esperei...

Nosso namoro foi curtíssimo. Apenas 12 dias porque meu pai descobriu e proibiu. Nosso amor, no entanto, durou muito mais. Sempre que nos encontrávamos, rolava aquele clima meio estranho. Não me arrependo de ter sido com ele meu primeiro beijo. Foi marcado por um amor puro e muito bonito, ainda que proibido. Depois de algum tempo, contei a ele que tinha sido o primeiro, e ele não acreditou. Só há alguns meses, conversando via facebook, afirmei o mesmo fato e ele creu. Me disse nunca ter esquecido o que houve, pois nosso término foi muito triste. Eu o vi chorar quando contei-lhe que meu pai havia proibido. E quase nos intrigamos por um tempo depois disso. Acabamos ficando outras duas vezes, depois de um ano do término oficial. Eu já estava bem mais experiente, já tinha ficado com outros meninos. Mas creio que nunca o esquecerei. Lembro dele com carinho. Me fez descobrir o amor e o quanto é bom estar com alguém que se gosta.

Milene Gomes
Enviado por Milene Gomes em 07/10/2013
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