Celina e Ramon

Esta é a história de dois corações que se encontraram por obra do destino e que viveram as aventuras e as desventuras da paixão. Tudo aconteceu há muito tempo, pouco depois da conquista de Tróia pelos gregos. Estavam lá Aquiles, incomparável em sua força, o sábio Odisseu, Agamenon, um dos mais bravos líderes, e centenas de corajosos combatentes que não temeram dar suas vidas pela honra da Grécia. Dentre os intrépidos aventureiros, estava o príncipe Ramon, um jovem robusto, belo, de feições másculas. Seus cabelos compridos esvoaçavam ao vento quando cavalgava. E na arte da cavalaria, era inigualável, e ainda a pé, numa corrida, ninguém conseguia vencê-lo.

Depois de Tróia ter sido incendiada e destruída, ele e seus compatriotas foram recebidos com honras de heróis pelos habitante de Atenas. Ao terminarem as festividades, Ramon sentiu saudades de casa, pois passara dez anos na guerra, e quis rever seu pai, Rei de Mégara. Ao chegar em sua terra natal, o príncipe teve uma desagradável surpresa: seu pai, que vivera muitos anos em reticente viuvez, se sentindo muito sozinho principalmente depois da partida de seu filho para a guerra, resolveu se casar novamente. Ele se encantou por Eldora, mulher bonita, mas sagaz, que se fez passar por viúva, para conquistar o rei, e no entanto, tinha tenebrosos planos. Na verdade, ela era mulher de Crato e ambos tramaram uma forma de tomar o poder. E assim se fez: pouco depois das núpcias reais, Eldora preparou um veneno, misturou-o ao licor de framboesa que o rei tanto apreciava. Quando este o tomou, lançou a taça longe e morreu fulminado no mesmo instante. Eldora e Crato se proclamaram rei e rainha e governaram com iniquidade e injustiça. Mas o povo sofrido tinha forte esperança de que Ramon voltaria e restituiria a realeza e os tempos de concórdia e paz naquela ilha.

Era esta a situação quando o jovem príncipe se aproximava de seu reino, e ao saber de um camponês de tudo que havia acontecido, chorou amargamente a morte do pai e jurou vingança. Mal sabia que seu retorno já tinha sido comunicado aos reis impostores e antes do cair da noite, Ramon e todos seus companheiros foram presos e levados ao calabouço do palácio. A feiticeira foi, então, falar com seu prisioneiro:

- Ora, vejamos. O herói que esperava ser recebido com glória pelos súditos é escravo da rainha. Falou Eldora, com frieza em suas palavras.

- Sua bruxa! Nunca fostes e nunca serás rainha! O trono que usurpaste será a causa de tua ruína. E eu nunca descansarei enquanto não vingar a morte de meu pai...

- Oh, como está afoito este prisioneiro que mal terminou sua viajem. Se tens tantas saudades de teu pai, anima-te. Em breve encontrarás com ele. Amanhã, ao raiar do dia, serás levado ao templo de Ares, o deus da guerra. Tenho pretensões de conquistar muito mais, para tanto, preciso oferecer um grande sacrifício...

- Como pode haver criatura tão abominável! Meus conterrâneos jamais consentiriam que tamanha loucura se cumpra! Esbravejou o príncipe.

- É aí que você se engana. Eldora soltou, então, uma sarcástica risada. Teu povo se cansou de te esperar. Apaguei de suas lembranças tua imagem e a de teu pai . Todos me veneram não apenas como rainha mas também como deusa...

- Mentira! Minha gente nunca cometeria tal infâmia. Teus feitiços é que enganam meu povo...

- Cala-te. Tuas palavras de nada adiantarão... Seu semblante tomou um aspecto mais sinistro. Talvez até tenhas alguma razão. Meus feitiços são poderosos... Tens sorte de morrer amanhã. Pois mesmo que sobrevivesses, nunca serias feliz, pois roguei uma praga sobre ti a fim de que toda mulher por quem te apaixonasses, haveria de se tornar tua desgraça. Achei que merecias uma sorte igual a de teu pai...

Ramon então caiu por terra. Aquela recordação o abatera deveras. Parecia não haver solução. Com seu pai morto, o povo enfeitiçado, os companheiro presos, não teria mais chances. Mesmo assim, o jovem encheu-se de esperança e suplicou a Apolo, o deus da justiça, que fizesse alguma coisa para mudar aquela situação pavorosa. Sua prece, demorada e fervorosa subiu aos céus como incenso e Apolo resolveu tomar partido da situação.

Muito distante dali, num país chamado Tebas, havia um rei muito simpático que apesar de sua serenidade, não percebia o péssimo caráter de seu conselheiro, o ardiloso Miquéias. Sua filha, a princesa Celina era encantadora. Seu rosto tinha as cores do pêssego e seus cabelos eram como os trigais em tempo de colheita. Tamanha beleza não passava despercebida e os príncipes que vinham cortejá-la ficavam deslumbrados. Mas Celina não se interessava por ninguém. Vendo que a jovem resistia até aos melhores pretendentes, o rei delicadamente foi falar com a filha. Sugeriu que ela fosse ao templo de Afrodite, a deusa do Amor e que lá teria a forma de como encontrar o seu verdadeiro amor.

Um pouco contrariada com a idéia do casamento, Celina foi ao templo, acompanhada de sua aia.

- O que farei diante do altar, se o desejo de meu coração é ficar junto de meu pai que já está adiantado em anos, e cuja partida para o outro mundo não se fará tardar? Temo que Miquéias venha a querer enganá-lo e fazer com que eu me case com algum crápula de sua corja.

- Não tenha medo, minha ama. Falas assim porque não te apaixonaste por ninguém. Mas Afrodite há de ser-te favorável e trará alguém digno de teu coração.

- Sendo assim, está bem.

Já estavam à porta do templo e foram recebidas pelas virgens que cuidavam dos ritos sagrados. Ficaram muito contentes com a visita da princesa e providenciaram todo o necessário para as oblações de Celina. A jovem, empunhando um turíbulo, aproximou-se do altar e fez a seguinte oração:

- Oh! Afrodite que dentre todas as deusas do Olimpo sois a mais bela, ouvi minhas preces que sobem a vós como o doce odor deste incenso: concede-me a graça de ter um marido fiel e despretensioso, que seja justo e honesto e que principalmente tenha um coração capaz de amar com toda intensidade a mim e ao meu povo.

Dito isto, entregou o turíbulo com incensos à sua serva e se ajoelhou. Ficou por um bom tempo assim. Afrodite se compadeceu da princesa e quis ajudá-la. Fez então que a profetiza do templo tivesse uma visão. Esta despertou do sono, e foi correndo para o interior do templo. Ao ver a princesa prostrada diante do altar, falou em alta voz:

- Afrodite me concedeu uma visão. Disse que para atender o teu pedido, tu, todas as tardes, quando as andorinhas brincam no ar, deves ir à Lagoa do Encanto e de lá tirarás uma pedra, a primeira que pegares. Deverás secá-la e na gruta que fica sobre um monte próximo à lagoa riscarás a pedra na parede. Se sair alguma faísca, este será, então, o sinal de que teu desejo foi atendido.

Celina saiu exultante do templo, e correu para dar a notícia ao pai, que ficou contente por saber que poderia morrer tranqüilo. Em seu trono não subiria ninguém que viesse a entristecer Celina ou ao reino.

Tudo seria perfeito se Miquéias também não elaborasse seus planos...

Nunca a noite pareceu tão longa para Ramon. As correntes que o prendiam eram tão grossas o que tornava impossível para um homem tentar arrebentá-las. Apolo, que tomara partido do injustiçado prisioneiro, fez com que os guardas caíssem em um sono profundo. Ramon ouviu, então um assobio: era seu melhor amigo, Glauco, que conseguira escapar à emboscada da perversa rainha:

- Consegui roubar as chaves. É estranho que todos os guardas estejam dormindo, enquanto deveriam vigiar preso tão nobre. Cochichou Glauco, enquanto tirava os grilhões de seu amigo.

- Não imaginas como fico feliz em ver-te. Vamos, não percamos tempo! Temos que libertar nossos amigos.

Quando estavam para abrir a primeira cela, um dos guardas acordou e esbravejou:

- Prisioneiros sendo soltos!

Todos os outros guardas acordaram e o príncipe e seu amigo tiveram que sair correndo, com toda milícia atrás de si. Foram entrando em salas e mais salas de tortura até que ficaram encurralados em uma que tinha apenas uma janela que dava para o mar. Não tiveram opção: Pularam a uma grande altura e se não tivessem protegidos por Apolo, certamente teriam morrido.

A rainha perversa, ao saber da fuga, mandou que atirassem flechas no mar e ordenou que quem desse abrigo aos fugitivos seria castigado de morte.

Ramon e Glauco nadaram com todas as suas forças para o mais longe possível do palácio. Quando já haviam exaurido todas as suas forças, resolveram ir para a praia. O dia já estava nascendo e Glauco viu adiante uma jangada que os pescadores usavam para sua faina. Foram correndo até ela e reuniram suas últimas energia para empurrá-la para a água. Felizmente Netuno, deus do mar, quis ajudar e fez com que os ventos fossem propícios e os levassem para o alto mar. Mesmo com a ajuda de Netuno, os problemas estavam apenas por começar. Ao passar três dias, sem nada comer e sedentos até a alma, os dois jovens já estavam para desmaiar quando viram uma ilha. As águas eram tranqüilas e o vento, brando. Ramon e Glauco se atiraram na água e conseguiram chegar à praia.

- Vamos, Ramon, vamos logo caçar nestas matas, pois pela mansidão das águas, penso que os bichos daqui não sejam muito diferentes...

- Calma, meu amigo. Apesar da fome que nos devora, devemos agradecer a Apolo que nos trouxe até aqui.

Os dois erigiram um altar com pedras e ao terminar as preces se embrenharam na floresta. Não foi muito difícil encontrar alimento, pois os dois eram exímios caçadores.

Foragido de seu próprio país, jurado de morte pela nefasta rainha, e ainda com o peso de uma maldição nas costas, Ramon sonhava com o dia de poder voltar ao seu país e tomar de volta o trono que lhe pertencia por direito. Mas era um estrangeiro em terras onde não conhecia ninguém. Tinha apenas o companheiro de todas as horas, Glauco, e a sua espada. Dormia onde ofereciam hospedagem, e perambulava pelas estradas.

Certa vez viu um grupo de ladrões espancando um pobre velho. Não pensou duas vezes, libertou o ancião, deu uma surra nos gatunos e levou-os preso. O velho, como forma de gratidão pediu que aceitassem seu filho para acompanhá-los. A princípio, Ramon e Glauco não queriam aceitar , mas cederam ante a insistência do moço e do pai. Como este, vários quiseram se unir ao bando do príncipe estrangeiro. Não foram poucos os salvos pelo Valentes das Estradas, e assim foi chamado o grupo de Ramon. Sempre que alguém era roubado, recorria aos Valentes para ter seus pertences recuperados e os assaltantes presos. Ramon era destemido com sua espada. Lutou contra Leões, víboras e até dragões. Sua fama e seus seguidores foram crescendo tanto que sonhava com o dia de voltar para sua terra, à frente de um exército para poder livrar seu povo da tirania e recuperar a coroa.

As donzelas, por sua vez, se enamoravam pelo estrangeiro errante. E este, ao ser perguntado pelo seu nome, um dia respondeu: sou o Cavaleiro Solitário.

De fato, mesmo que fosse acompanhado por um exército colossal, jamais poderia se dar por realizado. Nunca poderia ser feliz no amor pois pairava sobre ele as palavras vaticinadoras de Eldora.

Enquanto isto, todas as tardes, Celina cumpria fielmente sua promessa. Riscava a pedra tirada da Lagoa encantada, mas nenhuma fagulha aparecia.

Chegaram os dias de festa da ilha em homenagem à sua protetora, a deusa Afrodite. Então, os camponeses saíam de suas terras e se juntavam aos citadinos para comemorarem junto ao castelo os festejos à deusa do amor.

A princesa ficou curiosa em saber quem era o Cavaleiro Solitário, de quem ouvira incríveis proezas. “Certamente ele virá”, pensou consigo. De fato o rei mandara um mensageiro ao chefe dos Valentes para que ele e seus companheiros protegessem os viandantes dos perigos das feras e dos assaltantes. Ramon aceitou, sem saber o que Afrodite estava lhe preparando...

A caminho do castelo, enquanto seus companheiros descansavam, Ramon quis conhecer melhor a região. Avistou uma lagoa e sentiu um enorme desejo de se banhar em suas águas cristalinas. Antes, porém, de descer a escarpa do morro onde se encontrava, avistou dois vultos. Curioso para saber quem eram, se escondeu atrás de uma amoreira. Tratavam-se de duas mulheres, e pelo modo delicado com que uma delas entrava na água, deduziu que era uma dama. Suas vestes eram brancas e sob os reflexos do sol poente, insinuavam a perfeição dos contornos de seu corpo. O coração do jovem príncipe ardeu dentro de seu peito e por alguns instantes ele saboreou a experiência de estar apaixonado. Mas logo balançou a cabeça e recordando da maldição que pairava sobre ele, se afastou dali, triste por estar tão solitário.

Neste ínterim, ouvi gritos de socorro. Subiu rapidamente numa árvore e avistou duas mulheres sendo abordadas por ladrões. De um salto, caiu bem perto dos ladrões e antes que eles dessem fé ao que estava acontecendo, conseguiu dominá-los. Quando o Cavaleiro ia amarrá-los à árvore, viu que as mulheres fugiam. “Atitude estranha para quem acaba de ser salvo”. Neste momento uma nuvem de poeira encobriu tudo. Aquilo, na realidade, não era um assalto e sim uma emboscada. Miquéias tinha ligação com algumas quadrilhas que atacavam principalmente na época das festividades, e temiam que o Bando do Cavaleiro Solitário pudesse atrapalhar seus intentos. Miquéias elaborou logo um plano para eliminar o chefe, pois sabia que sem ele o bando se dispersaria. Ramon estava acuado, mas conseguiu se esquivar da rede que fora jogada contra ele. Embrenhou-se mata adentro e conseguiu escapar, escondendo-se dentro de uma gruta. Já estava anoitecendo, de modo que seria muito difícil encontrá-lo. Esperaria no fundo da caverna pelo amanhecer, para só então, unir-se aos seus companheiros. Quando já estava quase dormindo, ouviu passos. Cauteloso como um gato foi se aproximando do intruso. Um risco de luz brilhou naquela escuridão. Com um gesto ligeiro, agarrou o desconhecido e o levou para fora da caverna para ver sob a luz da lua de quem se tratava. Viu então que era uma mulher, linda, como nunca havia visto antes e ,envergonhado, a soltou:

- O que fazes aqui sozinha?

- Eu sou uma simples camponesa que venho oferecer meus préstimos a Afrodite, já que não posso ir ao castelo. Por favor não me faças mal.

- Nada te farei. E vou contigo até onde moras para garantir-lhe segurança, pois nestas paragens não há segurança.

- És, porventura, o Cavaleiro Solitário, que a todos os viajantes protege e às donzelas encanta?

- Sim, sou eu.

O coração da jovem disparou. Afrodite tinha cumprido com sua promessa. No momento exato que a pedra fumegou nas paredes da gruta, fora agarrada pelo seu amado.

- Por acaso não estavas na lagoa junto com uma outra, para molhar os pés? Perguntou o príncipe para livrar-se da primeira má impressão.

- Era eu e minha amiga. Vamos descendo, pois ela me espera.

Celina segura carinhosamente a mão de Ramon. Era como se todo amor daqueles dois corações pudessem ser transmitidos naquele gesto. Ele a fitava, e já não se lembrava da maldição da feiticeira. E ela com um sorriso nos lábios, se sentia nas nuvens, junto àquele por quem muito ansiara encontrar.

De repente, deparam-se com a criada. Mas atrás dela surge um arqueiro sobre um cavalo que atira uma flecha certeira no ombro do príncipe que cai abruptamente ao solo, soltando a mão de Celina. Antes que pudesse se recuperar, homens e mais homens surgiam do mato, das árvores, da estrada, como se a natureza pudesse produzi-los de uma vez só. Ramon tentou se defender do ataque derrubando uns e ferindo outros, mas eles eram tantos que só um exército poderia derrotá-los. Então alguém gritou:

- Princesa, o que fazes aqui?

E ela atordoada, sem saber o que dizer, balbucia algumas palavras:

- Eu, eu,..bem...

O valente príncipe, já totalmente dominado, exclama com furor:

- Então a filha do Rei vem até a mim e me arma uma emboscada! Bem que eu devia ter dado ouvidos à profecia que me persegue. Nas mãos de uma mulher encontrei a desgraça. Após tanto tempo defendendo as pessoas deste país, é isto o que mereço do rei?

- Cala-te! Disse um oficial dando um soco no prisioneiro. Agora irás para o calabouço do palácio.

A princesa queria evitar a captura, mas foi afastada pelos guardas. Surgiu, então, da escuridão, Miquéias que acompanhara em silêncio toda a trama.

- Vejo que a princesa tem uma predileção pelo baderneiro estrangeiro.

- Foi você que planejou tudo.... Eu sabia que meu pai não poderia confiar em alguém tão vil como você. Disse, furiosa, a princesa.

- Suas doces palavras não servirão para nada, princesa. Seu pai está ciente de minha missão. Amanhã será oferecido um sacrifício para Afrodite. Esperaria ofertar algo mais digno...

- O quê?! Vais matar o Cavaleiro? Mas ele nada fez de errado! Pelo contrário ele...

- Eu sei o que ele fez e anda fazendo. É um estrangeiro que insultou Afrodite, matando uma virgem para oferecer a Hades, o deus do reino dos mortos.

- Mas isto é mentira! Gritou a princesa.

- Eu sei, mas é o suficiente para que não só o rei, mas todos os habitantes daqui concordem com a sua morte.

- Como podes ser tão cruel...

- Só há um jeito de evitar este triste fim, minha meiga princesa. Agora os olhos de Miquéias eram como duas serpentes engastadas num cristal. Se casares comigo, posso fazer com que ele seja banido deste país e escape da sentença mortal.

- Com você, jamais, seu crápula!

- Pois bem. Miquéias dá-lhe as costas. Tu serás a culpada pela morte deste miserável.

- Não!.. Implorou a princesa entre lágrimas, mas já era tarde. O ardiloso Conselheiro já havia partido, juntamente com o seu prisioneiro.

A princesa foi trancada numa carruagem e foi levada direto à torre real, onde ficou constantemente vigiada.

Tudo poderia estar perdido se a deusa do amor não estivesse acompanhando. Ela inspirou então a serva que acompanhava a princesa para que fosse avisar aos Cavaleiros das Estradas que seu líder estava preso. Foi o que aconteceu. A aia conseguiu escapar da guarda real e graças a um pirilampo encantado, conseguiu chegar ao acampamento.

Liderados pelo amigo de Ramon, o pequeno exército começou a marcha para o castelo, mas Glauco não sabia como entraria naquelas fortificações. Novamente a intervenção da deusa se fez necessária e ela induziu ao sono os guardiães de Celina. Ao ser avisada por sua serva de que os homens de Ramon estava a caminho para libertá-lo, ela foi ao encontro deste. Em poucas palavras explicou a Glauco seus planos. Ele ficou surpreso com o interesse da princesa em libertar seu amigo. Porém não quis fazer conjecturas. Era preciso agir logo. A princesa entra acompanhada de Glauco, disfarçado de soldado, dizendo que gostaria de ver o prisioneiro. Os guardas não negariam o pedido da filha do rei. E foi assim que aconteceu. Logo que a cela foi aberta, Ramon ficou surpreso com a presença dos dois e antes de dizer qualquer palavra, Glauco sacou da espada e feriu o guarda que ali estava. Correram pelos corredores, e graças às princesa, que conhecia muito bem as passagens secretas daquele castelo, conseguiram fugir e juntar-se aos Valentes. Durante a fuga, a princesa explicou ao Príncipe o que realmente havia acontecido. E como prova que tinha acreditado nas palavras de Celina, Ramon beijo-a ternamente. Em seu coração acreditou que o poder de Afrodite seria mais forte que a bruxaria de Eldora.

Quando Miquéias descobriu que fora ludibriado por Celina, mandou todo o exército ao encalço de Ramon, afirmando que ele teria raptado a princesa.

Os homens de Ramon queriam lutar contra o exército, mas o príncipe sabia que isto era apenas uma empolgação e que eles não teriam chance alguma contra um exército tão numeroso. Tentaram uma fuga, mas a noite ventava muito e correr na areia não era tarefa fácil. Quando o exército do rei já estava bem próximo, Apolo resolveu ajudar aos jovens príncipes. Havia barcos aportados na praia, pois muitos vinham de outras ilhas para os festejos de Afrodite. Seus tripulantes, ao ver a princesa junto daquele exército, acreditaram que estavam sendo perseguido por uma milícia inimiga. Abriram portas, jogaram cordas, de modo a acolher a princesa e todos aqueles que a acompanhavam. Quanto ao exército real, este ficou impedido de dar um único passo, pois a ventania com areia era tão forte, que seus olhos não podia nem sequer abrir.

Assim, Celina e Ramon juntamente com um forte exército chegaram à ilha de Mégara, e, apesar da oposição da rainha impostora, conseguiram descer. Venceram gloriosamente os mercenários que protegiam Eldora. Ramon estava frente a frente com a bruxa. Esta, acuada e desprotegida, pois até seu marido havia fugido, vendo que não tinha mais saída, tomou uma porção que escondia sob o vestido. Foi ficando roxa até que deu seu último suspiro. Ramon tinha conseguido honrado a morte de seu pai.

Quanto a Miquéias, foi triste o seu destino. O rei, logo que ficou sabendo da traição de seu Conselheiro, o prendeu e colocou numa canoa que ficou a deriva por vários dias. Foi parar nas ilhas dos ciclopes, monstros de um olho só, que o fizeram de escravo.

O bem triunfara sobre o mal e o amor entre os dois príncipes foi tão grande, que ao morrerem bem idosos, a Deusa do Amor os transformou em estrelas do céu. Como a faísca de uma pedra foi o sinal de Afrodite para cumprir sua promessa, assim também todo aquele que ver uma faísca no céu, ou seja, uma estrela cadente, poderá fazer seu pedido, na certeza de ser atendido.

E foi assim que terminou a história de Celina e Ramon, os dois jovens príncipes que se apaixonaram com a ajuda de Afrodite.

Danilo Batista
Enviado por Danilo Batista em 06/10/2013
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