O RESGATE AMOROSO

Aconteceu naquele lugar. Um pequeno lugarejo de pouco mais de umas seiscentas pessoas. Lugar situado entre as montanhas de uma cidade bem pequena. Sua economia extremamente agropecuária. Um lugar bastante voltado para as raízes campestres, onde ainda a “internet” ainda não chegou, ou se tenha chegado, somente mais ou menos uns trinta habitantes.

Neste mesmo local, existia um casal de namorados. Muito românticos, apesar de apresentarem uma cultura um pouco diferente uns dos outros. Ele, jovem conquistador, filho de um fazendeiro rico, porém não frequentou escolas, mas somente algumas séries do primeiro grau. Muito mal sabia escrever seu nome, mas um pós-graduado em conquistas amorosas. Ela, por sua vez, filha de um humilde lavrador, mas muito inteligente e esperta. Era professora naquela comunidade. Sabia falar muito bem e até falar mais de um idioma. Era alegre, muito bonita e muito carinhosa.

O amor destes dois jovens era muito grande. Falavam em casamento, mas o que o namorado de nome João sempre saia fora. Sempre que falava em casamento, ele, por sua vez, mostrava-se assustado, perdia o sorriso nos lábios, dizia que a economia estava ruim, que o preço do leite estava muito baixo e que o preço do café estava bem abaixo do esperado.

A moça, por nome de Sílvia, muito jovem, bonita, atraente e delicada, apresentava um forte amor por João, mesmo sabendo ela que João gostava muito de conquistas, principalmente outras mulheres, mas ela sempre o amou e o amou muito. Seu sonho era casar-se com João, porém o destino ainda não os colocava frente a frente.

Com muita paciência, seu pai dizia para sua filha que casamento era coisa muita séria e que João ainda não estava preparado para se adaptar a esta nova realidade.

Certo dia, em uma festa no lugar onde se residiam, por nome de Chapelão, João não quis sair com Silvia e desfilou com outras garotas pelo lugarejo durante todas as festividades. Era um “garanhão”, termo utilizado para designar um sujeito de grande capacidade de conquistar outras mulheres.

Silvia, em seu canto, muito triste sentiu que João não a amava verdadeiramente. O mundo dele era outro, era um novo mundo cheio de baladas na noite, dinheiro, mulheres, farras, bebedeiras e outras coisas. Silvia dizia a seu pai e seu pai muito inteligente, com uma grande filosofia de vida, sabia compreender a filha e dava muitos conselhos e um destes conselhos seria que ela terminasse o namoro com João, sabendo que João não era uma pessoa honesta ao ponto de deixar tudo e ter um vida de casado baseada no verdadeiro amor.

Passaram-se alguns dias. Sílvia foi para a Capital fazer alguns cursos na área de educação. Sabendo que Sílvia fora para Capital, João disse que o amor deles, ou seja, o namoro estava acabado, que não aceitava sua namorada morando em outra cidade.

A propósito, João estava mais feliz da vida de ver Silvia ir embora. Seu caminho estaria livre, muito livre para aprontar ainda mais. Já se falava na cidade que João já havia comprado uma nova camioneta, uma Toyota zerinha.

Sílvia muito triste partiu para a Capital. Fez os cursos, conheceu novas pessoas, fez concurso público e foi aprovada e passou a trabalhar definitivamente na Capital. Tinha um ótimo emprego. Parece que fez Pós-doutorado e passou a trabalhar em uma grande universidade do Governo. Era o seu segundo sonho, porque o primeiro seria o casamento, mas João a rejeitou.

O tempo passou. Sílvia mais bonita a cada dia. João mais conquistador.

Após dez anos, Sílvia veio a Chapelão passar a festa anual. Desta vez não estava sozinha. Estava bem acompanhada de um novo namorado que ela conheceu na Capital. Era o oposto de João. Não gostava de baladas, não era rico, mas possuía o necessário para viver bem. Muito tímido, mas de um caráter digno de um cidadão e uma responsabilidade tão grande, que na sociedade era o homem que muitas mulheres queriam ter.

Sílvia e o novo namorado por nome de Pedro, desfilaram na festa anual de Chapelão. Do outro lado, João viu o amor de Sílvia por Pedro e foi tirar satisfação, mas Pedro, um bom sujeito e muito educado, não quis criar confusão. Ficou na sua enquanto João se espumava de ciúmes de Sílvia.

Terminada a festa, Sílvia e Pedro foram embora. Um mês depois, Sílvia retornou de férias a Chapelão.

Vendo Sílvia novamente, João não se conteve. Procurou, jurou fidelidade, jurou amor, mas Sílvia dizia que o namoro deles não mais existia. Estava tudo acabado.

Na cidade vizinha a Chapelão, João foi procurar ajuda para tentar reconquistar Sílvia. Conversou com uma psicóloga e esta lhe aconselhou para fazer uma surpresa. A psicóloga disse para João fazer uma grande declaração de amor para Sílvia, uma declaração com músicas românticas, com muitas flores que Sílvia voltaria para ele.

Não deu outra. João procurou um produtor musical de nome Rui, apelidado por NANOR, para fazer a homenagem. Queria João uma homenagem perfeita.

Nanor procurou as músicas mais lindas. Procurou um poeta da cidade e este fez vários poemas amorosos. Fez faixas e encomendou um caminhão de rosas na floricultura da cidade.

A psicóloga também sugeriu para João ir até a Capital e contratar um helicóptero para jogar rosas sobre a casa Sílvia.

Chegou o grande dia.

Nanor foi com um caminhão de som, seguido de uma camioneta de flores.

Era mais ou menos duas horas da tarde. O dia estava lindo. Todo azul. Fazia calor, mas soprava um vento ameno para refrescar quem estivesse em Chapelão.

João vestiu-se uma roupa importada, com sapatos novos importados. Seu paradeiro ninguém ficou sabendo.

Nanor chegou com seu som. Lindas músicas eram tocadas. Sílvia, sem saber de nada, ficou surpresa pelos poemas, pelas frases de amor, pelas músicas que Nanor tocava. Em um instante apareceu um helicóptero sobrevoando Chapelão. De dentro dele eram jogadas as mais lindas rosas para Sílvia. Em cada rosa tinha uma mensagem amorosa, que Sílvia jamais tinha recebido de João. Alguns minutos de voo, o helicóptero pousa em Chapelão.

Quando a aeronave pousou, várias pessoas chegavam perto para ver. Nunca tinha visto um helicóptero de perto. Era novidade. Uma novidade tão grande quanto às músicas de declaração de amor para Sílvia. O piloto nem saiu. Ficou com medo.

Como o dia estava muito quente, o piloto do helicóptero saiu um pouco mais cedo. Ele se perdeu da rota de Chapelão. Quando viu que estava perdido, foi tentar pousar a aeronave em um lugar onde possuía poucas casas. Eram pessoas que nunca tinha visto um aparelho voador. Quando este aproximou, alguns correram de medo. Um correu e bateu a cabeça no telhado do forno de cupim. Outro saiu correndo por um brejo e ficou atolado. Outro ficou preso entre um cerca de arame. Outro correu tanto e subiu em uma árvore. Outro entrou no chiqueiro e se misturou com os porcos e assim sucessivamente.

Com a aeronave pousada em Chapelão, Nanor leu uma mensagem de amor feita com muito carinho em que João pedia perdão para Sílvia. Que João a amava muito. Que sua vida não era nada sem a presença de Sílvia. Tão grande era seu amor, que se Sílvia o amasse realmente, ela entraria no helicóptero e João estaria a sua espera na cidade para oficializar seu casamento, a união tão sonhada por Sílvia.

Sílvia ainda não entendendo nada, percebeu alguma coisa estranha na aeronave. Não se pensou duas vezes. A porta do helicóptero se abriu e Sílvia entrou dentro. Nanor teve um grande trabalho para tiras as pessoas do alcance das hélices e por pouco não corta a cabeça de alguns curiosos.

Ouviram-se os roncos dos motores. O vento, misturado com poeira, e o helicóptero partiu para o voo, talvez o voo nupcial.

Chegou a noite e o novo dia. No final do novo dia, chega João em sua camionete. Muito triste. Vestido de roupas importadas e chorando. Não era aquele João, mas uma múmia que acabara de tomar um fora, não sei se fora um fora ou uma lição de moral, mas um não para o resto da vida.

Quando Sílvia percebeu algo de anormal dentro do helicóptero, era reconheceu que o piloto era Pedro. Pedro, além de ser um conceituado professor na universidade em que Sílvia trabalhava, era também piloto de helicóptero nas horas vagas. Fazia viagens para o aeroclube da Capital. O irmão de Pedro, também piloto, contou para ele que faria estava demonstração. Então Pedro pediu para ir e resgatou o seu amor.

Hoje, Pedro e Sílvia, já casados e com filhos, todas as festas anuais de Chapelão vão de helicóptero e as pessoas que correram da aeronave, Pedro deu um passeio com elas.

Em Chapelão, todos o conhecem João por “João do Helicóptero.”

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 28/09/2013
Reeditado em 04/03/2018
Código do texto: T4502247
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