Por onde anda Tommy
Tommy andava sozinho pela cidade. Nos sábados bebia na casa de amigos. Nos domingos perambulava bêbado por ai.
Tommy tinha uma jaqueta velha que usava sempre. Deixava os cabelos grandes e bagunçados. Costumava sentar no fundo do ônibus, botava musica alta pra ouvir nos fones e ficava olhando a cidade passar, enquanto ele matutava naquela janela molhada.
Ele morava sozinho num ap. no centro da cidade. Da janela de seu quarto, a unica coisa q via era uma parede mal rebocada do prédio da frente. Algumas garrafas de trago espalhadas pela casa, e Tommy deitado em meio a bagunça. Bagunça de sua vida, de sua casa, de seu corpo, de sua cabeça.
Um dia, Tommy disse q estava indo embora. Eu respondi: " Não vai, teus amigos vão sentir falta de ti ". Ele me olhou, riu e disse: "Mas é claro que vão! ".
Antes de ir, ele tomou sua ultima dose, ouviu seu disco favorito pela ultima vez, fumou o ultimo cigarro e escreveu um poema. Aliás, Tommy era poeta, assim como era músico, pintor e ator. Nunca fizera sucesso nem ficara rico, mas ele nunca deixou de acreditar que ele era o que queria ser. Ele sempre fez o que quis fazer, mas agora, não tinha mais nada para fazer, ou não tinha mais nada para fazer aqui, por isso fora embora.
Nunca mais o vi, nem soube noticias de Tommy, mas ainda lembro dele, sentado na cadeira da sala, com um copo de trago e um disco dos Beatles na mão, usando sua jaqueta velha, falando com aquela voz rouca, com aquele olhar sonhador. Ele realmente era tudo o que quis. Era poeta, musico, ator e pintor. Eu nunca lhe disse isso, mas no fundo ele sabia, só foi descobrir em outro lugar.