A Roda da Fortuna e o Louco do Tarô (Andanças II)
Introdução
Introdução
O Louco seguia seu caminho predestinado, mas com passos de quem é guiado pelo “Impredestinado”, tal como o navegante que solta o leme de sua embarcação deixando seu curso nas mãos dos ventos marítimos que sopram em suas velas.
Escolhera a loucura, contudo embasado nas palavras do Mestre Hermes:
“É preciso acautelar-se mediante a verdade, julga-la segundo as inteligências; ver que por ela os fracos tornar-se-iam loucos e os maus dela nada absorveria se não apenas pequenas partes que usariam para destruir os dementes e fracos.”
“Guarde então a verdade em teu coração, e que ela fale por tuas obras; e então a ciência será tua força, a fé tua espada e o silêncio a tua preciosa armadura.”
Esta era a loucura que o guiava, e tamanha eram as verdades com que lidava o Louco que não podendo ordena-las jogou-as então para o alto e agora recolhe folha por folha de seus papiros com a fé que o acaso, o “Caos” dará para ele a ordem que ele não possui cabedal para dar.
em suas andanças encontra amigos, aqueles que sorvem de sua sabedoria, outros que sofrem por sua tolice e outros que são guiados pelo som dos guizos presos em sua veste.
Isso me faz lembrar a historia dos dois cavalos, um era cego e o outro não, o Eremita passava por aquelas terras e percebeu que solitária era a vida do cavalinho cego , ele não conseguia seguir o seu amigo que enxergava, muniu então o único companheiro do cego de um badalo em seu pescoço, então assim passou o potro cego a correr pelos campos sendo guiado pelo o som do badalo.
Um dia o cavalo que enxergava caiu em um abismo e o mesmo aconteceu com seu amigo, então eis que surge do nada a mão salvadora de Elohin e guia o cavalo para fora do abismo escuro, o cego também saiu do abismo cuja escuridão ele não podia avaliar, pois escuridão era sua realidade desde o nascimento. Guiados por Elohin encontraram pastos fartos e fontes de água fresca, viveram gozo e liberdade.
Podemos dar a seguinte moral :
O badalo é a verdade carregada por aqueles que podem ver mas não conhecem os caminhos da liberdade e então saem correndo sem direção atraindo cegos pelos os sons chamativos da verdade, de forma desvairada guiam multidões com filosofias e ensaios da verdade que é portador. Mas ainda sim não conhece a terra que pisa os pés e quando cai em abismo de erro todos que o segue caem junto.
A verdade é um badalo, uma musica de varias partituras, tocada em todos os tempos e em todas as claves, em pianíssimo e em alegretto. Mas se o portador da verdade não permitir-se guiar pela fé e pelo o amor será apenas um metal frio que soa.
"Continue andando Louco...Continue...Eu, O Ermitão, serei tua sombra e a voz que o vento trás aos teus ouvidos, hora serei o cachorro que lambeu as feridas de Lazaro o seguindo, hora serei o peso de tua bagagem, outras vezes a pedra onde senta-se-ar , serei a lua a iluminar os passos durante a noite e o sol guiando-o ao meio dia!"
***
A lua estava alta quando o louco parou e sentou-se em uma pedra para ouvir, o vento falava de forma estranha, parecia apaixonado e quente como os ventos do deserto, o louco percebe que alguém se aproxima, mas prefere permanecer de olhos fechados.
- Boa noite amigo. A noite está especialmente linda hoje, a lua cheia e as estrelas cintilantes, tão soberbas, cintilam suas distantes verdades e nos humilha a sabedoria que julgamos ter.
O louco reconhece a voz, era seu amigo A Roda da Fortuna...Filho do Caos vivendo os altos e baixos de sua ânsia desmedida por poder e conhecimento, riquezas que tornam-se maldição, ou o mal que se faz bem e a motriz que faz esta roda tão bela girar. O louco sorri, e ainda de olho fechado responde o amigo:
-Sim, de fato a noite hoje está bela, e tu como andas em tua jornada pelo o Caos?
Leu as folhas escritas pelo Papa?
A Roda da Fortuna responde empolgado
-Haaa sim! Eu estou ótimo, e por fim retornei a fonte modeladora de Javé!
Irônico o Louco sorri e abre os olhos, olha o amigo e diz...
- Que lindo, estais se afeiçoando ao “Caos” que já lhe chama por um de seus tantos nomes...
As palavras do Papa sobre as novas revelações são belas na mesma medida que cruéis...Mas fico feliz por ti, pois quando nominamos algo é porque estamos dispostos a ter um relacionamento intimo. Parabéns!
-De fato, são as palavras do Papa esclarecedoras. Mas ainda não entendo o Fato do “Caos” ter vindo para cá a fim de guerrear...
De forma descuidada o Louco balança suas pernas e olha o céu...
- Sim. Mas existem pontos que não concordo, embora ainda tenha muito que se revelar ao Sacerdote. O “Caos” ou Elohin, como gosto de chamar, foi condicionado à violência pelas divindades menores que criou, assim diz minha verdade. Mas não se esqueça afortunado amigo, as verdades que de fora são gritadas devem apenas ser base de reflexão para as verdades internas de cada um, no grande quadro da criação, existem muitos receptáculos do fogo abrasador da boca de Elohin e cada um recebe este fogo e oferta para outros de uma forma, somos todos peças do quebra-cabeças de uma única verdade.
Pensativo a Roda da fortuna deixa de olhar o céu, ponto de fuga da visão de ambos. O louco continua...
-Eu, por exemplo, me sirvo de todas as verdades que me chegam e assim posso melhorar as minhas verdades internas, voltando à Elohin, não entro em suas questões quânticas, pois para mim são desnecessárias, já que nossos cérebros enlouqueceriam com elas, prefiro por em meus atos a minha verdade interna e sem ferir a verdade do alheio assim caminho.
Jevá, Elohin, Caos, como queiram chamar, aqui em nossa realidade, na realidade de suas divindades menores vive aprisionado nos atos tresloucados destas divindades. Ou seja, somos o Criador vivendo sua criação, somos centelhas dispersas de seu glorioso corpo. Somos Ele e por isso ele é controverso. Ouvi certa vez uma frase que dizia: O homem aprendeu com Deus a Criar e foi com os homens que Deus aprendeu a amar.
A Roda da fortuna respira fundo e com ares superiores faz sua galonada observação:
- É...Faz sentindo...Quanto aos condicionamentos, tive meu tempo de observá-los, mas não tenho condições de ver tudo, mas me soltei o máximo para buscar meu caminho...
Agora quem tira os olhos do céu é o Louco e ainda sorrindo diz:
-Enquanto formos homens aqui nesta Terra estaremos condicionando Elohin.
Acho engraçado quando falas assim...Então ai está um condicionamento à Elohin; somos seres projetados para um ato, e este ato determina nossa evolução, este ato é: ESCOLHER. Por isso vivemos em uma realidade de opções, contudo Elohin está em nós e nós em Elohin, refletimos nele nosso reflexo e Ele reflete de volta e assim Ele será o que tu determinar que Ele seja. Sei que a centelha do Criador se revira e se revolta em ti, mas é assim que é; nem eu, nem tu...Ninguém tem o necessário para ver a verdade. O feio não seria feio se o belo não existisse e vice e versa, sem o mal o bem não faria sentido...Enfim existe muito mais a se escolher, mas mesmo projetados para tomar decisões ainda somos limitados por nosso campo de visão medíocre.
O amigo do Louco sem ter como argumentar solta uma gargalhada e diz:
-Pois é...Embora acredite que não tenhas tu chegado a intensidade correta, somos de fato cegos!
O Louco acompanha o amigo na gargalhada e depois de um grande silêncio responde:
-Mais uma vez vejo que o Eremita tem razão quando diz que enquanto houver uma verdade contestando outra verdade todos estão lidando com mentiras.
Somos todos nós crianças de um Orfanato, mas enquanto tu não me vê como alguém que não atingiu a intensidade correta, eu te vejo como uma criança ficando na ponta dos pés e esticando a mão para tentar abrir a porta mais alta da dispensa onde um cuidador escondeu o achocolatado.
Eu sou criança, e se fosse correr o risco, usaria uma cadeira, mas prefiro esperar a hora do lanche enquanto brinco com o que está ao alcance de minhas mãos, os cuidadores não são irresponsáveis, se podemos alcançar é porque podemos pegar, mas mesmo assim uso de minha visão periférica para ver tudo o que está acontecendo ao meu redor, mesmo sendo a visão periférica turva e defeituosa.
Acho bela tuas colocações e teu modo de ser e agir, pois são nas crianças que se julgam adultas que mais Elohin se mostra, são em personalidades como a tua que Ele se mostra em toda a sua soberania, gloria e imperialismo.
Mas a criança tem de brincar com coisas de criança e com inteligência observar os adultos, esta também é outra face de Elohin, a astucia da serpente.
Com ares sonhador a Roda da Fortuna responde:
-Reféns de Javé e Javé reféns de nós mesmos...Interessante...
-Verdade meu afortunado amigo, pois então, ai está a minha visão e que é respaldada pelo o que me contou Paulo de Tarso, aliás, contou não, me ensinou, pois quem conta coisas é fofoqueiro e quem elucida é professor!
Os dois permitiram-se voltar para as gargalhadas, depois silenciaram e voltaram novamente a olhar o céu e seus luminares da noite. Depois de um mágico silêncio a Roda da fortuna sabiamente observa.
- Caro amigo Louco, Os filhos de javé não abrirão mão deste universo, alguém de fora dele deve ajudar e intervir ou então há de complicar...
Os olhos do louco tornam-se marejados e mais então reflete o brilho de prata lunar.
- Meu amigo afortunado... Se não desistirem Elohin explode juntamente com tudo que criou, simples assim, pois tudo é transitório, a eternidade é transitória, ás vezes penso que além singularidade, fora das paredes desta prisão cósmica,” lá” onde mora o verdadeiro Pai de amor isso já aconteceu e somos apenas um vibrar na corda do tempo que há de enfraquecer e acabar juntamente com a corda. Deuses vivem explodindo, assim como estrelas morrem e nascem; assim como a carne tem o seu tempo determinado para existir, acredito que os deuses também. Não há eternidade, pois o tempo também é uma prisão.
-Louco, considerando que o tempo de Vida do “Caos” seja eterno diria que minha surpresa maior é ver que pela segunda vez tentam dar uma forma moduladora para mim, isso revela que há muito mais no eterno que possamos imaginar, a principio eu não sei, mas sinto que vai além do que posso imaginar.
O Louco ergue uma sobrancelha tira os olhos da lua e olha para seu amigo que pensativo agora mexia a terra com um graveto.
-Amigo afortunado...Somos maleáveis embora não percebamos, ninguém cria formas para nós, somos nós que tomamos e moldamos formas e isso serve ao “Caos”. Acredite meu caro, nunca há de me ver concordando, pois eu sou o "não" nesta divisão que possibilita escolhas, eu sou a esquerda, assim fui programado no útero do “Caos”. E nasci com o quinhão para discordar até dEle. Sempre um argumento e uma contra palavra
- hahahahaha- Interessante e bom isso!
O Louco continua...
- Acreditar na eternidade do que chamas tu de "Caos" e eu de Elohin, é o mesmo acreditar inocente que temos de que somos eternos. Estranho seres somos nós humanos!
Quando vivos ignoramos o fator morte mesmo sabendo que este fator é determinado e imprevisível, o tempo passa e comemoramos este tempo que escapa de nossos dedos quando encarnado estamos; o que os espiritas de nossa época de ouro chamam de consciência eterna do espirito, eu chamo de prepotência.
-Ah Louco, eu vou discordar agora, eu não chamaria de prepotência, chamaria de Sonho!
Mas, ainda estou pensando no predito fim do universo, veja... Utilizando a formula moduladora caótica e unindo a consciência com o "Caos", de alguma forma o fim poderia ser evitado, se poderia cortar essa ligação com a ajuda de um ser de fora deste universo, assim como disse anteriormente.
Enfim... O que acha dessa possibilidade?
- Afortunado amigo, este ser já está aqui dentro deste universo denso, e claro que há esta possibilidade, ao menos eu acredito que haja. E em minha tola prepotência em dar ares de certeza para minhas verdades eu digo que: Se tudo ainda existe é pela majestade deste "Ser" que aqui está conosco, “Ser” que se submete aos caprichos do Filho, que amorosamente e desapegado da gloria, Ele chama de Pai...Jesus Cristo!
O homem tem a estranha mania de abandonar as coisas antigas pelas novas que foram criadas e erigidas das coisas antigas que são descartadas como desnecessárias. Mas estudar não faz mal à ninguém. Se a religiosidade fosse abandonada tudo seria mais fácil, pois tudo é descartado, menos a religiosidade que impede as pessoas de estudarem o Grande Livro dos Hebreus e outros, até conhecer a língua deste povo ajudaria bastante. Se os olhos de ciência se deitassem de verdade sobre tais paginas saberíamos que a rebelião de Lúcifer não foi a única, talvez chegasse perto do porquê somos considerados importantes para a integração e liberdade do Criador, Senhor Javé!
Pode imaginar um garimpo de ouro, já viu um?
A Roda da Fortuna solicito responde:
-Não, mas posso imaginar sim!
O louco cruza as mãos sobre as pernas que agora estavam paradas... E sua mente vai até o momento que encontrou Lilith e com ela discorreu valorosa conversa.
-Muito bem, então imaginemos...
Cavam-se metros e metros, reviram terra e cascalho, depois tudo é lavado e peneirado, o que é mais pesado fica no fundo, o resto é jogado fora, o ouro é mais pesado, então o que sobra de toneladas de pedra são miseras gramas no fundo de uma peneira. Acredita que de fato são miseras gramas que existem em toneladas de pedra, cascalho e terra?
Claro que não!
O ouro do mundo é infinito?
Claro que não!
Amigo, o que fazemos é revirar terras descartadas, minas abandonadas por homens que se encantaram por miseras gramas e deixaram fortunas para trás em cascalhos considerados lixo.
É isso que acontece com o Arquiteto deste universo.
Todos que julgam estar trazendo novas ideias e revelações apenas reviram minas que foram abandonadas, garimpos onde outros julgaram não haver mais o que retirar. Devemos sim ver com respeito estas terras que ignoramos, nela há ouro, os ensinamentos passados e julgados obtusos e em desuso devem ser estudados, isso pode contradizer a minha ideia sobre as doutrinas, mas nada tem a ver com doutrinas, pois a doutrina é uma peneira de buracos largos que permite que muito ouro vá para o descarte junto com o cascalho, é outros metais que se misturam ao ouro fazendo-o tornar-se menos valioso, mas ainda sim valioso o bastante para ornar dedos de noivas pobres e ricas. Compreende?
É poético, mas o que é o senhor Elohin?
Ele é um grandioso poema de poesia misteriosa e que não somos capazes de compreender, mas ainda sim nos inspira a grandes feitos, seja de qual for a ordem!
Um dia este ouro que está na terra vai acabar, e então o que faremos?
O amigo do louco um tanto confuso diz:
- Estranho esta parte de roubar...Estamos contaminando o DNA dele com lixo?
O Louco se surpreende com a palavra “Roubar” seu amigo percebe isso e diz:
- não falaste sobre o que faríamos quando o ouro viesse a acabar?
O Louco ainda pensava em sua inocência, pois nunca pensara em roubo, em sair saqueando na falta de ouro nas minas, mas ele estava diante A Roda da Fortuna, ainda conturbado perguntou:
- Quando o ouro acabar irás sair roubando ouro?
A Roda da fortuna ignora a pergunta, pois parecia assustado com a questão do transitoriedade do Caos que julgava eterno e de seu universo em expansão:
-Me responda, existe uma forma de se evitar o fim deste universo?
Desta vez quem teve a pergunta ignorada foi A Roda da Fortuna, o louco resolve responder a própria pergunta que fizera:
-Quando o ouro acabar, não sabemos o que há de se fazer, pois somos imprevisíveis –E como somos!- De repente valorizaremos o ouro já achado ficando com o que temos e olhando com usura o que outros têm. De repente o ouro perderá seu valor ao invés de ser avaliado por sua extinção nos garimpos. Ou quem sabe erga-se do monturo da consciência humana o alquimista que mediante a necessidade de se ter ouro irá finalmente encontrar a formula da pedra filosofal e não só fabricar o ouro, mas...Ter o elixir da longa vida que trará a eternidade do que é transitório.
Não podemos saber...Não agora enquanto estamos em movimento veloz, não enquanto formos consciência em expansão. Não há como saber, talvez no dia que houver a Inércia por conta do Arquiteto ter rompido a limiar do que ele mesmo criou. Quem sabe a falta De Elohin nos fará desapegar do que ele criou e então correremos para Ele, pois sem Ele nada somos e vice e versa; essa é a inércia de que falo, o dia que ele parar e esperar por nós mais adiante, onde não há tempo e nem espaço, depois da barreira zero da expansão...Por hora não podemos imaginar, pois Ele corre veloz no nada juntamente com o tudo que dEle se desprendeu...Deveras fascinante não acha?
O Louco voltava ao seu estado peculiar, onde se torna refratário e adormece seus sentimentos, observa que seu amigo deseja também revestir-se de suas proteções e tornar-se insondável, então permite que assim ele o faça e não mais atravessa a armadura do amigo com seus olhos astutos.
- Sim, meu amigo Louco!
Eu vejo muitos movimentos de evolução e acho isso belo...Vou lançar um desafio ao cosmo, para que Ele acredite em nossa capacidade de evolução. Um desafio, uma proposta visando um amanhã melhor.
O louco projeta-se para frente e desce da pedra, sentiu-se um tanto tolo, sentado nela parecia um tanto mais inteligente.
- Movimento é vida caro amigo afortunado. Somos nobres, nós homens somos deveras nobres! Precisamos reconhecer isso, acreditar no amor do Criador, no fim tudo termina nas águas calmas do amor de Cristo, tudo perde o sentindo mediante este Amor, talvez galgar os degraus deste sentir seja o melhor caminho para se salvar esta criação cuja engrenagem defeituosa gira mortalmente, a roda quebrada deste carro que não para de seguir para um destino insondável, talvez o amor concerte esta roda sem ser preciso que o carro pare, até lá meu amigo resta seguirmos o que nos diz as entranhas de nossas almas e ter fé que o vento sempre sopra no curso certo. – O Louco coloca sua trouxa nas costas e sorrindo se despede- Até logo amigo, nos vemos em breve.
Segue o louco pelo caminho em passos lentos, seu amigo o vê se distanciar por um momento até que grita:
-Até logo amigo Louco!
O louco sorri e para por um instante, olha para trás e grita também:
- Mais uma dica. Não se esqueça de que Deus é Brasileiro!
Ambos gargalham por um tempo para logo depois seguirem cada qual para seu destino e verdades!
Escolhera a loucura, contudo embasado nas palavras do Mestre Hermes:
“É preciso acautelar-se mediante a verdade, julga-la segundo as inteligências; ver que por ela os fracos tornar-se-iam loucos e os maus dela nada absorveria se não apenas pequenas partes que usariam para destruir os dementes e fracos.”
“Guarde então a verdade em teu coração, e que ela fale por tuas obras; e então a ciência será tua força, a fé tua espada e o silêncio a tua preciosa armadura.”
Esta era a loucura que o guiava, e tamanha eram as verdades com que lidava o Louco que não podendo ordena-las jogou-as então para o alto e agora recolhe folha por folha de seus papiros com a fé que o acaso, o “Caos” dará para ele a ordem que ele não possui cabedal para dar.
em suas andanças encontra amigos, aqueles que sorvem de sua sabedoria, outros que sofrem por sua tolice e outros que são guiados pelo som dos guizos presos em sua veste.
Isso me faz lembrar a historia dos dois cavalos, um era cego e o outro não, o Eremita passava por aquelas terras e percebeu que solitária era a vida do cavalinho cego , ele não conseguia seguir o seu amigo que enxergava, muniu então o único companheiro do cego de um badalo em seu pescoço, então assim passou o potro cego a correr pelos campos sendo guiado pelo o som do badalo.
Um dia o cavalo que enxergava caiu em um abismo e o mesmo aconteceu com seu amigo, então eis que surge do nada a mão salvadora de Elohin e guia o cavalo para fora do abismo escuro, o cego também saiu do abismo cuja escuridão ele não podia avaliar, pois escuridão era sua realidade desde o nascimento. Guiados por Elohin encontraram pastos fartos e fontes de água fresca, viveram gozo e liberdade.
Podemos dar a seguinte moral :
O badalo é a verdade carregada por aqueles que podem ver mas não conhecem os caminhos da liberdade e então saem correndo sem direção atraindo cegos pelos os sons chamativos da verdade, de forma desvairada guiam multidões com filosofias e ensaios da verdade que é portador. Mas ainda sim não conhece a terra que pisa os pés e quando cai em abismo de erro todos que o segue caem junto.
A verdade é um badalo, uma musica de varias partituras, tocada em todos os tempos e em todas as claves, em pianíssimo e em alegretto. Mas se o portador da verdade não permitir-se guiar pela fé e pelo o amor será apenas um metal frio que soa.
"Continue andando Louco...Continue...Eu, O Ermitão, serei tua sombra e a voz que o vento trás aos teus ouvidos, hora serei o cachorro que lambeu as feridas de Lazaro o seguindo, hora serei o peso de tua bagagem, outras vezes a pedra onde senta-se-ar , serei a lua a iluminar os passos durante a noite e o sol guiando-o ao meio dia!"
***
A lua estava alta quando o louco parou e sentou-se em uma pedra para ouvir, o vento falava de forma estranha, parecia apaixonado e quente como os ventos do deserto, o louco percebe que alguém se aproxima, mas prefere permanecer de olhos fechados.
- Boa noite amigo. A noite está especialmente linda hoje, a lua cheia e as estrelas cintilantes, tão soberbas, cintilam suas distantes verdades e nos humilha a sabedoria que julgamos ter.
O louco reconhece a voz, era seu amigo A Roda da Fortuna...Filho do Caos vivendo os altos e baixos de sua ânsia desmedida por poder e conhecimento, riquezas que tornam-se maldição, ou o mal que se faz bem e a motriz que faz esta roda tão bela girar. O louco sorri, e ainda de olho fechado responde o amigo:
-Sim, de fato a noite hoje está bela, e tu como andas em tua jornada pelo o Caos?
Leu as folhas escritas pelo Papa?
A Roda da Fortuna responde empolgado
-Haaa sim! Eu estou ótimo, e por fim retornei a fonte modeladora de Javé!
Irônico o Louco sorri e abre os olhos, olha o amigo e diz...
- Que lindo, estais se afeiçoando ao “Caos” que já lhe chama por um de seus tantos nomes...
As palavras do Papa sobre as novas revelações são belas na mesma medida que cruéis...Mas fico feliz por ti, pois quando nominamos algo é porque estamos dispostos a ter um relacionamento intimo. Parabéns!
-De fato, são as palavras do Papa esclarecedoras. Mas ainda não entendo o Fato do “Caos” ter vindo para cá a fim de guerrear...
De forma descuidada o Louco balança suas pernas e olha o céu...
- Sim. Mas existem pontos que não concordo, embora ainda tenha muito que se revelar ao Sacerdote. O “Caos” ou Elohin, como gosto de chamar, foi condicionado à violência pelas divindades menores que criou, assim diz minha verdade. Mas não se esqueça afortunado amigo, as verdades que de fora são gritadas devem apenas ser base de reflexão para as verdades internas de cada um, no grande quadro da criação, existem muitos receptáculos do fogo abrasador da boca de Elohin e cada um recebe este fogo e oferta para outros de uma forma, somos todos peças do quebra-cabeças de uma única verdade.
Pensativo a Roda da fortuna deixa de olhar o céu, ponto de fuga da visão de ambos. O louco continua...
-Eu, por exemplo, me sirvo de todas as verdades que me chegam e assim posso melhorar as minhas verdades internas, voltando à Elohin, não entro em suas questões quânticas, pois para mim são desnecessárias, já que nossos cérebros enlouqueceriam com elas, prefiro por em meus atos a minha verdade interna e sem ferir a verdade do alheio assim caminho.
Jevá, Elohin, Caos, como queiram chamar, aqui em nossa realidade, na realidade de suas divindades menores vive aprisionado nos atos tresloucados destas divindades. Ou seja, somos o Criador vivendo sua criação, somos centelhas dispersas de seu glorioso corpo. Somos Ele e por isso ele é controverso. Ouvi certa vez uma frase que dizia: O homem aprendeu com Deus a Criar e foi com os homens que Deus aprendeu a amar.
A Roda da fortuna respira fundo e com ares superiores faz sua galonada observação:
- É...Faz sentindo...Quanto aos condicionamentos, tive meu tempo de observá-los, mas não tenho condições de ver tudo, mas me soltei o máximo para buscar meu caminho...
Agora quem tira os olhos do céu é o Louco e ainda sorrindo diz:
-Enquanto formos homens aqui nesta Terra estaremos condicionando Elohin.
Acho engraçado quando falas assim...Então ai está um condicionamento à Elohin; somos seres projetados para um ato, e este ato determina nossa evolução, este ato é: ESCOLHER. Por isso vivemos em uma realidade de opções, contudo Elohin está em nós e nós em Elohin, refletimos nele nosso reflexo e Ele reflete de volta e assim Ele será o que tu determinar que Ele seja. Sei que a centelha do Criador se revira e se revolta em ti, mas é assim que é; nem eu, nem tu...Ninguém tem o necessário para ver a verdade. O feio não seria feio se o belo não existisse e vice e versa, sem o mal o bem não faria sentido...Enfim existe muito mais a se escolher, mas mesmo projetados para tomar decisões ainda somos limitados por nosso campo de visão medíocre.
O amigo do Louco sem ter como argumentar solta uma gargalhada e diz:
-Pois é...Embora acredite que não tenhas tu chegado a intensidade correta, somos de fato cegos!
O Louco acompanha o amigo na gargalhada e depois de um grande silêncio responde:
-Mais uma vez vejo que o Eremita tem razão quando diz que enquanto houver uma verdade contestando outra verdade todos estão lidando com mentiras.
Somos todos nós crianças de um Orfanato, mas enquanto tu não me vê como alguém que não atingiu a intensidade correta, eu te vejo como uma criança ficando na ponta dos pés e esticando a mão para tentar abrir a porta mais alta da dispensa onde um cuidador escondeu o achocolatado.
Eu sou criança, e se fosse correr o risco, usaria uma cadeira, mas prefiro esperar a hora do lanche enquanto brinco com o que está ao alcance de minhas mãos, os cuidadores não são irresponsáveis, se podemos alcançar é porque podemos pegar, mas mesmo assim uso de minha visão periférica para ver tudo o que está acontecendo ao meu redor, mesmo sendo a visão periférica turva e defeituosa.
Acho bela tuas colocações e teu modo de ser e agir, pois são nas crianças que se julgam adultas que mais Elohin se mostra, são em personalidades como a tua que Ele se mostra em toda a sua soberania, gloria e imperialismo.
Mas a criança tem de brincar com coisas de criança e com inteligência observar os adultos, esta também é outra face de Elohin, a astucia da serpente.
Com ares sonhador a Roda da Fortuna responde:
-Reféns de Javé e Javé reféns de nós mesmos...Interessante...
-Verdade meu afortunado amigo, pois então, ai está a minha visão e que é respaldada pelo o que me contou Paulo de Tarso, aliás, contou não, me ensinou, pois quem conta coisas é fofoqueiro e quem elucida é professor!
Os dois permitiram-se voltar para as gargalhadas, depois silenciaram e voltaram novamente a olhar o céu e seus luminares da noite. Depois de um mágico silêncio a Roda da fortuna sabiamente observa.
- Caro amigo Louco, Os filhos de javé não abrirão mão deste universo, alguém de fora dele deve ajudar e intervir ou então há de complicar...
Os olhos do louco tornam-se marejados e mais então reflete o brilho de prata lunar.
- Meu amigo afortunado... Se não desistirem Elohin explode juntamente com tudo que criou, simples assim, pois tudo é transitório, a eternidade é transitória, ás vezes penso que além singularidade, fora das paredes desta prisão cósmica,” lá” onde mora o verdadeiro Pai de amor isso já aconteceu e somos apenas um vibrar na corda do tempo que há de enfraquecer e acabar juntamente com a corda. Deuses vivem explodindo, assim como estrelas morrem e nascem; assim como a carne tem o seu tempo determinado para existir, acredito que os deuses também. Não há eternidade, pois o tempo também é uma prisão.
-Louco, considerando que o tempo de Vida do “Caos” seja eterno diria que minha surpresa maior é ver que pela segunda vez tentam dar uma forma moduladora para mim, isso revela que há muito mais no eterno que possamos imaginar, a principio eu não sei, mas sinto que vai além do que posso imaginar.
O Louco ergue uma sobrancelha tira os olhos da lua e olha para seu amigo que pensativo agora mexia a terra com um graveto.
-Amigo afortunado...Somos maleáveis embora não percebamos, ninguém cria formas para nós, somos nós que tomamos e moldamos formas e isso serve ao “Caos”. Acredite meu caro, nunca há de me ver concordando, pois eu sou o "não" nesta divisão que possibilita escolhas, eu sou a esquerda, assim fui programado no útero do “Caos”. E nasci com o quinhão para discordar até dEle. Sempre um argumento e uma contra palavra
- hahahahaha- Interessante e bom isso!
O Louco continua...
- Acreditar na eternidade do que chamas tu de "Caos" e eu de Elohin, é o mesmo acreditar inocente que temos de que somos eternos. Estranho seres somos nós humanos!
Quando vivos ignoramos o fator morte mesmo sabendo que este fator é determinado e imprevisível, o tempo passa e comemoramos este tempo que escapa de nossos dedos quando encarnado estamos; o que os espiritas de nossa época de ouro chamam de consciência eterna do espirito, eu chamo de prepotência.
-Ah Louco, eu vou discordar agora, eu não chamaria de prepotência, chamaria de Sonho!
Mas, ainda estou pensando no predito fim do universo, veja... Utilizando a formula moduladora caótica e unindo a consciência com o "Caos", de alguma forma o fim poderia ser evitado, se poderia cortar essa ligação com a ajuda de um ser de fora deste universo, assim como disse anteriormente.
Enfim... O que acha dessa possibilidade?
- Afortunado amigo, este ser já está aqui dentro deste universo denso, e claro que há esta possibilidade, ao menos eu acredito que haja. E em minha tola prepotência em dar ares de certeza para minhas verdades eu digo que: Se tudo ainda existe é pela majestade deste "Ser" que aqui está conosco, “Ser” que se submete aos caprichos do Filho, que amorosamente e desapegado da gloria, Ele chama de Pai...Jesus Cristo!
O homem tem a estranha mania de abandonar as coisas antigas pelas novas que foram criadas e erigidas das coisas antigas que são descartadas como desnecessárias. Mas estudar não faz mal à ninguém. Se a religiosidade fosse abandonada tudo seria mais fácil, pois tudo é descartado, menos a religiosidade que impede as pessoas de estudarem o Grande Livro dos Hebreus e outros, até conhecer a língua deste povo ajudaria bastante. Se os olhos de ciência se deitassem de verdade sobre tais paginas saberíamos que a rebelião de Lúcifer não foi a única, talvez chegasse perto do porquê somos considerados importantes para a integração e liberdade do Criador, Senhor Javé!
Pode imaginar um garimpo de ouro, já viu um?
A Roda da Fortuna solicito responde:
-Não, mas posso imaginar sim!
O louco cruza as mãos sobre as pernas que agora estavam paradas... E sua mente vai até o momento que encontrou Lilith e com ela discorreu valorosa conversa.
-Muito bem, então imaginemos...
Cavam-se metros e metros, reviram terra e cascalho, depois tudo é lavado e peneirado, o que é mais pesado fica no fundo, o resto é jogado fora, o ouro é mais pesado, então o que sobra de toneladas de pedra são miseras gramas no fundo de uma peneira. Acredita que de fato são miseras gramas que existem em toneladas de pedra, cascalho e terra?
Claro que não!
O ouro do mundo é infinito?
Claro que não!
Amigo, o que fazemos é revirar terras descartadas, minas abandonadas por homens que se encantaram por miseras gramas e deixaram fortunas para trás em cascalhos considerados lixo.
É isso que acontece com o Arquiteto deste universo.
Todos que julgam estar trazendo novas ideias e revelações apenas reviram minas que foram abandonadas, garimpos onde outros julgaram não haver mais o que retirar. Devemos sim ver com respeito estas terras que ignoramos, nela há ouro, os ensinamentos passados e julgados obtusos e em desuso devem ser estudados, isso pode contradizer a minha ideia sobre as doutrinas, mas nada tem a ver com doutrinas, pois a doutrina é uma peneira de buracos largos que permite que muito ouro vá para o descarte junto com o cascalho, é outros metais que se misturam ao ouro fazendo-o tornar-se menos valioso, mas ainda sim valioso o bastante para ornar dedos de noivas pobres e ricas. Compreende?
É poético, mas o que é o senhor Elohin?
Ele é um grandioso poema de poesia misteriosa e que não somos capazes de compreender, mas ainda sim nos inspira a grandes feitos, seja de qual for a ordem!
Um dia este ouro que está na terra vai acabar, e então o que faremos?
O amigo do louco um tanto confuso diz:
- Estranho esta parte de roubar...Estamos contaminando o DNA dele com lixo?
O Louco se surpreende com a palavra “Roubar” seu amigo percebe isso e diz:
- não falaste sobre o que faríamos quando o ouro viesse a acabar?
O Louco ainda pensava em sua inocência, pois nunca pensara em roubo, em sair saqueando na falta de ouro nas minas, mas ele estava diante A Roda da Fortuna, ainda conturbado perguntou:
- Quando o ouro acabar irás sair roubando ouro?
A Roda da fortuna ignora a pergunta, pois parecia assustado com a questão do transitoriedade do Caos que julgava eterno e de seu universo em expansão:
-Me responda, existe uma forma de se evitar o fim deste universo?
Desta vez quem teve a pergunta ignorada foi A Roda da Fortuna, o louco resolve responder a própria pergunta que fizera:
-Quando o ouro acabar, não sabemos o que há de se fazer, pois somos imprevisíveis –E como somos!- De repente valorizaremos o ouro já achado ficando com o que temos e olhando com usura o que outros têm. De repente o ouro perderá seu valor ao invés de ser avaliado por sua extinção nos garimpos. Ou quem sabe erga-se do monturo da consciência humana o alquimista que mediante a necessidade de se ter ouro irá finalmente encontrar a formula da pedra filosofal e não só fabricar o ouro, mas...Ter o elixir da longa vida que trará a eternidade do que é transitório.
Não podemos saber...Não agora enquanto estamos em movimento veloz, não enquanto formos consciência em expansão. Não há como saber, talvez no dia que houver a Inércia por conta do Arquiteto ter rompido a limiar do que ele mesmo criou. Quem sabe a falta De Elohin nos fará desapegar do que ele criou e então correremos para Ele, pois sem Ele nada somos e vice e versa; essa é a inércia de que falo, o dia que ele parar e esperar por nós mais adiante, onde não há tempo e nem espaço, depois da barreira zero da expansão...Por hora não podemos imaginar, pois Ele corre veloz no nada juntamente com o tudo que dEle se desprendeu...Deveras fascinante não acha?
O Louco voltava ao seu estado peculiar, onde se torna refratário e adormece seus sentimentos, observa que seu amigo deseja também revestir-se de suas proteções e tornar-se insondável, então permite que assim ele o faça e não mais atravessa a armadura do amigo com seus olhos astutos.
- Sim, meu amigo Louco!
Eu vejo muitos movimentos de evolução e acho isso belo...Vou lançar um desafio ao cosmo, para que Ele acredite em nossa capacidade de evolução. Um desafio, uma proposta visando um amanhã melhor.
O louco projeta-se para frente e desce da pedra, sentiu-se um tanto tolo, sentado nela parecia um tanto mais inteligente.
- Movimento é vida caro amigo afortunado. Somos nobres, nós homens somos deveras nobres! Precisamos reconhecer isso, acreditar no amor do Criador, no fim tudo termina nas águas calmas do amor de Cristo, tudo perde o sentindo mediante este Amor, talvez galgar os degraus deste sentir seja o melhor caminho para se salvar esta criação cuja engrenagem defeituosa gira mortalmente, a roda quebrada deste carro que não para de seguir para um destino insondável, talvez o amor concerte esta roda sem ser preciso que o carro pare, até lá meu amigo resta seguirmos o que nos diz as entranhas de nossas almas e ter fé que o vento sempre sopra no curso certo. – O Louco coloca sua trouxa nas costas e sorrindo se despede- Até logo amigo, nos vemos em breve.
Segue o louco pelo caminho em passos lentos, seu amigo o vê se distanciar por um momento até que grita:
-Até logo amigo Louco!
O louco sorri e para por um instante, olha para trás e grita também:
- Mais uma dica. Não se esqueça de que Deus é Brasileiro!
Ambos gargalham por um tempo para logo depois seguirem cada qual para seu destino e verdades!