Não Pertences Aqui
Entrou. Rumou para uma das mesas vazias, arrastou a cadeira e sentou-se. Com o olhar curioso segui os saltos altíssimos, a curva cheia da perna, a coxa a esticar o negro da saia curta. As mãos tamborilavam, com as unhas coloridas, no mármore redondo ou voltavam ao fecho de uma carteira preta, sóbria. Das mãos ao queixo passei pela blusa de popelina bordada e vi a impaciência no arfar dos seios que o decote sustinha. Guardei para o fim a boca bem desenhada, o nariz estreito, os olhos negros e febris. Um cabelo liso e rebelde saía do chapéu de cerimónia. Quem ela esperava estava atrasado a avaliar pela crescente agitação da mulher. Pediu o café e um copo de água mas deixou-os, intocados, ao lado das moedas. Quis saber onde era a Igreja da terra e, depois de olhar mais uma vez o relógio de pulso, saiu apressada. Na rua descalçou os sapatos de salto para correr melhor e só voltou a calçá-los para entrar no templo. – Não, disse ele. Não quero casar com esta mulher. Um oh saiu de todas as gargantas e o padre repetiu a pergunta mas o noivo, tirando a gravata, correu para a porta do templo deixando, perplexos, parentes, convidados e curiosos. – Depois de te ver de novo eu seria louco se aceitasse outra mulher. Perdoas-me? - Claro, vim para te perdoar, respondeu ela e acrescentou: Vamos, tenho o táxi à espera.