Como As Flores do Outono

COMO AS FLORES DO OUTONO

Mesmo estando sentada próxima à janelinha do avião, o olhar perdido de Flávia não percebia as grandes plantações e os arranha céus da capital que deixava para trás. No pequeno percurso que faria de Goiânia à Brasília, seus pensamentos estariam voltados para Getúlio e Nina(Angelina), que agora figuravam em seu rol com o status de “ex”: ex - namorado, ex – amiga

O casal estava prestes a concluir o curso de Agronomia, no entanto, o desfecho, que pelo menos ela esperava para os dois, revelara completamente diferente.

Cinco anos atrás se conheceram quando ela fora cursar faculdade na capital. De bons amigos logo se tornaram namorados. Todos que os conheciam os viam como um casal de sonhadores e apaixonados. Casariam tão logo formassem. Amantes da natureza morariam na fazenda do pai de Flávia próxima a cidade onde ela nascera a leste do estado. Se preparavam para trabalharem na produtividade da lavoura preparando o solo e no combate as pragas e outras coisas mais...Mas o destino escreveria outra história!

A vida perfeita e planejada havia sofrido grande reverso. O homem que lhe jurara “amor eterno” a traíra com sua melhor amiga.

Pensava no comportamento “diferente” do namorado e da amiga nas ultimas vezes que estiveram juntos. Lembrou-se do dia em que reunidos com amigos da faculdade, não percebendo a presença de Getúlio afastou-se para encontra-lo. Encontrou-o abraçado a Nina, parecia consolá-la –Nina tá com uns probleminhas- Disse ao perceber sua presença e apressadamente retirou os braços que estavam enlaçados ao pescoço” da amiga chorosa”. Sensibilizada Flávia olhou-a e percebendo seus olhos úmidos abraçou-a. Depois soubera que o motivo do “sofrimento” seria a culpa de estar traindo a melhor amiga

--Como fora cega e inocente—pensava. Sentia seu estomago revirar. Nesse momento a aeromoça informou que iriam aterrissar. Flávia respirou fundo tentando espantar todos esses pensamentos que a deprimia e a deixava enojada.

Na época em que cursava o segundo grau morou com uma tia na pequena cidade em que nascera. Nos finais de semana e feriados sempre ia para a fazenda com os primos e lá se reunia com Jorge que morava na fazenda vizinha. Nadavam nas aguas mornas do rio ou cavalgavam pela relva. Ela sentia voar montada no lombo do cavalo “Caramelo”, nome que combinava com sua cor caramelada. Jorge que certa vez lhe roubou um beijo tímido, montava o cavalo Baio.

Já no estacionamento do aeroporto ela abraça afetuosamente o pai que a esperava. Pergunta por Mirna(esposa de seu pai depois de longa viuvez). A jovem nutria grande afeição por Mirna, ficara feliz quando o pai anunciou que iriam se casar. Ela perdera a mãe quando nascera por complicação no parto. Não havia nenhuma lembrança a não ser pelos retratos, que mesmo o pai tendo casado , alguns permanecia no móvel da sala com o consentimento da madrasta. Ficara sabendo que Mirna, estava com visitas, explica o pai, que ao ser questionado a dizer quem estaria na fazenda, fizera segredo dizendo que seria uma boa e agradável surpresa. Depois de percorrerem mais de setenta quilômetros pelo asfalto, entraram por uma estrada de terra onde se via grande plantação de eucalipto . Minutos depois a Hilux que os transportava atravessava o portão da fazenda. Alguns metros depois de

Percorrerem a entrada cercada por cipreste estacionaram no pátio da fazenda à sombra de uma centenária gameleira e ao lado estava estacionada uma camionete Strada cor vermelha.

A casa havia recebido pintura nova depois da ultima vez que viera. A cor azul e branco havia sido trocada por um amarelo queimado, portas e janelas recebera uma cor creme que além de reavivar a cor verde do gramado salpicado por pés de coco anão dava a casa um ar mais moderno. Ao adentrar a casa fechou os olhos ao sentir o cheiro reconfortante e familiar. O piso de madeira como sempre muito limpos e os moveis, alguns antigos, estavam devidamente polidos , típico de sua madrasta.

Depois do abraço carinhoso e verdadeiro de Mirna e da querida Idazinha, mulher robusta e baixinha que ajudou seu pai a cria-la desde a morte da mãe, foi cumprimentar as visitas. Realmente a surpresa era boa. Rever Glória e Jorge seu filho era tornar completo seu retorno ,agora definitivo a fazenda. Ali estava seu amigo de infância e de traquinagem. Que um dia fora embora deixando-a infeliz . Seus pais haviam se separado e Glória voltou para São Paulo sua terra natal com o filho. Agora estavam de volta. Não venderam a fazenda.

O menino magricela se tornara um homem –um metro e oitenta, ou mais. Cabelo castanho e espesso, pele queimada de sol, olhos cor de mel—

Ao se tocarem num cumprimento, com certeza os olhos azuis de Flávia, fizera Jorge reviver doces lembranças de uma menina franzina que sempre trazia seus longos cabelos loiros presos em um rabo de galo.

Era meado da estação de outono. Flávia acordou quando um raio de sol adentrou pela grossa janela de madeira que estava entreaberta e as cortinas recolhidas, uma suave brisa da manhã depositou um beijo de “boas vindas” em sua face.

E naquele mês de abril numa manha com um sol cálido, ela calçara suas velhas botas e vestida em um jeans desbotado camiseta branca de malha e um boné na cabeça que pelo furo passava um cabelo loiro preso em rabo de galo, rumou para o estábulo. Cavalgaria com Jorge naquela manhã.

A jovem literalmente vivia a própria estação, deixando as folhas mortas para trás, faria como as tulipas, begônias, camélias, hortênsias( flores do outono), que em vez de murcharem ao perder suas folhagens tornavam suas cores ainda mais exuberantes.

Júnia Marx
Enviado por Júnia Marx em 11/09/2013
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