DIAS E ANOS

Já fazia três anos que ele partira, não sei o porquê, na última vez que nos vimos estávamos tão felizes, brincamos, corremos, sorrimos, me parece que foi mesmo uma despedida, daquelas que não se sabe que é, apenas se sente. Dormi recostada em seu peito, quando acordei, senti apenas o tecido frio e grosso do travesseiro, pensei que fosse trabalhar, estudar, passear, sei lá, só não esperava que nunca mais voltasse. Nos primeiros dias ainda tive esperança de que fosse apenas uma brincadeira, um jogo, mas logo me dei conta de que era sério. A cada ligação com número desconhecido, tinha a esperança de que pudesse ser ele, mas não foi, sentia o meu corpo vibrar junto com o barulho do telefone, e logo murchar como uma flor que perde seu brilho. Às vezes penso que ele está morto, às vezes penso que simplesmente fugiu, não sei o que dói mais, e pensar ambos se torna cada vez mais doloroso. Mas, já são três anos, mil e noventa e cinco dias, tanto tempo, tantas estações. No calor das emoções fizemos juras de amor, no frio da solidão até fingi odiá-lo. Depois de um tempo comecei a me acostumar com a angústia, a solidão, a imprecisão, o silêncio. Hoje, levo-me por essa vida desgraçada, olhando em cada canto, em cada esquina, em cada olhar, o brilho de um sentimento que eu já nem sei se já existe mais.

Ian Lopes
Enviado por Ian Lopes em 29/08/2013
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