Que Surpresa!
24 de julho de 1988
“Vai ser hoje, já me sinto bastante mulher”, naquela manhã quente e especial, a adolescente havia tomado sua decisão.
Sua melhor amiga — aquela com quem realmente compartilhava segredos e intimidades — tinha passado pela experiência há três semanas, e relatara esfuziante ter sido o acontecimento mais maravilhoso da sua vida. Ainda podia visualizar em sua mente a imagem de Alice dizendo: "ai amiga, foi lindo"! E não pôde deixar de sentir uma pontinha de inveja.
Ansiosa, Renata devorava uma barra de chocolate, quando finalmente o telefone tocou:
_ Alô.
— Oi gata, sou eu. Meus parabéns! Diga-me, a que horas vai rolar a festa?
Algo desapontada, a jovem explicou:
— Não vai haver festa nenhuma. Meus pais não estão em casa; saíram de madrugada para visitarem uma tia minha que mora no interior, e que anda muito doente. Deram-me um beijinho na testa e disseram: “temos de ir, minha filha, e além do mais, você já está bem crescidinha para festinhas de aniversário; nós amamos você, tchau”.
— Bem, já que não tem festa, a gente podia passar a tarde inteira no shopping. O que você acha?
— Ei, tô te estranhando. Você nunca gosta de ir ao shopping comigo!
— Ora, mas não é todo dia que a gente comemora dezessete anos, não é mesmo? Vamos lá, vai ser divertido, e você mesma vai escolher o seu presente.
— Vamos então, me apanhe às 2h.
A tarde transcorrera maravilhosa para o casal de namorados. Entre beijos e amassos apaixonados, a moça escolhera um lindo par de sapatos, e depois foram ao cinema. Agora, o dia tinha se esvaído e estavam, naquele inicio de noite, que muito prometia à adolescente, em uma lanchonete.
Depois de saborearem o lanche, Renata começou a falar, exibindo um semblante grave, porém, ao mesmo tempo, cheio de paixão.
— Olhe, André, faz dois anos que estamos namorando e você conquistou o meu amor e a minha confiança. A jovem deu um leve sorriso e, tomando as mãos do rapaz entre as suas, prosseguiu: — Não vou enrolar muito; eu quero que você me faça mulher esta noite, Quero perder minha virgindade.
— Mas que droga!
— O que é isso, seu grosso! — Redarguiu a moça indignada — Eu venho me derretendo de amor, e digo que finalmente vou dar pra você, e essa é a sua reação! Você não me ama, ou já tem outra na cabeça?
— Acalme-se meu amor, não é nada disso. Apenas não fica bem, seus pais estão fora.
— E você queria que eles estivessem em casa para nos verem transando? Puxa, como você é tonto, André!
— Mas...
— Não tem mais nem menos. Se estiver com vergonha de fazermos amor na cama de casal dos meus pais, podemos usar a minha de solteira mesmo. Se eu estivesse fazendo dezoito, iríamos para um motel, mas... Não importa. O importante é o seguinte, André: ou fazemos amor esta noite ou terminamos tudo. Você escolhe.
O moço soltou um prolongado suspiro e paciente e resignado, esclareceu:
— Eu estava sonhando com isso, Renata. Mas justamente esta noite não dá. Prometi aos seus pais que te traria de volta a casa às 8h30.
— Como é que é?
— A viagem dos seus pais foi pura armação, Renata. Na verdade, eles estavam era organizando uma festa surpresa de aniversário para você. Minha missão era te tirar de casa, entretanto, agora estou arrasado.
A adolescente se levantou inesperadamente da mesa e resoluta observou:
— Sendo assim, não vou decepcioná-los. Por favor, André, leve-me à minha festa surpresa.
Tudo correra bem na festa. Renata fingira não saber de nada, todavia, dois dias depois o leal cavalheiro recebeu, por meio de um telefonema quase formal, a notícia mais triste da sua vida.
— Alô, gata, e aí?
— Me desculpe, André, mas tá tudo terminado entre nós. Não quero para marido um cara que só sabe obedecer às ordens dos meus pais.
Coisas do orgulho feminino e de uma personalidade ainda muito imatura.