Sei-te de Cor
Volto lá. Calor e humidade. O suor escorre-me do rosto, as cigarras invadem os dias e as noites e cobrem os troncos e os galhos das acácias. Revejo-te. A memória começa nos pés descalços e segue, demorada, pelas pernas fortes, as coxas grossas, o ventre liso. Quando te abraço sinto frágil o todo, dúctil o peito, macio o rosto, cheios os lábios mas as pálpebras, fechadas, ainda te escondem de mim. Correm-me entre os dedos os teus caracóis claros. Beijo-te e só depois, límpidos, os teus olhos me revelam a alma sem, no entanto, me fazerem esquecer o corpo, o calor e a harmonia, a vontade de ter-te inteira. A noite chega. Voltarás depois do jantar para a despedida e amanhã estarás longe a caminho do futuro. Não voltaste. Nunca mais ninguém me falou de ti. Voltas, apenas, quando a lembrança me leva para lá porque estás, invariavelmente, no primeiro plano do meu passado.