incontrolável

- às vezes eu me sinto como um adolescente. sabe quando você se descobre apaixonado pela sua melhor amiga? seu primeiro amor. você percebe que ela também está a fim de você, mas nenhum dos dois quer admitir. eu passo o dia inteiro em casa ansioso pra te ver, mesmo que seja só por alguns minutos. e quando te vejo o coração dispara, e sinto medo, é algo realmente estranho. sinto medo de ser diferente pra você. medo de você me tratar de forma diferente. medo de você um dia deixar de ser essa pessoa por quem eu perco minhas noites. não de você deixar de ser, assim no sentido real da expressão, mas sei lá, tenho medo de um dia não te ver mais da forma como eu te vejo. é aquela coisa de não querer crescer, sabe? de querer ser um eterno adolescente. ao seu lado.

- eu te entendo. - não havia mais nada a ser dito, ele era tudo o que eu queria. e tudo que ele dizia parecia que saía de mim. era o que eu sentia, era muito meu tudo aquilo que ele vivia.

- pare de me dizer que você entende e me diga o que você sente! - percebi pelo tom com que disse que estava sério, que queria realmente saber o que eu sentia por ele. então o alarme dentro de mim soou novamente e eu me perdi em devaneios. fiquei alguns segundos pensando no que ia dizer e, por fim, consegui.

- eu sinto que isso não vai dar certo. onde nós pretendemos chegar? veja onde nós já chegamos! eu penso muito sobre isso tudo, eu penso muito em você, sobretudo penso nela e no que estamos fazendo. não é correto...

- mas é gostoso. - ele disse, e eu não consegui deixar que uma gargalhada escapasse.

- é sim, mas não é correto. e talvez por isso seja tão gostoso. - eu não estava mentindo, mas algo na forma como eu pronunciei a última palavra sugeriu o contrário.

- discordo de você nesse ponto. me responda a verdade, se não existisse impedimento entre a gente, se os dois estivéssemos na mesma situação, você acha que não sentiria por mim o que sente agora? pra você então só é bom porque é proibido?

- não, eu não disse isso. eu na verdade nunca pensei assim. nunca cheguei a pensar nesse 'se' em especial, porque sei que ele não é possível. eu procuro pensar somente naquilo que é ou pode vir a se tornar real. - eu estava me tornando mestra na arte de mentir.

- pois eu pensei. várias vezes, inclusive. e acho que a gente daria certo juntos, a gente combina em muitos pontos, discorda em outros, mas eu estaria disposto a concordar com você, mesmo discordando, se é que você me entende.

- eu não sei. não por você, mas talvez por mim as coisas pudessem vir a dar errado. sempre dão errado comigo. eu sou o exemplo perfeito do desamor. - disse sorrindo, mas deixando transparecer algo além de uma simples piada - eu estou muito desacreditada nessas coisas sabe, por isso procuro me manter atrás da faixa de segurança, pra evitar acreditar de novo e depois o final ser o mesmo. o final é sempre o mesmo.

- então é isso. no fim você pensa que eu estou nisso só pra me mostrar no futuro como mais um clichê na sua vida que não deu certo. entendi. - disse ele, e eu já não tinha como negar.

- a última coisa que eu quero é que você seja mais um dos meus clichês, porque eu sofreria por este mais que já sofri por qualquer outro, por isso estou tentando manter o nosso último combinado. aquele em que a gente finge que nunca aconteceu nada e que somos somente amigos. acho que a gente devia ao menos tentar mantê-lo.

- tem certeza de que é isso o que você quer? - novamente notei o tom sério em sua voz.

- eu não estou dizendo o que eu quero e sim o que devíamos, o que é mais sensato - disse, e dessa vez ele percebeu a verdade em minha voz.

- "devíamos" e não "devemos". agora eu realmente acreditei em você - disse isso e sorriu, se divertindo ao conseguir o que queria.

- oh, meu Deus, por que você faz isso comigo? - sorri.

- eu não faço nada. eu quero fazer, mas você não deixa. - ele sorriu de volta, eu realmente não deixava, para o nosso bem.

- eu deixo. - provoquei.

- deixa? que dia, então?

- agora! estou te esperando, você vem?

- você só fala isso porque sabe que eu não posso ir agora. se bem que eu poderia inventar a desculpa de que estou passando mal aqui e dar um jeito.

- pare com isso, eu estou brincando! - disse sabendo que era impossível, mas algo em mim desejou e muito que isso pudesse vir a acontecer.

- você nunca cumpre com o que propõe, está vendo? - disse ele.

- é. admito. não sou uma mulher de palavra.

- mas é a mulher dona de um beijo que me faz perder o juízo. - ele me ganhou.

desta vez apenas sorri, eu não sabia mais o que dizer. ele era definitivamente quem eu queria. eu estava sim apaixonada. muito apaixonada. de uma forma que eu nunca estive antes. enquanto conversávamos era como se eu fosse teleportada para um outro universo, um mundo completamente diferente, não existia guerra, não existia dor, o que prevalecia era o desejo. desejo de estar perto, de abraçar, de sentir seu corpo, de poder toca-lo sem pudor. desejo de viver com ele tudo que eu jamais vivi com outro alguém.

- deixa eu te fazer um pedido! por favor, é a única coisa que eu te peço. - disse ele após meu longo silêncio.

- pode fazer, fala, o que você quer?

- fica comigo! por favor! você me deixa de uma forma que eu nem sei descrever. eu nunca senti isso por ninguém. por favor, fica comigo! uma vez. eu juro que não te peço mais nada. por favor!

- ah, para com isso, vai! - sorri, sem graça diante de tudo que consegui imaginar em tao pouco tempo depois daquelas palavras.

- é sério. por favor!

- não!

- sim!

- não, é sério! estou sorrindo, mas estou falando sério, eu juro! - disse em meio às gargalhadas que saiam involuntariamente. eu sorria constantemente enquanto conversava com ele. eu me sentia verdadeiramente à vontade.

- sim!?

- nãaaaao! - eu não conseguia me controlar, as gargalhadas saíam espontaneamente.

- vou na sua casa amanhã de manhã. - insistiu ele.

- não! pare com isso!

- vou sim. te ligo quando tiver saindo daqui.

- não, sério! pare!

- vou. beijão, meu bem! tchau, até amanhã!

- beijão! até!

- até! - ele sorriu divertido.

- NÃO! - disse eu sorrindo ao perceber o que havia dito. ele sempre vencia. sempre!

- beijão, minha linda!

- beijão, meu lindo!

e eu teria, então, mais uma noite sem dormir, em devaneios. estava me acostumando àquilo tudo. à sua voz, ao seu sorriso, às nossas brincadeiras. eu queria evitar, mas era impossível, definitivamente estava fora de controle. era algo com que já não conseguíamos lidar. o jeito era deixar fluir.

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