O CARPINTEIRO SOLITÁRIO

Morro da mesa se destacava em um canto das Minas Gerais.Situada mais para o sentido norte do estado.Deu-se origem a este nome,motivados por um elevação de terra em formato achatado que se equiparava a uma mesa.Bem no sopé deste morro da mesa,vivia Sr. José.Homem de pouca prosa,mas que com o seu formão em mãos,o mesmo falava por ele,dando formas milimétricas a cochos,porteiras,currais,e a tudo que se referissem à marcenarias.Vivia um tanto quanto solitário,tendo como companheira,a sua viola encantada,feita das próprias mãos,e de suas ferramentas,que em seus traçados forjavam formas arrojadas de peças inigualáveis,de onde lhe veio o nome,por toda a região,de o mestre do formão.

Habitava uma casinha modesta,onde a maior riqueza,era o seu ilustre morador com as suas obras primas.

José,foi invocado a comparecer em uma fazenda próxima ao seu lugarejo,para a confecção de uma porteira,da qual a proprietária Dona Josefina,era uma mulher enérgica e rigorosa.Questões estas,advindas dos padrões morais e tradicionais de seus antepassados.

Mulher com a sua viuvez caracterizada há quatro anos.Flagelava ainda os seus pensamentos,a falta de seu consorte.Alem de sua fazenda,herdou ainda,mais alguns alqueires de terras bem abaixo do Capão da Onça.Sobrevivia economicamente das negociatas de seu leite,e de seus notáveis queijos mineiro,e algumas permutas ou vendas de algumas cabeças de seu gado.

Sr.José,chegou pela manhã a fazenda de Dona Josefina.Apos algumas trocas de palavras,ficara acordadas e apalavradas os valores de seu labor,e de sua estadia em uma casinha pegada a sede principal da fazenda e porquanto os seus trabalhos assim fossem terminados.

Sr.José,como sempre,a qualquer canto que fosse,levava a sua velha viola companheira a tira-colo.Entre uma tarde e outra,ao terminar o seu trabalho,José, sentava em um tamborete,sobre a varanda da fazenda,tirando do fundo de sua alma as emoções traduzidas nos acordes melodiosos de sua viola.A princípio,Dona Josefina,ouvia la de sua cozinha.As vezes,lavando os talheres do jantar,em outras cosendo uma roupa velha e rasgada para o seu proveito,mas não deixando de ouvir os acordes melodiosas da viola que lhe penetrava pela alma,trazendo de volta,as saudades daquele ente que esteve tão presente em toda a sua vida e que partiu tão cedo,segundo as próprias palavras de Josefina.

Sr José,por sua vez,continuava o seu entalhar naquilo que lhe foi proposto a fazer,que seria a porteira.Pedaços de lascas voavam com as batidas de seu formão,ferindo a madeira virgem,que teria mais tarde a sua transformação em uma bela e bem acabada porteira.Já se passara cinco dias de sua estadia naquela fazenda.As aproximações já não pareciam mais tão distantes e frias.Já expunham as sua histórias um ao outro.José,por sua vez,narrava a sua história de como havia perdido a sua amada esposa,Maria das Dores.Josefina,ainda chorosa,retrucava:-Geraldo era tão bom,prestativo,e igual a ele jamais haverá outro.

Nas tardes,quando o sol se punha no horizonte,ecoavam ao longe os acordes da velha viola chorosa de José,que já não cantava tão somente só.Dona Josefina,já se sentava ao seu lado,as vezes ate arriscando um dueto meio que desafinado com José.Os dois,agora,ouviam e bebericavam de suas vozes cheias de emoções.José,já visualizava que o seu coração partido,começava a se abrir para novas perspectivas.Começou a fazer com que o seu trabalho se desenvolvessem a toques de caixa.Lento,quase parando.Sentiu uma necessidade de permanecer mais longamente naquela aplausível fazenda.Logo depois de uma semana,José teve que se ausentar por três dias,para buscar umas ferramentas em sua casa.Dona Josefina quando da partida de José,não conseguiu disfarçar a sua carência de sua presença.Quando de sua volta,não conseguiu fingir o alegramento de sua chegada.José,sentiu esta receptividades de Josefina,o qual compactuava das mesmas emoções.

Em uma tarde chuvosa,José não pode executar as suas sinfonias na pequena varanda,mas os fez dentro da cozinha de Josefina,enquanto a própria terminava de enxugar a sua louça do jantar.Terminada,aproximou-se de José,tocou-lhe de leve os seus joelhos com as suas mãos.José,parou a sua execução,olhou no fundo dos olhos de Josefina,aproximou de seu rosto,e beijou-a delicadamente os seus lábios.Ela corou-se de rubros,e ao desfazer de sua timidez,voltou-se para José,e lhe falou cheia de emoções:-José,porque você não traz de vez os seus panos de trapos e se junte aos meus.

José,meio que boque-aberto,abraçou-a com fervor não acreditando no que acabar de ouvir,e sentiu que o seu coração acabava de abrir mais uma vez para aquele colóquio a dois.

Passara-se mais de uma ano.José fizera uma reforma geral naquela fazenda.A vida lhes sorriam,as manhãs lhes eram delirantes.Josefina,uma dia ou outro reclamava de dores no braço e cansaços.José ponderava que deveria ser o cansaço,que deveria amainar a sua lida na fazenda em que ele daria conta do recado.O romance entre ambos os transformaram em dois adolescentes vivenciados nos seus cotidianos.

José,apos um dia exaustivo,chega a tarde,e como sempre o fizera,chama pela Josefina da porta de entrada da fazenda.Neste dia não obtendo respostas,adentra a casa continuando a chamar por Josefina.Ao chegar a cozinha,suas pernas trêmulas,veem Dona Josefina inerte sobre o piso frio de um final de vida.Um calafrio lhe percorre a sua espinha e um tremor invade o seu ser.Ajoelhado ao seu lado começa a gritar pela sua volta,a qual permanece imóvel.Josefina havia deixado aquele pobre homem a qual lhe havia devolvido toda a sua alegria de viver.

José,agora,ajoelha sobre a sepultura de Josefina,deita uma corbelha de flores sobre aquela que lhe proveu a vida novamente de alegrias,cumplicidades,por durante mais de anos.

Agora,em sua velha cabana,no tinir de sua viola,canta os seus desejos de torna-los vivos.Ocasiões em que foi enriquecidos pelos folguedos,o aprazer em se fazer uno a uma pessoa.

Seu formão arranca lascas de uma saudade,enquanto o seu enxó chora sobre a madeira molhada compactuadas as lágrimas que escorrem por uma paixão tolhida tão prematuramente de sua vida.