A florzinha

Havia um jardim onde tudo o que fora bom havia sido arrancado. Era um jardim triste e cheio de retalhos pelo chão e parecia não haver mais como consertá-lo. O jardineiro não sabia o que fazer para reviver aquele jardim que um dia fora o mais belo de todos que já havia visto. Havia uma tempestade. Esta tempestade era muito forte e tirava toda e qualquer chance de sobrevivência do jardim.

A tempestade fora passando, mas ainda assim o jardim estava em seus retalhos e pedaços. Mas, como se algo sobrenatural acontecesse, nasceu uma florzinha. Não, não era uma florzinha qualquer. Esta florzinha era especial. O jardineiro viu ali uma chance de fazer todo o jardim se encher de vida novamente. Fora conhecendo aquela florzinha ao passar dos dias. O jardim fora tendo mais vida, mais cor e mais perfume gradativamente. Não havia no mundo algo mais belo, algo que trouxesse mais alegria, mais perfume e mais amor do que aquela florzinha.

Um certo dia a florzinha decidiu partir. Não, não havia motivos sólidos, ela apenas queria fazer o que achou, naquele momento, ser o melhor. Mas e o jardim? O jardim fora perdendo sua cor, perdendo sua vida, perdendo seu perfume. O jardineiro não sabia mais o que fazer. Plantou, plantou e nada. Nenhuma flor que ele tentava fazer nascer vinha com as raízes certas. Nenhuma tinha as raízes necessárias para trazer vida ao jardim, nenhuma delas traria, jamais, igual trouxera aquela linda florzinha.

O jardineiro então decidira ir atrás da florzinha. Encontrara-a e sentiu que a mesma também sentia falta do jardim e da vida que levava quando por lá estava. Voltara e fizera com que o jardim tivesse vida novamente. De repente a vida que houvera ali já era maior ainda que a vida que havia antes. As cores eram mais intensas, o perfume era mais nobre, havia mais vida desta vez e nem o jardim, nem o jardineiro queriam sentir a dor e a falta da florzinha novamente.

Mas, infelizmente, algo mudou e a florzinha resolvera partir de novo. Não, não era possível viver aquilo novamente. O jardim não aguentaria. Não havia mais forças, não havia mais chance se nada mudasse.

Passara-se algum tempo. O jardineiro não conseguia mais plantar, não havia mais nada que se pudesse fazer com o jardim onde se encontrava. Decidira tentar novamente. Decidira encontrar a florzinha e sabia que talvez fosse a última chance de fazer com que o jardim sobrevivesse. E sim, a encontrou. A florzinha fez morada ali novamente. Suas raízes estavam voltando a dar vida ao solo novamente. Mas algo aconteceu. Existe um vento muito forte cheio de dúvidas e medos querendo arrancar de vez a florzinha do jardim. O jardineiro diz "Não deixe, florzinha! Acredite no amor que você tem pelo jardim. Acredite em tudo o que viveu aqui e lute, deixe que o jardim e eu façamos você enxergar que não há no mundo lugar melhor para você estar do que aqui, em nossos braços, em nosso amor".

Sim, há vontade na florzinha de ficar. Sim, há amor naquela florzinha por tudo o que já viveu. Mas também há medo. Medo de perder o que ela já tem. Mas não, ela não irá perder, irá apenas ganhar mais amor e mais vida. Aquele jardim e aquele jardineiro precisam da florzinha. Juntos, o vento jamais será forte de mais. Fique florzinha, fique. O jardim é mais feliz quando você está por perto. Não, o jardim não precisa de um final feliz. O final ele ignora e deixa para quem quiser, o feliz sim, fica. A felicidade sim, permanece. Fique florzinha, fique: não há lugar melhor do que aqui, neste jardim.

Helton Grunge
Enviado por Helton Grunge em 12/08/2013
Reeditado em 16/02/2016
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