Chovia torrencialmente. Todos os dias daquele gelado inverno terminanvam assim.
Ângela chegou ao ponto de ônibus bem molhada, pois esquecera a sombrinha em casa e cedo quando saiu para o trabalho estava um solzinho fraco, mas querendo firmar.
Mas àquela hora, quase dezoito horas, chovia demais.
Procurou secar-se como pode com a echarpe, mas teve que conformar-se com o resto da roupa, quando nada havia a ser feito.
Nesse instante, o ônibus aproxima-se e Ângela vai ao seu encontro quando esbarra em alguém que também procurava a mesma direção, tentanto safar-se da grossas e frias gotas de chuva. O choque foi inevitável, e Otávio, praticamente a abraçou para que ela não caísse. Os seus faiscantes olhos cor de chocolate guardaram na retina os cabelos de Ângela encaracolados e molhados, emoldurando o seu rosto.
E com um largo sorriso ele desculpou-se e a soltou. A moça, muito sem graça e vermelha, murmurou algo como desculpa e encaminhou-se para a porta da condução.
Buscando um lugar mais na frente, Ângela que saltava no terceiro ponto, foi para o canto.
Seguindo-a calmamente, Otávio aproveitando-se da indecisão de um senhor, sentou-se ao lado da moça.
Durante essa semana, era a terceira vez que a encontrava e sentia um imenso desejo de conhecê-la melhor, mas parecia que Ângela não se dava conta disso.
Dessa vez, contando com a sorte, ele não podia perdê-la de vista.
Tentando tirar umas gotículas do cabelos, ensaiou um sorriso e prontamente desculpou-se pelo "atropelamento" que havia acontecido lá fora.
Ângela, ainda vermelha e tímida, disse que não havia problemas, dando-lhe um pálido sorriso.
Otávio aproveitou o sorriso para alargar o seu, dizendo amenidades.
Aos poucos, a moça foi se tranquilizando e logo estavam num ótimo papo. Tanto que mais um pouco, passava direto do seu ponto.
Despediu-se animadamente de Otávio e desceu em seu ponto.
O rapaz seguiu viagem, ainda pelos dois pontos que faltavam para sua casa, com um lindo e dissimulado sorriso nos lábios. Mas por dentro, o coração estava aos saltos.
No dia seguinte já sem a chuva, lá estavam os pombinhos, ou quase pombinhos, no ponto aguardando o mesmo ônibus.
Otávio, ansioso, iniciou a conversa com perguntas sobre o trabalho, para deixar a moça mais à vontade.
E assim foram seguindo os dias, até que numa oportunidade, teve coragem de perguntar-lhe se podia acompanhá-la até sua residência. Ângela, sorridente, aceitou e desde esse dia são passageiros unidos pela chuva e pelo amor.
Regina Madeira
"imagem do Google"