O sol de ontem brilhava hoje em seus olhos verde-alaranjados. Robert viu o beijo ingênuo que Morgana dera no rosto de Nilmário, quando o menino fez o gol decisivo do campeonato Marista. Quantos anos depois e ela continuava jovem e linda. Tudo estava bem distribuído. Ele teria a paciência que fosse necessária e a coragem que precisasse para conquistá-la. Não era sonho. Era a Morga o sonho capaz de apagar todos os pesadelos de outrora. Não queria pensar no casamento desfeito, nem na saudade do pai que mal conhecera. A vida lhe dera um poema de sete faces. Não só a ele, mas também a muitas pessoas que por sorte ou azar, morrem sem conhecer a primeira face. A face mais cruel que Robert conheceu foi o rosto da mãe desfigurado pelo câncer, o casamento que não aconteceu e o pai que nunca esteve no álbum de família. Eram tantas faces: rostos de luz e de sombras, faces brancas, pretas, amarelas e até um anjo azul soprando cinzas sobre suas lembranças: o Marista, a Quinta da Boa Vista e a menina linda que Morgana sempre foi. O vento brincava nos cabelos cacheados dela e Robert não via o mar. Via Morgana muitas vezes desviar os olhos que se cruzavam com os dele. Ele fazia o mesmo e depois se arrependia. Fugir do olho no olho, da verdade que se abre na janela de um olhar? Tudo que queria dizer não ficou dito, e não diria, a menos que Morgana decifrasse a linguagem das estrelas.